A ascensão de golpes, empresas quebrando e pirâmides financeiras foi um dos principais assuntos de 2019 na comunidade cripto. Ao longo do ano, o Portal do Bitcoin acompanhou e denunciou vários desses esquemas, que deixaram prejuízos estimados na casa dos bilhões de reais e afetaram milhões de brasileiros.
Um levantamento divulgado em dezembro pelo SPC Brasil dá uma ideia do alcance dessas práticas. Segundo ele, um em cada dez brasileiros já caiu em um esquema financeiro fraudulento, com as pirâmides respondendo por mais da metade desses casos (55%).
Boa parte das pirâmides usa as criptomoedas como chamariz principal para atrair investidores, com a promessa de lucros rápidos e volumosos em um curto espaço de tempo. Mas há também esquemas que utilizam outros elementos, como ações na Bolsa e pedras preciosas.
Um aspecto positivo fica pelo fato de que alguns dos maiores esquemas em operação no Brasil já ruíram, enquanto outros veem o cerco se fechar cada vez mais – seja por pressão de afiliados, da Justiça, da mídia, de órgãos de controle como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou mesmo da polícia.
Relembre algumas das empresas que deixaram os clientes na pior em 2019:
Unick Forex
A Unick Forex foi um dos maiores esquemas de pirâmide financeira que ruíram no Brasil em 2019. A empresa sediada em São Leopoldo (RS) dizia atuar no mercado Forex e de Criptomoedas e prometia retornos de até 1,5% ao dia por meio de suas operações.
Desde março de 2018 a empresa estava proibida pela CVM de ofertar investimentos. Para despistar as autoridades, mudou de nome [Unick Academy], mas manteve o esquema piramidal. Os relatos de atrasos nos saques começaram em julho deste ano.
Em 17 de outubro a Unick foi alvo da Operação Lamanai, deflagrada pela Polícia Federal. Segundo as investigações, a Unick tinha cerca de 1 milhão de clientes pelo Brasil e a dívida com essa comunidade chega a R$ 12 bilhões. O site da empresa está fora do ar.
Nove pessoas foram presas, incluindo o presidente da empresa, Leidimar Lopes, e o diretor de marketing Danter Silva – ambos com histórico de participação em outros esquemas financeiros fraudulentos.
Atlas Quantum
Dona de um suposto robô de arbitragem, a Atlas Quantum dizia entregar retorno diário aos seus investidores. Por mês, chegava a render mais de 4%.
Com um ar de legalidade, a empresa anunciava em canais de TVs, eventos, metrôs e aeroportos ao redor do Brasil.
Em agosto, a CVM proibiu a empresa de ofertar investimentos no país sob pena de multa de R$ 100 mil. Desde então, a empresa ruiu segurando milhões de reais e deixando milhares de investidores a ver navios.
A Atlas acumula dezenas de processos pelo Brasil inteiro e recentemente demitiu quase todos os funcionários.
Uma tabela obtida com exclusividade pelo Portal do Bitcoin mostra quase nenhum cliente conseguiu sacar e que o rombo supera os R$ 200 milhões.
Bitcoin Banco
Dono de duas exchanges: Negocie Coins e TemBTC, o Grupo Bitcoin Banco (GBB) deve mais de R$ 600 milhões a clientes, que estão com seus investimentos presos pelo menos desde maio deste ano.
O GBB criou uma espécie de arbitragem infinita, onde os clientes ficavam comprando e vendendo entre suas duas exchanges (de maneira infinita) e gerando altíssimos lucros e um curto período de tempo. Um dos clientes relatou no Portal do Bitcoin ter feito mais de 3.000% em cima do seu investimento, mas perdeu tudo.
Em outubro, alguns meses após o GBB já ter parado de pagar os clientes, a CVM proibiu a empresa de ofertar investimentos sob pena de multa de R$ 100 mil por dia.
Hoje, os sites das duas corretoras se encontram fora do ar e o Grupo Bitcoin Banco conseguiu dar início em um pedido de recuperação judicial.
DD Corporation/DreamsDigger
De acordo com a #OperaçãoFaraó, a DD Corporation – ex-DreamsDigger – foi a mais recente pirâmide a ruir no Brasil. Sediada em Salvador, a empresa fundada por Leonardo Araújo dizia ter cerca 300 mil associados e alegava ser oficialmente uma plataforma de educação sobre o mercado de criptomoedas. No entanto, usava um suposto robô de arbitragem com bitcoin como principal chamariz.
O clássico roteiro de atraso em saques foi seguido de investigação do Ministério Público da Bahia e mudança de nome de Dreams Digger para DD Corporation.
Em dezembro, a DD sacramentou o calote e anunciou que encerraria as atividades no marketing multinível em 31 de dezembro e culpou problemas com uma empresa de TI parceira pelas falhas nos saques.
Além do calote nos afiliados, a DD Corporation também costuma intimidar aqueles que resolvem reclamar publicamente da empresa.
Midas Trend
Mais uma empresa que promete dobrar o capital dos investidores em poucos meses e, sem surpresa, está tendo problemas com saques dos clientes.
A empresa, que já é alvo de processo na CVM, alegou que o motivo do transtorno é o mesmo que aconteceu no caso da Unick Forex, o bloqueio de contas pela Urpay. E se queixou de clientes que reclamam dos atrasos.
No último dia 23, o presidente da empresa, Deivanir Santos, anunciou durante live no YouTube que ia encerrar a venda do “botmidas”, seu robô de arbitragem de bitcoin, para provar que a Midas “não é uma pirâmide”. E afirmou que todas as dívidas com os clientes serão quitadas até o dia 31 de dezembro.
BWA
Comandada pelo empresário Paulo Bilibio, que tem histórico de envolvimento com outra pirâmide financeira, a BWA se dirigia a um público seleto de clientes, uma vez que o aporte inicial em criptomoedas era de R$ 30 mil. Os saques estão travados desde dezembro.
Meses antes, em outubro, começou uma corrida por saques logo após vir à tona a notícia de que Bilibio foi sequestrado por policiais em novembro de 2018. O mandante seria um suposto credor que acusa o dono da BWA de ser o verdadeiro proprietário do Grupo Bitcoin Banco.
Bilibio disse à polícia que hoje vive na Flórida, nos Estados Unidos. Enquanto isso, a BWA segue em dívida com associados e ameaçada de despejo de sua sede, em Santos (SP).
18K Ronaldinho
Alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo por suspeita de pirâmide financeira, a 18K oferece rendimentos de 2% ao dia por meio de operações de “trading e arbitragem” com bitcoin.
É conhecida pela ligação com o ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, que diz não ter mais vínculos com a empresa.
No entanto, Ronaldinho tem sido convocado para depor na comissão especial na Câmara dos Deputados que debate o Projeto de Lei 2303/2015, que visa regular o mercado de criptoativos no Brasil.
Genbit
Há quatro meses sem pagar clientes e na mira da CVM, a Genbit foi mais uma empresa a apelar para uma criptomoeda própria no lugar do bitcoin como proposta para quitar as dívidas.
Em dezembro, a Genbit e outras empresas da Gensa Serviços Digitais, de Nivaldo Gonzaga, se tornaram alvos de uma ação civil pública do Ministério Público de São Paulo, no valor de R$ 1 bilhão.
As autoridades estimam que 45 mil pessoas foram lesadas por companhias pertencentes à Gensa.
Credminer
Empresa mineradora de criptomoedas, com operações no Paraguai, a Credminer tinha a “multiplicação” dos bitcoins como maior chamariz.
Quando o esquema começou a falhar e virou alvo do Ministério Público do Ceará, o negócio montado por Antônio Silva passou por uma metamorfose. Abandonou o bitcoin, adotou uma criptomoeda chamada LQX, mudou de nome para WeHPM e se transferiu para a Alemanha.
A mudança foi tão repentina que deixou confusos até mesmo os afiliados mais fiéis. Empresa diz que mudou “porque o mercado também mudou”.
Indeal
De acordo com a investigação promovida pela Receita Federal e pela Polícia Federal do Rio Grande do Sul, a Indeal chegou a captar R$ 850 milhões no período de um ano, mas deixou um rombo de R$ 300 milhões. Mais de 55 mil pessoas foram prejudicadas.
A empresa, alvo da Operação Egypto, foi investigada por captar, sem autorização do Banco Central, recursos de terceiros para investimento no mercado de criptomoedas e prometer retorno de, pelo menos, 15% no primeiro mês de aplicação.
Seus sócios chegaram a ser presos e atualmente cumprem medidas cautelares impostas pela Justiça.
Investimento Bitcoin
Anunciada em emissoras de televisão por apresentadores como Rodrigo Faro e José Luiz Datena, a Investimento Bitcoin seduzia clientes com promessa de 500% a 600% de retorno sobre investimentos em criptomoedas.
A propaganda e oferta agressivas colocaram a empresa não só na mira da CVM, mas também do Conar, conselho que regula propagandas no pais.
Ao mesmo tempo, desde julho pipocavam denúncias de falta de pagamento da empresa a seus clientes. Desde dezembro a Investimento Bitcoin está proibida pela Justiça de captar novos investidores.
Outros esquemas
Anubis Trade – vendida à Atlas Quantum em uma transação surpresa em 26 de setembro, em valores mantidos sob sigilo, a Anubis Trade deu calote em seus clientes horas depois do anúncio. Sem qualquer solução apresentada pela empresa, investidores cogitam procurar o Judiciário para resolver o problema.
Vik Traders – a empresa, que diz ter sede na Colômbia, foi citada como exemplo de pirâmide financeira em uma reportagem veiculada pela Rede Globo do Distrito Federal. A matéria cita que o negócio prometia lucros de até 3% ao dia com bitcoin. A plataforma é alvo de reclamações no Reclame Aqui desde julho por atrasos em pagamentos.
MyAlice – A empresa, que dizia realizar trades para dar rendimento aos clientes, sumiu com mais de 100 BTC dos clientes. O responsável pela empresa, Diego Vellasco é inclusive acusado pelos ex-sócios de ter aplicado golpe neles também. Meses depois, e sem devolver a grana de ninguém, Vellasco inaugurou uma casa noturna em MG.
Opus Investimentos – prometia um verdadeiro “eldorado”, com retornos de 30% a 35% ao mês em planos com metais e pedras preciosas. Liderada pelo empresário Guilherme Baptista, ligado ao setor cosmético, a Opus começou a apresentar problemas de pagamentos poucos meses após sua fundação, em abril deste ano. Em dezembro, Baptista declarou a seus afiliados que não tinha mais dinheiro para remunerar os investimentos.
PlayWorld – Fundada em 2017, a PlayWorld chegou a ter um youtuber gospel como divulgador – que meses depois se disse arrependido do apoio. Abrangendo especialmente o estado do Espírito Santo, o esquema ruiu em meados de 2019. Seu idealizador, Celso Luiz da Silva Júnior, que já tinha passagens na polícia por porte de arma, está sendo processado pelo Ministério Público capixaba por estelionato.
Krypton Unite – Esquema debelado em dezembro após operação da Polícia Civil no Paraná, a Krypton Unite é acusada de ter captado R$ 1,5 bilhão em operações com bitcoin por meio de troca de mensagens via e-mail e WhatsApp. Um de seus líderes é Daniel Kaminski, que se encontra foragido e dizia ser cofundador do Ethereum Classic, além de usar o codinome “Prophet” [Profeta] Daniel.
All Invest – sediada em Goiânia, a All Invest dizia operar com investimentos na Bolsa de Valores. Seu lance mais conhecido foi o calote de R$ 7 milhões que deu na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) após patrocinar a Copa Verde, no começo de 2019. A empresa, que desde agosto é alvo de reclamações por atrasos em pagamentos, também está na mira do Ministério Público de Goiás por suspeita de ser pirâmide financeira.
Wish Money – empresa que chegou a ser divulgada pelo apresentador Amaury Jr., a Wish Money prometia investimentos com rendimento diário de até 2,1% em bitcoin. Entrou em colapso depois de não cumprir o que havia prometido aos associados, levando a uma corrida de saques. A empresa diz que vai pagar investidores apenas em janeiro de 2020, por meio de uma criptomoeda chamada de Wishcoin.
Binary Bit – a empresa prometia ganhos de 1,5% ao dia — o que superava 300% ao ano — por meio de operações com criptomoedas. Investigada pela CVM, a empresa teve a ousadia de usar o nome do órgão regulador para tentar transmitir credibilidade. Em outubro, clientes da empresa chegaram a cercar a casa de Rodrigo Toro, fundador do esquema, para cobrar pagamento.
Profitmon, Star Forex e Toro Bity – o trio de empresas era promovido no estado de Sergipe pela mesma pessoa, Maurício Henrique dos Santos, acusado de aplicar golpe de R$ 17 milhões através pirâmides financeiras cujo atrativo era o bitcoin. Ele foi preso pela polícia sergipana em agosto.
HPX Cripto – A HPX Crypto tinha um plano que prometia mais de 4% ao dia de rendimentos sobre o valor investido. Segundo reportagem da TV Record em outubro, a plataforma desapareceu depois de aplicar calote em cerca de 5.000 pessoas. Negócio usava youtubers como promotores, que mais tarde se disseram também vítimas do esquema.
A2 Trader – Criada por Kleyton Alves em janeiro deste ano, a A2 Trader começou oferecendo pacotes de investimentos com rendimento de 60% em apenas 40 dias. Na mira da CVM, Alves encerrou as atividades da A2 em 5 de novembro, sem aviso prévio, por meio de vídeo no Instagram. Revoltados, clientes saquearam a sede da empresa, em Natal.
Wolf Trade Club – denunciada pela CVM em julho, a Wolf Trade Club foi mais uma empresa que virou alvo de ação da Polícia Civil em Curitiba, em outubro. Dois dos sócios da empresa foram presos na época. Com promessa de retornos de 30% sobre investimentos, deixou um prejuízo estimado em R$ 30 milhões.
Trader Group – fechada pela Polícia Federal em maio, durante a Operação Madoff, a Trader Group dizia administrar investimentos com criptomoedas e prometia retornos que chegavam a 20% ao mês. Quatro meses depois de sair do ar, foi proibida de atuar no Brasil pela CVM.
FX Trading/F2 Trading – depois de encerrar operações no Brasil em junho, dando calote em investidores, a FX Trading mudou de nome para F2 e foi relançada no mês seguinte, em Dubai. Começou a captar clientes também em Portugal e virou alvo das autoridades do país europeu – onde atingiu cerca de 8 mil pessoas. Segundo a Polícia Federal, seu criador, o paranaense Philip Han, construiu sua vida de luxo e carreira por meio de outros esquemas fraudulentos.
JJ Invest – empresa que já patrocinou o Vasco da Gama e até o atacante Neymar, a JJ Invest desapareceu em fevereiro deste ano, dando calote total de R$ 1,5 milhão em 3.300 pessoas. Seu presidente, Jonas Spritzer Amar Jaimovick, tem paradeiro desconhecido.
Miner – empresa que deu calote estimado em R$ 10 milhões só no estado do Ceará, a Miner encerrou suas atividades em agosto. Ela dizia gerenciar um total de R$ 120 milhões em investimentos e alegava ser credora da JJ Invest, esquema fraudulento que desapareceu em fevereiro.