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Glaidson Acácio dos Santos, mais conhecido como Faraó do Bitcoin (Foto: Reprodução)

Há exatamente três anos, o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó do Bitcoin, foi preso em sua residência na Zona Oeste do Rio de Janeiro pela Polícia Federal. No interior da casa do dono GAS Consultoria, suposta empresa de trading de criptomoedas, os policiais encontraram barras de ouro, muito dinheiro e Bitcoin.

Na época, o esquema GAS havia deixado milhares de investidores no prejuízo, enganados pela pirâmide financeira que usava criptomoedas como chamariz para prometer retornos de 10% ao mês em investimentos.

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O que os investidores não sabiam é que o esquema comandado por Glaidson e sua esposa Mirelis Diaz Zerpa repetia o mecanismo de tantos e tantos golpes que ocorreram no passado. Não se trata de Bitcoin — é somente a construção da ilusão, como foi com Minerworld, Unick Forex, Atlas Quantum e tantos outros golpes.

Após denúncias, apreensoẽs suspeitas e investigações, Glaidson foi acusado de crime financeiro e também por homicídio e tentativa de homicídio.  

Relembre agora os episódios mais importantes de um dos maiores casos de pirâmide financeira no Brasil

GAS ‘toma conta’ de Cabo Frio

Boa parte do livro  ‘Queda Livre, a história de Glaidson e Mirelis’, escrito por Chico Otávio e Isabela Palmeira, descreve como a GAS Consultoria floresceu: na comunidade neopentecostal da cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. 

“A teoria da prosperidade exerce um papel fundamental em toda essa história”, diz o jornalista. Ele se refere a uma tese forte entre segmentos evangélicos de que seria o desejo de Deus que os fiéis enriqueçam e acumulem bens. 

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“Chegou o momento que não havia mais condições de alguém ficar fora disso. Ou você estava dentro, ou você estava excluído de um sistema que era o motor central da economia de Cabo Frio”, aponta.

O sucesso do empreendimento foi tão avassalador que Glaidson e Mirelis começaram a incomodar a Igreja Universal do Reino de Deus, onde ambos trabalharam antes de começarem a pirâmide financeira.  Vale lembrar que o Faraó do Bitcoin foi pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.

Glaidson Acácio dos Santos e Mirelis Zerpa
Glaidson Acácio dos Santos e Mirelis Zerpa (Foto: Reprodução/Instagram)

Uma máxima poderia até ser considerada naquele momento: “O dólar pode cair, o Bitcoin desabar que não tem problema: a galinha da GAS põe apenas ovos de ouro.

“Os fiéis começam a ver a situação e pensar: ‘Mas eu acho que esse cara aqui me dá mais prosperidade’. E começa a ter uma evasão de pastores e, consequentemente, de recursos. Se não tem pastor para pedir dízimo, a receita desaba”, analisa Chico Otávio. 

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Em uma série de vídeos que fez nos Estados Unidos quando estava foragida da Justiça brasileira, Mirelis acusou a Igreja Universal de estar orquestrando as operações contra a GAS. 

Além do livro,  o caso da GAS Consultoria pode virar filme. Segundo o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a produtora Morena Filmes comprou os direitos da obra para o cinema.

O sucesso da empreitada do “Faraó do Bitcoin” fez explodir uma febre de empresas na região de Cabo Frio, que passaram a captar dinheiro prometendo retornos fixos todo mês com base no investimento em cripto.

Mas elas começaram a cair após a prisão de Glaidson. Algumas delas são: Spartacus Consultoria, Eagle Eyes e Decolar Investimento.

Prisão do Faraó do Bitcoin

As imagens da prisão e das apreensões decorrentes das investigações do Faraó do Bitcoin correram rápido naquela manhã de 25 de agosto de 2021. Um pouco mais tarde, a PF já revelava pelo menos cinco malas de dinheiro e a apreensão de centenas de Bitcoin. Já de noite, o Portal do Bitcoin conseguiu falar com a procuradora Ana Paula Bez Batti que revelou que “os criptoativos estavam armazenados em hardwares wallets”.

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Também no mesmo horário, a PF revelava um balanço parcial da ‘Operação Kryptos’, como foi chamada a ação daquele dia — que cumpriu 15 mandados de busca e apreensão. Além do Faraó do Bitcoin, cinco suspeitos foram presos no Rio e dois em SP, no Aeroporto de Guarulhos, com o apoio de agentes da Receita Federal.

Ainda de noite, a PF finalizou a contagem do dinheiro, o que precisou de maquinário de grande porte devido à vasta quantidade de notas. Por volta das 20h, a assessoria divulgou os valores: R$ 13.825.091,00  e 100 Libras Esterlinas em espécie e 591 bitcoins, avaliados na cotação da época em R$ 150 milhões.

Em outras ações da força-tarefa, os agentes arrestaram 21 carros de luxo, relógios de luxo, joias, celulares, aparelhos eletrônicos e documentos. Participaram das ações a Polícia Federal, o Ministério Público Federal (MPF) e a Receita Federal do Brasil.

Todos os bens apreendidos foram bloqueados pela pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio.

Malas de dinheiro apreendidas na casa de Glaidson Acacio dos Santos (Foto: Divulgação/Polícia Federal)

Um ano após a prisão, a etapa do Faraó do Bitcoin encarcerado foi marcada em um primeiro momento pela prevalência de seu poder e riqueza dentro do presídio Joaquim Ferreira, no Complexo de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio.

Uma reportagem do portal G1 na época mostrou que Glaidson recebia uma série de visitas irregulares, inclusive de funcionários públicos. Uma busca nos arredores de sua cela resultou na apreensão de celulares e peças de picanha.

A denúncia fez com que o suspeito fosse transferido para Bangu 1, penitenciária de segurança máxima, mas a estadia lá não durou muito: a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) acatou uma decisão da Justiça Federal e transferiu o ex-pastor de volta para o presídio original em outubro.

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Atualmente, Glaidson cumpre prisão no presídio federal em Catanduvas (PR).

Mirelis Diaz Zerpa, a mulher do Faraó do Bitcoin

Até a operação Kryptos, o nome da venezuelana e mulher do Faraó do Bitcoin, Mirelis Zerpa, não era muito comentado. No entanto, conforme o andamento das investigações, as autoridades encontraram provas de que ela fazia parte do esquema e mais: poderia ser a mentora de todo o esquema da GAS Consultoria.

Em resumo, Mirelis foi a responsável por introduzir as criptomoedas na vida do Faraó do Bitcoin, como criar uma carteira e transferir ativos — operações que ela aprendeu na Guatemala, em 2013, apenas lendo blogs. Diversas pessoas próximas ao casal confirmam que a divisão de tarefas dentro da GAS era clara: Glaidson lidava com as pessoas e Mirelis com o dinheiro. 

Na ocasião da Operação Kryptos, Mirelis já era alvo de um mandado de prisão por crimes contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro e integração de organização criminosa. Na ocasião da Operação Kryptos, Mirelis não foi encontrada.

Ela foi presa em Chicago no início deste ano como resultado de uma cooperação internacional entre a Polícia Federal do Brasil, o U.S Immigrations and Customs Enforcement (ICE) e o Serviço Secreto norte-americano. Mas a detenção não ocorreu devido ao caso da GAS, mas sim porque ela morava ilegalmente nos EUA.

Enquanto o Faraó do Bitcoin dormia em um cela, Mirelis se apegou às redes sociais. Mesmo sendo cobrada a dar explicações sobre o paradeiro do dinheiro dos investidores, ela parecia pouco se importar com os problemas do passado e compartilhava de forma recorrente suas paixões, novos projetos e frases motivacionais. 

Mirelis Diaz , esposa do Faraó do Bitcoin e líder da GAS Consultoria, em telão da Times Square em Nova York
Mirelis Diaz em Nova York divulgando seu perfil no Spotify (Foto: Reprodução/YouTube)

Em 16 de dezembro de 2022, Mirelis conseguiu um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e apagou seus vídeos no YouTube. Acerca do dinheiro da GAS, ela chegou a admitir que transferiu R$ 1 bilhão em Bitcoin para uma cold wallet logo após as prisões para poder continuar pagando clientes — mas a empresa parou de distribuir dinheiro ainda em agosto de 2021.

Mirelis e Glaidson são acusados pelo Ministério Público Rio de Janeiro de terem “promovido, constituído, financiado e integrado organização criminosa preordenada à prática de crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro”.

Faraó do Bitcoin é réu por homicídio

Além das acusações de crime financeiro, responde também por homicídio e tentativa de homicídio. Depois de sua prisão, a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou o indiciamento de Glaidson por tentativa de homicídio. Ele é suspeito de encomendar o assassinato de Nilson Alves da Silva — que estaria espalhando pela cidade de Cabo Frio que o dono da GAS seria preso e isso seria motivação para o crime.

Ambos eram concorrentes no mercado de captação de dinheiro com alegação de que iriam investir em criptomoedas. “Nilsinho”, como é conhecida a vítima, teria dito para as pessoas tirarem o dinheiro da GAS Consultoria e passarem para ele.

O ataque ocorreu no dia 20 de março de 2021, quando um carro parou ao lado do veículo de Nilson durante o sinal fechado de um semáforo e quatro homens fizeram contra Nilson, que acabou ficando cego e paraplégico.

Família de Wesley Pessano pede justiça (Foto: Reprodução/Instargram)

“Para dar início à empreitada criminosa, o ‘Faraó dos Bitcoins” determinou que um comparsa de confiança contratasse os executores do delito. Para dificultar a investigação policial, quatro indivíduos contratados para matar a vítima utilizaram um veículo clonado e contaram com o apoio de um carro regularizado para fazer os deslocamentos rodoviários”, afirmou a Polícia Civil na época.

Além do caso envolvendo Nilson, a Polícia indica ainda que os dois executores dos crimes também participaram do homicídio contra Wesley Pessano, outro investidor em criptomoedas que atuava na cidade. Conforme noticiado pela Folha na época, a polícia ainda investiga se o Faraó do Bitcoin teria sido mandante deste assassinato.

CPI das Pirâmides e CVM

No ano passado, a GAS Consultoria fez parte de uma extensa lista de empresas convocadas na CPI das Pirâmides, que também intimou o Faraó do Bitcoin. Em depoimento, o ex-garçom protagonizou uma série de bate-bocas com alguns deputados e chegou a ser chamado por um parlamentar de “um dos maiores bandidos da história do sistema financeiro nacional”.

Glaidson durante depoimento à CPI das Pirâmides
Glaidson durante depoimento à CPI das Pirâmides (Agência Brasil)

Na CVM, um documento sustentou que as operações da GAS Consultoria promoviam oferta pública de valores mobiliários sem autorização da autarquia, utilizando-se do negócio para a prática de operações fraudulentas no mercado. A prática é considerada infração grave pelo órgão regulador.

O relatório feito pelo escritório de advocacia designado pela justiça para administrar uma possível recuperação judicial, “contabilizou 127.628 clientes lesados pela empresa, que declararam um rombo no valor total de R$ 9,9 bilhões”.

Subornos, picanha e transferência de presídio

20 quilos mais magro, Glaidson dos Santos foi transferido do presídio de Bangu 1, no Rio, para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, em janeiro de 2023 sob forte esquema de segurança.

glaidson farao do bitcoin mudando de prisão
Glaidson aparece mais magro durante transferência de presídio (Fotos: Reprodução/Polícia Federal)

O pedido de transferência foi feito por Marcello Rubioli, juiz do TJ-RJ, e aceito pelo pelo juiz federal corregedor do Paraná, Paulo Sérgio Ribeiro. O TJ-RJ viu indícios de que Glaidson continuava liderando sua organização criminosa a partir do presídio, chegando inclusive a corromper agentes do Estado no processo.

Uma reportagem do portal G1 mostra que Faraó do Bitcoin recebia uma série de visitas irregulares, inclusive de funcionários públicos. Uma busca nos arredores de sua cela resultou na apreensão de celulares e peças de picanha.

Com está Glaidson hoje

Desde que foi Glaidson preso, sua defesa já enviou diversos pedidos de Habeas Corpus ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas as investigações comprovaram que ele planejava fugir do Brasil antes da prisão e que, mesmo após estar preso, continuou operando o sistema criminoso.

Todas as decisões, até o momento, negaram as solicitações. Na última tentativa de soltura até agora, quando a defesa do ‘Faraó do Bitcoin’ alegou problemas psiquiátricos e uso de medicamento controlado, além de questionar a jurisdição acerca da competência para os processos, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o habeas corpus.

Mendes classificou a alegação da defesa como “mera retórica defensiva”, e Glaidson Acácio continuará preso, ressaltando que o ministro analisou somente sobre o grau da jurisdição acerca da competência para os processos.

O ministro entendeu que o processo deve seguir tramitando na 3ª Vara Federal Criminal do Rio, por tratar de crimes com conexão a delitos de responsabilidade da Justiça Federal. Para ele, os outros pontos não estão abrangidos pela decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) questionada pelo HC e não devem, portanto, ser considerados.

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