Imagem da matéria: Esposa do Faraó do Bitcoin troca pirâmide financeira por artes, autoajuda e Inteligência Artificial
Mirelis Zerpa, criadora da GAS Consultoria, em imagem gerada por Inteligência Artificial (Foto: Reprodução/Instagram)

Mirelis Yoseline Diaz Zerpa parece estar mudando de ramo: se antes comandava a GAS Consultoria ao lado do marido Glaidson Acacio dos Santos, o Faraó do Bitcoin – tendo inclusive um pedido de convocação para depor na CPI das Pirâmides Financeiras – ela agora está dedicando tempo às artes e à autoajuda, com uma pitada de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês).

Pelo menos é o que indica o canal da venezuelana no YouTube, onde ela passou a publicar vídeos de músicas, poesias e mensagens de teor motivacional, tudo gerado por programas de AI. 

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Trata-se do mesmo canal no qual, durante meses do ano passado, Mirelis publicou uma série de vídeos polêmicos falando sobre criptomoedas, a história da GAS Consultoria, a respeito de como conheceu Glaidson Acácio dos Santos e acusando a Igreja Universal do Reino de Deus de comandar uma campanha racista de difamação contra ela e seu companheiro, o Faraó.

No entanto, todo esse conteúdo em defesa do esquema de operação da GAS Consultoria foi removido. Agora, alguém desavisado que chegar ao canal não terá ideia de que Mirelis foi uma das líderes de um dos casos mais emblemáticos de pirâmide financeira do Brasil.

A GAS Consultoria captava clientes com promessas de rendimentos que supostamente viriam do trade de criptomoedas. Mais tarde, seu modelo de operação revelou ser uma pirâmide financeira, que desencadeou uma série de investigações pelas autoridades brasileiras.

Mirelis e Glaidson são acusados pelos Ministério Público Rio de Janeiro de terem “promovido, constituído, financiado e integrado organização criminosa preordenada à prática de crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro”.

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Mirelis chegou a ter um pedido de prisão, mas ela foi para os Estados Unidos antes mesmo de essa ordem ter ido emitida. Obteve em dezembro do ano passado um Habeas Corpus, que derrubou o pedido de prisão.

Já Glaidson segue detido na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, mesmo após conseguir a revogação de um dos pedidos de prisão preventiva do qual era alvo – ele ainda atende a outros seis mandados de prisão preventiva. No total, Glaidson é alvo de 13 ações penais de diferentes modalidades.

Além do roubo do dinheiro de milhares de investidores brasileiros pela pirâmide financeira da GAS, o Faraó também é acusado de ser líder de uma organização que monitorava e assassinava rivais no mercado de criptomoedas, como mostram áudios obtidos pelas autoridades.

O Portal do Bitcoin procurou o advogado de Mirelis para obter a posição da venezuelana sobre o assunto, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

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O “cantinho poético” da líder da GAS Consultoria

Já na mensagem de boas vindas em seu canal repaginado, ela avisa que aquele é seu “cantinho poético” no qual que ela explora a “autenticidade e felicidade em meio à hipocrisia”. E convida: “Junte-se a esta aventura poética e deixe seus comentários. Magia poética e inovação se fundem aqui!”. 

Na biografia, Mirelis afirma na terceira pessoa ser “uma talentosa musicista e produtora venezuelana” que experimenta “vários estilos musicais, usando a inteligência artificial (IA) como ferramenta criativa”. 

“Enquanto continua a expandir seus horizontes musicais com a ajuda da IA, Mirelis ultrapassa os limites da música gerada por algoritmos e cria experiências auditivas que desafiam as expectativas. Sua dedicação e talento a impulsionam para o reconhecimento na cena musical. A cada nova criação, Mirelis surpreende e encanta seu público, traçando seu próprio caminho na música experimental”, afirma a biografia. 

Veja abaixo um vídeo da nova fase de Mirelis:

A história de Mirelis, segundo a própria

Os vídeos de Mirelis começaram em julho de 2022, sendo o primeiro uma apresentação de sua situação. No segundo, Mirelis começou uma articulação mais pesada: pediu que os clientes da GAS passassem a pressionar as autoridades.

Logo depois, a esposa de Glaidson disse que a Igreja Universal estaria por trás da derrocada da empresa e que o “Faraó do Bitcoin” foi alvo de racismo dentro da instituição religiosa da qual foi pastor.

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“Eles [Igreja Universal] querem que os pastores sempre estejam dependendo deles. Quando dizem que querem que o povo prospere, isso é mentira. Para eles é melhor que pessoa esteja sempre necessitada e por isso vão à igreja. Se querem isso [a prosperidade do povo] porque pegam dinheiro? Como a pessoa vai prosperar?”, questionou.

Após conseguir o Habeas Corpus, Mirelis apagou todos os vídeos com seus relatos.

Rede internacional para lavagem de dinheiro

Segundo reportagem do jornal O Globo publicada em abril deste ano, a família de Mirelis Zerpa manteve uma rede de empresas no exterior para lavar dinheiro da GAS Consultoria.

Conforme aponta o jornal, a informação decorre de clientes lesados que foram ouvidos por especialistas locais.

Um dessas companhias funcionou na Colômbia por cerca de três anos para injetar dinheiro de origem desconhecida no mercado de câmbio local. A empresa, identificada como Consultoria Y Tecnologia Avanzada S.A.S, estev operacional entre março de 2020 e dezembro de 2022 na cidade colombiana de Medellín.

O objetivo, segundo as testemunhas, seria lavar dinheiro para ocultar os ganhos oriundos de golpes em vários países do esquema transnacional de pirâmide financeira criado pela GAS Consultoria.

Conforme apurou O Globo, a Consultoria Y Tecnologia Avanzada foi registrada nos nomes de Noiralis Zerpa, irmã de Mirelis, e Juan Pablo Bonilla Guzman, que teriam sido usados como ‘laranja’’.

Noiralis também é investigada por ter recebido 10 bitcoins em uma conta na Binance em dezembro de 2021; na época, esse conjunto de BTCs valia mais de R$ 2 milhões.

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Sobre o esquema montado por Glaidson e Mireles, outras duas empresas no mesmo formato da GAS Consultoria já haviam sido identificadas, sendo uma Portugal, “KasteloKódigo Unipessoal Ltda”, e outra nos EUA, “EYD Investment”, cuja sede era em Miami, descreve a publicação.

No caso da EYD, trata-se de uma empresa na modalidade LLC, onde os sócios não precisam residir nos EUA. De acordo com um auditor da Receita Federal consultado pelo O GLOBO, essas empresas podem ser usadas em operações de lavagem de dinheiro no exterior, “pois os seus donos não são obrigados a declarar a movimentação financeira ao fisco americano”.

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