Suspeitos de integrar milícia são presos em AL por sequestro motivado por pirâmide financeira
Foto: Shutterstock

*A reportagem foi atualizada após a publicação.

O mercado brasileiro de criptomoedas se encontrou com o de startups e, juntos, entraram para as páginas policiais. O depoimento à Corregedoria de São Paulo de P.R.R.B, empresário do ramo de Bitcoin de Santos, que foi extorquido por policiais, ilustra o atual momento.

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No documento obtido pelo jornal Estado de São Paulo, P.R.R.B narra os encontros e negociações iniciais com Guilherme Aere dos Santos, fundador da startup Home Refill. Na época, Santos era um investidor; mais tarde, seria o acusado de orquestrar um crime.

Conforme o depoimento, a primeira reunião foi em novembro de 2018. O empresário de Santos diz que Guilherme havia feito uma compra de criptomoedas usando a tecnologia de arbitragem da BWA por meio de uma empresa chamada Calegari.

Mais tarde, em novembro de 2018, o jovem do mundo das startups investiu R$ 3 milhões. O dinheiro foi sacado uma semana depois com um lucro, segundo o relato, de quase R$ 100 mil.

O empresário de Santos afirma que, a partir de então, as relações comerciais com a empresa se encerraram, pois houve o pedido de transferência dos fundos para a exchange NegocieCoins, do Bitcoin Banco.

A partir de então Guilherme começou a realizar o famoso giro infinito entre as corretoras TemBTC e NegocieCoins junto com os sócios Diego André Martins e Kaio Gomes. “Nestas operações de arbitragens realizadas por eles, o valor que era de R$ 4,6 milhões virou R$ 24 milhões”, diz o relato.

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Segundo Martins, nem ele nem Gomes foram sócios: “O que fizemos foi apresentar a BWA e o GBB para Guilherme”.

P.R.R.B afirma também que houve um acordo de confissão de dívida da ordem de R$ 10 milhões por parte do GBB com Guilherme e que os problemas desta empresa tinham acontecido por causa de uma fraude.

Meses depois, em julho, ele diz ter sido convocado para uma reunião para atender um cliente de Guilherme. Nas proximidades do local, ele foi parado por policiais civis, que apontaram suas armas para ele.

“É o P. mesmo, a casa caiu para você”, relatou ter escutado. A seguir o enfiaram dentro de um carro Hilux.

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Diz o depoimento: “Perguntei o que tinha feito para ser preso, e a primeira resposta diz que eu era um golpista e que meus clientes estavam insatisfeitos com meus serviços”.

Entre outras acusações, segundo o relato, os policiais disseram que P.R.R.B era o verdadeiro dono do Bitcoin Banco, sendo Claudio Oliveira um mero laranja. O empresário de Santos negou.

O empresário afirma que foi levado até a 73ª DP, em Jaçanã, na zona norte da capital paulista. No caminho, dada a distância do centro, ele achou que iria ser morto.

Na DP, o sócio da BWA sofreu torturas psicológicas. Lá ele chegou a falar por telefone com Guilherme, acusado de ser o mandante do crime. Discutiram aos berros e um policial terminou a ligação.

Quando alguém comentou que P.R.R.B teria que pagar duas parcelas de R$ 1 milhão aos policiais, ele conta ter fechado na hora. Depois disse que precisaria de tempo para conseguir levantar todo o dinheiro.

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Com o tempo, ele começou a ganhar a confiança dos policiais e chegou a beber uísque com energético — pagos por ele — com os sequestradores. Aos poucos, narra o empresário, os policiais começaram a mudar de simpatia do mandante do crime para o alvo.

Como já era tarde da noite, era difícil levantar todo o dinheiro, o que estava sendo feito pelo sócio de P.R.R.B. Ficou acordado então que seria entregue uma parcela de R$ 450 mil naquela noite e mais R$ 550 durante a sexta-feira. O outro R$ 1 milhão viriam na segunda.

Após o primeiro pagamento, o empresário foi liberado. O segundo depósito foi entregue diretamente na 73ªDP. Opondo-se aos conselhos do próprio advogado, ele se negou a denunciar por medo do que poderia acontecer em uma possível vingança.

No domingo, porém, houve um incidente no shopping envolvendo até mesmo um policial que depois P.R.R.B descobriu ser da Rota. Na segunda, o sócio da BWA disse aos policiais que não pagaria o restante, pois coisas estavam “complicadas”.

Enquanto isso, Guilherme continuava pressionando para receber. Nesse momento, conforme o relato do empresário, ele chamou o que disse ser “o outro advogado da empresa Rafael Steinfeld”, nome conhecido no mercado brasileiro de criptomoedas, para ajudar nas negociações.

P.R.R.B e sua equipe de advogados, que incluía dois ex-policiais federais, marcaram um encontro com Guilherme no shopping Cidade Jardim com a promessa de que assinariam um contrato no valor de R$ 18 milhões. Conforme o relato, desde o início a intenção era não assinar nada, visto que aquela dívida não era reconhecida.

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O empresário alegou que demorou para fazer a denúncia à Corregedoria pois desenvolveu uma síndrome de Estocolmo em relação aos sequestradores. Agora ele está em Orlando, nos Estados Unidos, com a família, onde diz ter conseguido autorização do governo americano para trabalhar com criptomoedas e com casa de câmbio.

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