O mercado de ativos digitais volta a operar no azul nesta quarta-feira (23), embalado pelos ganhos em Wall Street e pela aposta da gestora “popstar” Cathie Wood na Grayscale, que administra o maior fundo de Bitcoin do mundo.
O Bitcoin (BTC) avança 5,1% nas últimas 24 horas, para US$ 16.540,20, segundo dados do CoinGecko.
Em reais, a maior criptomoeda ganha 5,7%, negociada a R$ 88.750,98, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB). Os investidores nacionais seguem acompanhando a tramitação do projeto de lei que regulamenta as criptomoedas no Brasil. Havia a expectativa de que ele pudesse ser votado ontem pela Câmara – o que acabou não se concretizando.
O Ethereum (ETH) dá um salto de 6,9%, cotado a US$ 1.165,56 nas últimas 24 horas.
Mas a cautela ainda paira sobre as negociações, em meio à notícia de que a encrencada plataforma de crédito cripto Genesis Global Capital contratou um banco de investimentos para estudar opções para o futuro dos negócios – o que pode incluir um pedido de proteção contra credores.
Em outro revés para o mercado, a governadora de Nova York, Kathy Hochul, do Partido Democrata, assinou na terça-feira (22) a sanção a uma moratória de dois anos para novas operações de mineração de criptomoedas que usem o sistema de consenso proof of work (PoW), como é o caso do Bitcoin.
“Vou garantir que Nova York continue a ser o centro da inovação financeira, ao mesmo tempo em que darei passos importantes para priorizar a proteção do nosso meio ambiente”, disse Hochul em mensagem explicando sua decisão.
A quarta-feira também é de fortes ganhos para as principais altcoins, entre elas Binance Coin (+16,2%), XRP (5,5%), Dogecoin (+9,8%), Cardano (+4,6%), Polygon (+8,4%), Polkadot (+7,4%), Shiba Inu (+8,4%), Solana (+13,7%) e Avalanche (+10%).
O token Litecoin dispara 27% nas últimas 24 horas e acumula alta de 36% em sete dias. Alguns analistas apontam para um possível rali antes do chamado “halving” da altcoin daqui a oito meses, o que vai reduzir a expansão de oferta do token em 50%.
Contágio da Genesis
A Genesis Global Capital, unidade de crédito cripto da corretora Genesis Global Trading, contratou o banco de investimento Moelis & Company para estudar opções, o que inclui uma possível recuperação judicial, informou o The New York Times, que cita três pessoas com conhecimento do assunto. Nenhuma decisão foi tomada e ainda é possível evitar a recuperação judicial, segundo a reportagem.
Na semana passada, a Genesis Global Capital suspendeu resgates após ser atingida por uma crise de liquidez com a quebra da FTX de Sam Bankman-Fried. A Genesis Global é controlada pelo Digital Currency Group (DCG), que também é dono da gestora de ativos digitais Grayscale Investments e do portal de notícias CoinDesk.
O bilionário americano Barry Silbert, fundador e CEO do DCG, buscou tranquilizar acionistas sobre a viabilidade dos negócios em meio aos temores de uma recuperação judicial do braço de crédito cripto.
O livro de empréstimos da Genesis enfrenta “um problema de incompatibilidade de liquidez e duração”, escreveu Silbert aos acionistas na terça-feira (22), em carta vista pelo Financial Times. “Esses problemas não têm impacto nas negociações à vista e de derivativos ou no negócio de custódia da Genesis, que continuam operando normalmente”, acrescentando que o DCG tem um empréstimo de US$ 575 milhões com a Genesis, que vence em maio de 2023.
Fundada em 2013, a Genesis é considerada um dos pilares da indústria cripto, de acordo com o FT, fornecendo às instituições serviços de negociação, empréstimo, custódia e derivativos. No ano passado, negociou US$ 116 bilhões em criptomoedas e originou US$ 131 bilhões em empréstimos. O grupo tem mais de 1.000 contrapartes de trading institucionais.
Fundo de Bitcoin da Grayscale
Diante do nervosismo, uma investidora parece estar tranquila. Para a Ark Investment Management, da gestora Cathie Wood, a Grayscale Investments agora é a galinha dos ovos de ouro do império de Silbert. A Grayscale administra o Grayscale Bitcoin Trust (GBTC), o maior fundo de Bitcoin do mundo.
“Tivemos que fazer nossa lição de casa e sabemos que todo o Bitcoin por trás do GBTC está ‘armazenado a frio’ na Coinbase, e a Coinbase confirmou isso”, disse Wood à Bloomberg Television. “Por isso, nos sentimos bastante confortáveis.” A Ark Investment comprou 176.945 ações (US$ 1,5 milhão) no GBTC na segunda-feira (21).
Na terça-feira, o CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, chegou a questionar o dado, mas recuou. Em um primeiro tuíte, CZ deu a entender que a Coinbase, a maior corretora cripto dos EUA, não tinha todo o Bitcoin que alega ter. Porém, minutos depois, apagou a publicação e pediu desculpas.
A suposta contradição, segundo o dono da Binance: a Coinbase ter 635 mil bitcoins em custódia para a Grayscale, enquanto quatro meses atrás registrava menos de 600 mil BTCs em caixa, de acordo com publicação do site Bitcoinist.
Após uma enxurrada de críticas, CZ notou o erro e excluiu o tuíte: “Brian Armstrong [CEO da Coinbase] acabou de me dizer que os números naquelas reportagens estão errados. Apaguei o tuíte. Vamos trabalhar juntos para melhorar a transparência dessa indústria”.
Fundo da Binance
Em sua campanha para acalmar o mercado, o CEO da Binance e vários representantes do segmento se reuniram com investidores em Abu Dhabi na semana passada em um esforço para levantar dinheiro para um fundo de recuperação da indústria de criptoativos, disseram pessoas a par do assunto à Bloomberg.
A criação de um fundo de recuperação para o setor de criptoativos pela Binance é apontada por representantes da própria empresa e de concorrentes, ouvidos pelo Painel S.A., da Folha, como uma forma de evitar que, em países como o Brasil, as autoridades determinem a separação dos ativos de clientes e de corretoras. O projeto de lei de criptomoedas aguarda votação esta semana na Câmara dos Deputados.
À coluna, empresas do mercado cripto, incluindo um representante da própria Binance, afirmaram que, se prosperar, o fundo pode ser uma ferramenta alternativa à chamada separação de ativos. Oficialmente, a Binance não confirma que esse seja seu propósito com o projeto.
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‘Morte’ do Bitcoin
Na entrevista à Bloomberg, Wood reafirmou sua previsão de que o Bitcoin vai valer US$ 1 milhão por unidade até 2030. Enquanto isso, muitos seguem declarando a morte da maior criptomoeda do mundo.
O site 99Bitcoins conta cada vez que veículos da imprensa e personalidades explicitamente sugeriram o fim do criptoativo. Até a segunda-feira (21), o site mostrava 466 previsões de morte do BTC.
Reservas das exchanges
O CoinMarketCap, um dos principais agregadores de preços de criptomoedas do mercado,lançou uma ferramenta que exibe as reservas das corretoras do setor, ou seja, quantos tokens elas alegam ter em caixa. A Binance, que comprou o CoinMarketCap em 2020, lidera o ranking entre as exchanges com a maior reserva de tokens, estimada na manhã da terça-feira (22) em US$ 65,9 bilhões.
No caso da Binance, a maior parte de sua reserva (33,8%) é formada pela própria stablecoin pareada ao dólar, o BUSD. Em segundo lugar aparece o USDT, representando 24% das reservas, seguido por Bitcoin (13%), BNB (8,3%) e Ethereum (7,8%).
Saldo da CRV
O CRV, token de governança da exchange descentralizada Curve, mostra volatilidade nos últimos dias. O número de CRVs disponíveis para liquidação em corretoras centralizadas disparou 70%, para um recorde de 148,9 milhões neste mês, mostram dados da Glassnode publicados pelo CoinDesk.
O saldo de CRV em corretoras aumentou em meio a relatos de um grande investidor transferindo um grande número de tokens emprestados para exchanges centralizadas. Investidores normalmente transferem criptomoedas de suas carteiras para essas exchanges quando pretendem vender suas posições. O dado chama a atenção, já que a Curve, especializada em swaps de stablecoin, é a maior fonte de liquidez em finanças descentralizadas (DeFi).
Crise da FTX – Últimas notícias
Sam Bankman-Fried administrava a FTX como seu “feudo pessoal” antes de sua implosão, de acordo com um advogado que trabalha no processo de recuperação judicial, com “quantias significativas de dinheiro” gastas em itens não relacionados ao negócio, como casas de veraneio nas Bahamas.
“Testemunhamos um dos colapsos mais abruptos e difíceis da história da América corporativa”, afirmou James Bromley, da Sullivan & Cromwell, a um tribunal nos EUA na terça-feira. Durante a audiência de moções para o caso da FTX no tribunal de falências de Delaware. Uma “quantia substancial” dos ativos da FTX “foi roubada ou está desaparecida”, disse um advogado.
Os credores da FTX, incluindo investidores ricos que não querem que seus nomes sejam divulgados, podem permanecer anônimos e ainda participar do processo de recuperação judicial da empresa por enquanto, decidiu um juiz.
Em carta compartilhada internamente na FTX e obtida pelo CoinDesk, Bankman-Fried disse sentir “muito triste pelo que aconteceu” e o que isso significou para os funcionários da empresa. De acordo com Bankman-Fried, a FTX tinha cerca de US$ 60 bilhões em garantias e US$ 2 bilhões em passivos no segundo trimestre, mas, com o crash do mercado, esse valor da foi reduzido pela metade.
Bitcoin hoje
Apesar da valorização na manhã desta quarta-feira, o número de investidores institucionais que apostam na queda do preço do Bitcoin e de outras criptomoedas atingiu recorde, de acordo com relatório da CoinShares. A percepção de investidores institucionais estava “profundamente negativa” na semana passada: produtos com posição vendida, ou seja, que apostam na baixa, representaram 75% das entradas totais – o maior fluxo já registrado.
“O Bitcoin está novamente acima do nível de US$ 16 mil, mas ainda permanece na zona de perigo, pois todos estão à espera do próximo dominó cripto”, escreveu em nota Edward Moya, analista de mercado sênior da formadora da Oanda. “Parece que os traders de criptomoedas já estão precificando uma recuperação judicial da credora cripto Genesis. O contágio da FTX afetará muitos, mas parece que um novo catalisador é necessário para que os vendedores assumam o controle.”
No mercado acionário, os índices futuros dos EUA operam com pouca variação após os ganhos das bolas americanas na terça-feira (22), impulsionados por comentários de autoridades do banco central americano. Em entrevista à CNBC, a presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, sinalizou um afrouxamento da política monetária:
“Acho que podemos desacelerar em relação aos ‘75’ (0,75 ponto percentual) na próxima reunião, não tenho problema com isso”, disse Mester, acrescentando que a política inicia uma nova “cadência” ao entrar em território restritivo, um nível no qual os juros pesam sobre a economia.
O mercado aguarda a divulgação da ata da última reunião do Fed nesta quarta-feira (23), que deve dar pistas sobre a visão dos membros do banco central dos EUA sobre qual será o pico da taxa de juros no país.
As bolsas americanas ficam fechadas amanhã (24) devido ao feriado de Ação de Graças. No ano passado, Tyler Lucky, de 28 anos, comentava animado com os parentes seus investimentos em criptomoedas. Em meio à recente turbulência, Lucky contou à Bloomberg que já sabe o que vai ouvir na reunião familiar deste ano para celebrar o chamado Thanksgiving: “Eu te disse”.
Outros destaques
Glaidson Acácio dos Santos, o fundador da GAS Consultoria conhecido como o Faraó dos Bitcoins, tinha em sua lista de clientes 160 pessoas que eram da Igreja Universal do Reino de Deus ou que trabalhavam na TV Record, segundo informações de Ricardo Feltrin em sua coluna no portal UOL. O grupo levou um prejuízo de R$ 8,71 milhões. De acordo com a reportagem, quem atraiu todas essas pessoas para a pirâmide financeira criada por Glaidson foi Fabiano Freitas, ex-pastor da igreja de Edir Macedo.
Com a bola já rolando na Copa do Catar, a Confederação Brasileira de Futebol rescindiu o contrato de patrocínio com a corretora turca de criptomoedas Bitci, responsável pela criação do fan token da Seleção Brasileira, o BFT (Brazilian Football Team).
Segundo reportagem do portal Máquina do Esporte publicada na terça-feira (22), a CBF não recebe há vários meses os valores combinados com a empresa da Turquia. O acordo para criar a criptomoeda da seleção foi anunciado em 2021 e era válido por três anos. Nas últimas 24 horas, o BFT opera em baixa de 32%, mostram dados do CoinMarketCap.
Outro fan token em queda livre é o da Argentina (ARG), em baixa de 30% após a zebra na estreia do país na Copa, com a derrota para a Arábia Saudita por 2 a 1. A seleção saudita não ganhou só no campo. As vendas da coleção de tokens não fungíveis (NFTs) com o tema da Arábia Saudita, chamada “The Saudis”, deram um salto de 387% após o resultado. O governo saudita decretou feriado nacional nesta quarta-feira (23) para comemorar a vitória histórica.