Dois aviões riscam com fumaça para cima o B de bitcoin
Foto: Shutterstock

Dentro de aproximadamente 365 dias deve ocorrer um evento quadrienal no Bitcoin (BTC) chamado halving, que reduz a distribuição de novas moedas pela metade e foi programado por Satoshi Nakamoto na criação deste software que mudou o mundo nos últimos 15 anos.

Desde que o primeiro bloco de Bitcoin foi acrescentado à primeira blockchain de criptomoeda, o software já executou três halvings — e o próximo deve ocorrer por volta do dia 12 de maio de 2024, segundo previsão do NiceHash.

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O que é o halving do Bitcoin e por que ele existe

Quando Satoshi Nakamoto decidiu criar o “Bitcoin, um sistema de dinheiro eletrônico ponto a ponto”, ele precisou decidir como faria a distribuição das moedas deste sistema. “Quem receberia”, “quanto receberia” e “com que frequência receberia” eram perguntas que precisavam ser respondidas.

O criador do Bitcoin resolveu o quebra-cabeça através da mineração que, ao mesmo tempo que executaria a função de manter a segurança da rede através do Proof-of-Work, também recompensaria estes “trabalhadores” com a distribuição programada da moeda, segundo o “trabalho” que pudesse ser “provado” (prova de trabalho, traduzindo proof of work).

Desta forma, ficou estabelecido que: a cada bloco descoberto e acrescentado à blockchain, o minerador liberaria para si uma quantidade em BTC chamada coinbase.

Apesar de ser considerado um evento quadrienal (de quatro em quatro anos), o halving possui uma cronologia diferente da medida pelas fases da lua no calendário gregoriano. Ele é medido por blocos confirmados na blockchain.

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Satoshi Nakamoto programou o código do Bitcoin para que a quantidade de moedas liberadas em cada bloco através da coinbase fosse reduzida pela metade sempre que 210.000 blocos tivessem sido minerados.

A “redução pela metade” é o que chamamos de halving (tradução literal do inglês).

Mas o trabalho não parou por aí e foi determinado que cada bloco deveria ser descoberto em um intervalo médio de 10 minutos. Claro que isso não é nenhuma ciência exata, pois o trabalho de mineração não pode ser limitado por nenhuma entidade central.

Existem blocos que são descobertos efetivamente no mesmo segundo — algumas vezes gerando blocos vazios, sem transações além da coinbase — e existem blocos descobertos em intervalos superiores a uma hora, mas o ajuste de dificuldade da mineração ocorre toda semana para manter a média dos 10 minutos.

Desta forma, os 210.000 blocos, normalmente, ocorrem dentro do intervalo de quatro anos no calendário gregoriano.

O quarto halving da história do Bitcoin está programado para ocorrer na altura de bloco 840.000 e é possível fazer algumas previsões aproximadas de quando o evento será efetivado em nosso calendário, mas essa data pode mudar até chegada a hora.

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Com a redução pela metade a cada 210.000 blocos, Satoshi Nakamoto garantiu um limite matemático fixo para a emissão e distribuição de novas moedas em pouco menos de 21 milhões — diferenciando o Bitcoin de qualquer outra moeda ou sistema de dinheiro que haviam sido criados antes dele.

No ciclo atual, a recompensa de mineração é de 6,25 BTC por bloco minerado e em um ano será reduzida para 3,125 BTC.

As consequências do halving

A única consequência do halving é a redução da recompensa de bloco paga ao minerador “da rodada”. E a inevitável conclusão da distribuição total de Bitcoin, que deve ocorrer em pouco mais de um século.

Todas as outras “consequências” são baseadas no estudo da teoria dos jogos, derivadas dessa realidade.

A “consequência” mais falada no mercado é a de que “o preço do BTC sobe com o halving, mas não existem garantias matemáticas de que isso realmente ocorra. O co-fundador da Huobi acredita que o próximo mercado de alta será em 2024, impulsionado pelo halving.

O preço do Bitcoin é determinado por quanto cada investidor, trader ou usuário concorda ao decidir pela compra e venda do criptoativo. Então existem índices de preço que acompanham as milhares de negociações ocorrendo ao mesmo tempo em exchanges e plataformas de troca e apresentam a “cotação atual”.

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A prática da arbitragem, comprar mais barato em um mercado para vender mais caro em outro lugar é o que ajuda a manter a cotação “universal”.

O preço, por sua vez, é definido pela relação entre oferta e demanda: oferta indica a quantidade disponível para venda; enquanto demanda indica a quantidade de intenção de compra.

Se a oferta (ordens de venda) aumenta mais do que a demanda (ordens de compra), o preço tende a cair em um leilão reverso, com vendedores aceitando um preço menor pelo seu BTC para concluir a negociação. E o inverso também é verdade.

O efeito econômico do halving sobre o preço do Bitcoin

O que o halving faz aqui é reduzir pela metade a quantidade de novas unidades de Bitcoin que passam a estar disponíveis para venda (a oferta). Então, caso a demanda aumente, se mantenha a mesma ou diminua em uma menor proporção, o preço tende a subir.

A mineração é uma atividade de alto custo que envolve a aquisição e manutenção de equipamentos especializados (ASICs), alto consumo energético e grandes instalações físicas. A Universidade de Cambridge estima que, com a hashrate atual, cada BTC minerado custe em média US$ 30 mil.

Desta forma, ao reduzir o total de novos BTCs “pagos” aos mineradores, diminui-se também o possível aumento da oferta de venda que pode derivar da manutenção das empresas de mineração.

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O que acontece no mercado, é que os especuladores tentam precificar o “valor futuro” do ativo, com base em fundamentos econômicos como o halving — podendo criar uma dinâmica de preço baseada em eventos.

Lucas Passarini, trader do Mercado Bitcoin explicou para o Portal do Bitcoin que, por esse motivo, o evento é de “extrema importância nas estratégias de exposição ao BTC”.

“Embora existam muitas discussões em torno de como essa dinâmica pode ser afetada a cada novo halving, o histórico mostra que um dos melhores momentos de se expor ao BTC são os períodos mais próximos desse evento.”

— Lucas Passarini (MB)

Historicamente falando, todos os halvings anteriores foram marcos relevantes de preço, antecedendo altas. Abaixo, a data de cada halving e a variação aproximada de preço até o próximo “topo local”, respectivamente:

  • Primeiro halving: 28 de novembro de 2012 (+9.000%).
  • Segundo halving: 09 de julho de 2016 (+3.000%).
  • Terceiro halving: 11 de maio de 2020 (+1.000%).
Gráfico do Bitcoin em relação ao dólar com velas de um mês, apontando os três halvings anteriores e suas respectivas valorizações até o próximo topo de preço.
Fonte: TradingView por Vini Barbosa

O Portal do Bitcoin conversou com Paulo Boghosian, Head de Research da TC Pandhora Digital Assets: “Os eventos de halving historicamente tiveram bastante importância na dinâmica de preços do Bitcoin devido a um efeito de escassez de moeda que ocorre quando você diminui a emissão de moeda pela metade.”

No entanto, Paulo explica que os efeitos no preço do BTC tiveram mais relevância no passado. Isso porque a proporção de redução da inflação da moeda diminui conforme o tempo passa. O líder de pesquisa também acredita que o “efeito do próximo halving” será mais “psicológico e de narrativa do que prático”.

“O efeito do halving era mais relevante no passado quando a taxa de inflação do ativo era mais alta. Por exemplo, no halving de 2016, a inflação monetária do Bitcoin foi de cerca de 8% para cerca de 4%, uma mudança considerável. Atualmente a inflação monetária do Bitcoin está em torno de 1,7%, o que significa que o próximo halving trará um impacto de menos de 1% na inflação monetária do ativo.”

— Paulo Boghosian, Head de Research na TC

O especialista em criptoativos concluiu sua análise dizendo que, conforme o halving perde relevância nas dinâmicas econômicas, devemos olhar para outros fatores fundamentalistas que permeiam o Bitcoin.

Apontando para a adoção global da moeda como um ativo mainstream e variações macroeconômicas como mais importantes na definição dos ciclos e tendência de preço para o BTC.

Halving e a mineração como negócio

Por outro lado, o halving afeta diretamente as receitas dos mineradores, efetivamente cortando o faturamento em BTC pela metade a cada quatro anos.

De um ponto de vista da “mineração como negócio”, a redução de recompensas pela metade pode oferecer um grande desafio administrativo, em alguns casos levando até mesmo ao fechamento de mineradores com maiores custos ou mais dificuldade de acesso ao capital.

Com menos mineradores capazes de manter o negócio funcionando, a rede poderia centralizar sua produção de blocos em um número menor de participantes, o que, efetivamente, diminuiria a descentralização.

Atualmente, 55% de toda a hashrate e produção de blocos está concentrada em duas grandes “pools de mineração”: Foundry USA e AntPool, cada uma com 31,66% e 23,89% respectivamente. Que funcionam como grandes cooperativas voluntárias de mineradores que se juntam para aumentar a previsibilidade de receita.

Pools de mineração com produção concentrada na Foundry USA e AntPool, cada uma com 31,66% e 23,89% respectivamente.
Fonte: mempool.space

Ao compreender que a mineração é um negócio cujo objetivo é manter a rede segura sob incentivos financeiros diretos, alguns analistas traçam paralelos entre a diminuição da receita dos mineradores com uma perda de segurança na rede.

A casa de análise Messari levantou a hipótese que o evento deixaria o Bitcoin mais vulnerável para um “ataque de 51%”, no último halving. Também chamado de “ataque da maioria”, esse ataque pode ocorrer quando uma pessoa ou pool de mineração domina mais da metade da capacidade de mineração do bitcoin.

Em uma análise mais recente, a entusiasta de criptomoedas, Mira Hurley, publicou uma thread onde ela observa dados que “não parecem bons” — comparando o “gasto anual com segurança” com a capitalização de mercado do BTC — apontando uma diminuição dos números relacionados com segurança em relação ao valor do criptoativo.

A entusiasta considera a receita dos mineradores como os “gastos anuais com segurança” e atenta para que essa receita é, em dólares, cada vez menor que a capitalização do Bitcoin.

Segundo a análise, isso poderia criar oportunidades muito lucrativas de ataques de maioria, somados com a abertura de posições vendidas (short positions, no inglês), ao considerar um custo de ataque relativamente baixo pelo “prêmio” possível.

https://twitter.com/mira_hurley/status/1648624743589740545

Outra possível consequência pós-halving é o aumento da taxa de transação na rede, já que as taxas de transações são uma alternativa de receita para manter os investimentos em segurança.

Neste gráfico da MacroMicro, observamos um aumento significativo do custo total de produção do Bitcoin (custo de mineração) em comparação com a capitalização de mercado. O custo de produção parece subir em uma tendência constante, mesmo com os desafios de desvalorização de preço no curto prazo.

Gráfico comparando a capitalização de mercado do Bitcoin em cerca de meio trilhão de dólares, com o custo de produção por BTC em cerca de 30 mil dólares.
Fonte: MacroMicro por Vini Barbosa

Após o halving de 2024, as recompensas sobre estes custos serão cortadas pela metade. O que poderá forçar os mineradores a buscarem um aumento de receita suficiente em outras áreas (como nas taxas), para manter a viabilidade do negócio.

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