Imagem da matéria: Mexeu com um, mexeu com todos: Confira as "torcidas organizadas" das principais criptomoedas
(Foto: Shutterstock)

O setor de criptomoedas é dividido em dezenas de pequenos grupos, cada um com seu nicho. Cada criptomoeda criada possui sua comunidade devota de investidores, defensores e promotores que trabalham para aumentar o valor de seu token escolhido e pavimentar o caminho para a adesão em massa.

Quando o assunto são moedas de grande capitalização e tokens, como o bitcoin (BTC), ether (ETH) e chainlink (LINK), essas comunidades podem crescer tanto que usam seu poder coletivo para mobilizar e influenciar o desenvolvimento e as políticas do ativo.

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Nesse processo, eles acabam reunidos em verdadeiros exércitos digitais identificados com ideologias próprias de cada criptomoeda, que defendem de forma ferrenha dos rivais – quase como se fossem torcidas organizadas do futebol. Confira alguns dos mais conhecidos, com uma breve descrição das táticas que usam para atingir seus objetivos.

1. Maximalistas de bitcoin

“Só tenho olhos para o bitcoin” (Imagem: Shutterstock)

Maximalistas são os mais barulhentos, militantes e, de alguma forma, os mais geopoliticamente influentes dentre todos os grupos cripto. Acreditam que o bitcoin seja o único ativo útil na esfera cripto (afinal, foi o primeiro de todos) e que todo o restante é uma fraude e deve ser ignorado.

Jack Dorsey, o fundador e ex-CEO do Twitter; Michael Saylor, CEO da MicroStrategy; e Nayib Bukele, presidente de El Salvador, são alguns exemplos.

Para os maximalistas, o bitcoin é um ativo genuinamente transformador e revolucionário que funciona como uma “reserva de valor” sem censura para pessoas que viram sua riqueza ser destruída por políticas ou regimes governamentais hiperinflacionários (como o Federal Reserve dos EUA) que presidem com moedas “fiat” (ou fiduciárias”) que são impressas desenfreadamente.

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Assim como ouro, o bitcoin possui um fornecimento limitado e não pode ser manipulado por um intermediário e os maximalistas de bitcoin, também chamado de “maxis”, acreditam que o ativo é uma expressão digital da teoria econômica de “moeda forte” (ou “hard money”) do liberal Friedrich Hayek.

Tratam Satoshi Nakamoto, o pseudônimo inventor do bitcoin, com uma reverência religiosa e argumentam por um novo “padrão-bitcoin” (que também é o nome de um livro escrito pelo acadêmico e maximalista Saifedean Ammous), às vezes em conjunto com um estilo de vida que é contemplativo e regrado e, supostamente, em contraponto ao consumo desenfreado do Mundo Fiduciário: Sem caloria, sem óleos de semente, sem objetivos transitórios a curto prazo, sem promiscuidade — apenas a acumulação infinita e contínua de bitcoin.

Táticas

Muitos maximalistas de bitcoin são veteranos investidores da criptomoeda e consideram ser uma tarefa divina menosprezar cada outro segmento do mundo cripto, acreditando que seja uma distração prejudicial à causa do bitcoin.

Geralmente trabalham para expor esquemas e criticar o que consideram como falhas em outras criptomoedas, como o Ethereum, e você os verá em comentários no Twitter de qualquer figura pública, como Donald Trump e JK Rowling, que fizer menção ao bitcoin — elogiando-as se apoiarem o criptoativo, castigando-as ou tentando “educá-las” se o criticarem.

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Grande parte de sua defesa vem na forma de tuítes afirmativos e proverbiais (“Fiat é gastar dinheiro; bitcoin é economizar dinheiro”) e memes sinalizando adesão ao grupo — como os olhos de raio laser em muitos perfis no Twitter. Recentemente, ajudaram a persuadir o presidente Bukele a implementar o bitcoin como moeda corrente em EL Salvador.

Ditos comuns dos maximalistas de bitcoin 

– “Stack sats” = “acumule sats” (“sats” ou “satoshis” são pequenas frações de bitcoin);

– “Have fun staying poor” = “divirta-se continuando pobre”);

– “digital gold” = “ouro digital”;

– “don’t trust, verify” = “não confie, verifique”.

2. “XRP Army” (ou “Exército XRP”)

“Essas moedas vão te proteger da praga das fiduciárias” (Imagem: Shutterstock)

O XRP Army é o primeiro grande coletivo original do Twitter, um que gerou milhares de imitadores.

É centrado em torno da criptomoeda XRP (só não a chame de “ripple”, pede a Ripple), antes o terceiro maior ativo, cujo plano técnico dos desenvolvedores era substituir o sistema bancário e internacional de pagamentos, ganhou um enorme grupo de admiradores.

O XRP era, e ainda é, controverso, tendo atingido um auge em 2017 antes de sofrer uma longa e lenta queda, bem como se envolver em um caso demorado de fraude de valores mobiliários aberto pela Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos EUA (ou SEC).

O XRP Army tem como objetivo combater os intermináveis fluxos do que acredita serem desinformação sobre seu ativo de escolha, além de afirmar o valor do XRP.

À medida que a classificação do XRP entre os maiores criptoativos caiu ao longo dos anos, muitos de seus seguidores seguiram em frente. Além disso, as mobilizações desse grupo estão menos relevantes e frequentes.

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Táticas do XRP Army

O XRP Army era bastante presente no Twitter e na rede Reddit e se acabou resultando em uma confraria de influenciadores bastante populares, como Tiffany Hayden (que já abandonou esse barco) e XRP_Trump, que só aparecia nos comentários de literalmente qualquer pessoa que questionasse o valor do XRP (ou omitisse a menção ao XRP em um artigo específico ou blog) e apresentar estatísticas e hyperlinks infinitos, bem como anúncios de grandes parcerias e clipes de seu grande líder: Brad Garlinghouse, CEO da Ripple — também tratado como uma figura quase religiosa.

O XRP Army também era conhecido por sua estratégia de “brigading” em uma discussão nas redes sociais, que envolve a convocação de camaradas bem conhecidos que, por sua vez, atraíram centenas (senão milhares) de apoiadores para discursar e até mesmo assediar o alvo.

Isso gerou controvérsias, como “doxxing” (a exposição de informações pessoais e privadas) e ameaças de morte. A escala da resposta do XRP Army a qualquer crítica era tamada que muitos suspeitavam que seus membros eram robôs pagos pela própria Ripple, mas isso nunca foi comprovado.

Ditos comuns do XRP Army 

Gritar “FUD!” (abreviatura de “medo, incerteza e dúvida”) em qualquer comentário que questione o valor do XRP.

3. “LINK Marines” (ou “fuzileiros navais do LINK”)

Fãs de LINK defendem melhor a tecnologia e sempre se informam sobre novos recursos em vez de apenas brigarem nas redes sociais (Imagem: Shutterstock)

Os “LINK Marines” são um grupo sucessor mais sofisticado e bem-sucedido do XRP Army. Assim como os defensores do XRP, são um grupo de fanáticos que investiram em um ativo tecnicamente complicado — desta vez, Chainlink, o serviço de oráculos desenvolvido no Ethereum, que conecta blockchains com dados do mundo real e fora da blockchain.

Esse grupo tem um senso de humor sobre si mesmo, ironicamente usando títulos militares como “brigadeiro” e “marechal”. Seu representante mais popular é o “brigadeiro-general” Chainlink_God, um anônimo estudante americano de Ciência da Computação.

Os LINK Marines surgiram no famoso e selvagem fórum /biz/ no 4chan, onde um anônimo e misterioso publicador, conhecido apenas como “Assblaster”, que afirmava estar envolvido com a Chainlink, iria publicar longas descrições sobre a tecnologia da empresa.

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Reza a lenda que os habitantes do fórum /biz/, conhecido por dissecar pretensiosos projetos de tecnologia, não conseguiram criticar a tecnologia da Chainlink.

Em 2020, quando projetos de Finanças Descentralizadas (ou DeFi) desenvolvidos no Ethereum ficaram absurdamente populares e Chainlink, junto com seu token LINK, foram amplamente usados, o valor do token e a importância do “Chainlink Army” dispararam.

Táticas dos LINK Marines

Embora esse grupo seja conhecido por realizar as mesmas táticas implementadas pelo XRP Army, como “brigading” e “doxxing”, o sucesso da Chainlink ao longo dos anos os deixou mais calmos e confortáveis.

Muitos deles preferem interagir com o mundo externo de uma maneira mais informativa, escrevendo longos artigos no Medium sobre, digamos, o caminho da Chainlink à adesão em massa ou soluções para diversas dificuldades técnicas.

Marines ficaram cada vez mais integrados à comunidade cripto/Ethereum, diferente dos membros do XRP Army, que geralmente eram tratados como párias.

Ditos comuns dos LINK Marines

“Didn’t read; never selling” = “não li o que você disse; nunca vou vender [meus tokens LINK]”.

Menção honrosa: Bored Ape Yacht Club

O Bored Ape mais barato pode custar até R$ 2 milhões (Imagem: Shutterstock)

Holders dos onipresentes (e extremamente caros) tokens não fungíveis (ou NFTs) da coleção Bored Ape Yacht Club (ou BAYC) e membros de diversas organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs), como a ApeDAO, geralmente podem ser encontrados em servidores no Discord apenas acessíveis por eles.

Táticas: Publicação afirmativa sobre as vantagens de fazer parte da comunidade dos Bored Apes, além de acabar com golpistas que tentam promover NFTs falsos a preços inflacionados.

Menção honrosa: “Cardano Army”

Cardano é uma das redes chamadas de “Ethereum Killers”, que tentam solucionar alguns pontos de falha da segunda maior blockchain do mundo (Imagem: Shutterstock)

O “Cardano Army” são os investidores em ADA, da rede Cardano, adversária do Ethereum, e desenvolvida por acadêmicos que realizam uma revisão de ponto a ponto.

Táticas: Defender a reputação do irritadiço fundador Charles Hoskinson (um dos cofundadores do Ethereum), figura tagarela e sincera que geralmente é criticada e está na defensiva.

Menção honrosa: Bitcoin Satoshi Vision

Bitcoin Satoshi Vision (BSV) é um derivado do Bitcoin Cash (BCH) que é um derivado do Bitcoin (BTC)… Ambos os derivados afirmam ser o “Bitcoin original”… (Imagem: Shutterstock)

Seguidores de Craig Wright — o australiano cientista da computação e autoproclamado inventor do Bitcoin — afirmam que bitcoin satoshi vision (BSV), a bifurcação da bifurcação do Bitcoin, é o único que cumpre com o propósito original do protocolo.

O grupo se une em torno do jornal pró-BSV CoinGeek e no Twetch, uma rede social inspirada no Twitter, mas desenvolvida na blockchain BSV.

Táticas: Bater de frente com maximalistas de bitcoin sobre qual é o “verdadeiro” bitcoin, desenvolver aplicações no ecossistema BSV, apresentar e depender de contrapontos para novas histórias sobre os inúmeros processos legais de Wright.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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