Imagem da matéria: Como os chineses driblam a censura do governo para negociar criptomoedas na Binance
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Não é nenhuma novidade que o governo chinês não é amigável às criptomoedas e proíbe que plataformas de negociação operem no país. O banimento, no entanto, não parece ser um empecilho na prática para a Binance, a maior corretora do setor.

De acordo com uma reportagem publicada nesta quarta-feira (2) pelo The Wall Street Journal, a China é o maior mercado da Binance no mundo. Apenas em maio deste ano, a plataforma processou US$ 90 bilhões em negociações de criptomoedas no país asiático, segundo o jornal. 

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Esse número faz com que a China represente cerca de 20% do volume mundial da Binance. A maior parte das negociações se concentram no mercado de futuros, com o trade no mercado à vista representando uma pequena porcentagem das operações. 

Os dados constam em documentos internos da Binance obtidos pelo The Wall Street Journal. O veículo diz que conversou com atuais e ex-funcionários da corretora que confirmaram que a importância da China para a Binance é discutida abertamente na empresa, uma vez que a plataforma possui mais de 900 mil usuários ativos no país.

Volume de trade da Binance em maio dividido por país (Fonte: The Wall Street Journal)
Volume de trade da Binance em maio dividido por país (Fonte: The Wall Street Journal)

Contornando as restrições

A dúvida que fica é como os investidores são capazes de acessar a corretora e driblar as restrições impostos pelo governo chinês.

Uma das estratégias expostas pelo The Wall Street Journal é o direcionamento de usuários por meio de outros sites, que funcionam como intermediários de acesso.

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“A Binance ajudou os usuários da China a contornar as restrições direcionando-os a visitar diferentes sites com nomes de domínio chineses antes de redirecioná-los para a exchange global”, diz a matéria, citando um documento interno da empresa que explica o procedimento e que passou a circular internamente depois que a China bloqueou a Binance, em 2017.

Ao ser procurada pelo jornal, a Binance não deu mais detalhes sobre a operação no país asiático, dizendo apenas que o “site Binance.com está bloqueado na China e não está acessível para usuários residentes na China”.

Embora o governo chinês restringe certos sites de operarem no país, ao longo dos anos a população descobriu formas de burlar os bloqueios. Por lá, é comum mascarar a real origem do acesso através de serviços do tipo VPN, usados para acessar sites bloqueados na região.

Em entrevista concedida ao Portal do Bitcoin no passado, o jornalista Colin Wu, que cobre o mercado cripto chinês através do popular perfil Wu Blockchain, explicou que a estratégia também se aplica para acessar exchanges no país.

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“Aqui na China é só baixar um VPN que você consegue acessar qualquer coisa, é muito fácil para a maioria das pessoas. Se quiser negociar direto nas exchanges, que também contam com mercado de balcão (OTC) aqui, é possível usar VPN”, explica. 

Ele aponta que, pelo fato de as maiores exchanges globais de criptomoedas terem sido lançadas na China ou foram criadas por chineses, como Binance, Huobi, OKX e Bybt, já há uma familiaridade da população com essas plataformas, que a leva a investir nesses lugares mesmo com as restrições impostas pelo governo.

Leia também: Entrevista: Colin Wu, o jornalista que vem decifrando o mercado chinês de criptomoedas

A estranha relação da Binance com a China

Em março deste ano, uma reportagem do jornal inglês Financial Times revelou que o criador da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, não apenas sabia que um grande número de clientes acessavam a corretora a partir da China, como incentivava que funcionários da empresa escondessem as operações mantidas no país.

Leia também: CZ mandou Binance esconder operações na China após alegar ter deixado o país, diz Financial Times

Embora a Binance tenha informado ao público que havia deixado a China em 2017, a publicação afirma que a corretora manteve um escritório em uso até o final de 2019 no país, além de usar um banco chinês para pagar salários de funcionários. 

“Não publicamos mais os endereços de nossos escritórios… as pessoas na China podem dizer diretamente que nosso escritório não é na China”, ordenou CZ em um grupo de mensagens da empresa em novembro de 2017, visto pelo Financial Times.

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Entre 2018 e 2019, Binance continuou contratando funcionários para trabalhar a partir da China. Mensagens vistas pela repotagem mostram um funcionário dizendo “espero que todos gostem de trabalhar aqui” para uma equipe de recrutamento em Xangai em meados de 2018.

Semanas depois, um líder da Binance emitiu um aviso para esses novos funcionários: “Prezados, NÃO usem roupas ou acessórios com logotipos da Binance em nossos escritórios ou próximos a eles. É estritamente proibido”. Tal escritório em Xangai também foi usado para eventos de treinamento de funcionários, mostraram os documentos. 

A revelação que a Binance continuou operando na China veio à tona em março deste ano, apenas dois dias depois de os reguladores dos EUA abrirem um processo contra a corretora e seu CEO, por possíveis irregularidades cometidas dentro da empresa.

As dúvidas sobre onde a Binance mantinha seus escritórios também foi trazida no processo aberto pela CFTC, que acusou a corretora de “intencionalmente” não divulgar os locais onde operava, no que seria “uma abordagem deliberada para tentar evitar a regulamentação”.

Em resposta às acusações da época, a equipe da Binance disse que se travava de histórias antigas que “descaracterizaram dramaticamente os eventos”. “A Binance não opera na China, nem possui nenhuma tecnologia, incluindo servidores ou dados, baseada na China. Rejeitamos veementemente afirmações contrárias”, afirmou a corretora.

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