O mercado de criptomoedas foi duramente afetado pelo derretimento de projetos como Terra e Celsius, que derrubaram o preço do Bitcoin. Pior ainda, o chamado inverno crise acontece em meio a agravamento das condições econômicas — recessão iminente, inflação altíssima e a possibilidade de o Federal Reserve – o banco central dos EUA – seguir esfriando a economia ao aumentar ainda mais as taxas de juros.
No início de junho, o CEO da Tesla, Elon Musk, disse que tinha uma “sensação super-ruim” sobre a economia, em um e-mail enviado a executivos da empresa e afirmou que 10% dos funcionários da empresa precisavam ser demitidos, de acordo com a Reuters.
A previsão de piora fez empresas ligadas às criptomoedas reduzirem contratações ou diminuírem suas operações, em uma tentativa de melhorar os custos operacionais e proteger seus lucros. Nem todas, entretanto: algumas companhias seguem contratando e comemorando em meio ao massacre. Confira a lista:
Quem está demitindo?
Gemini
Gemini Trust Co., pertencente aos gêmeos bilionários Tyler e Cameron Winklevoss, esteve entre as primeiras titãs cripto a anunciar a demissão de funcionários. No dia 2 de junho, a empresa anunciou que iria reduzir aproximadamente 10% de seus funcionários, citando “turbulentas condições de mercado que, provavelmente, vão persistir por algum tempo”.
Coinbase
Enquanto isso, a Coinbase anunciou inicialmente um “congelamento” de contratações, fazendo com que ofertas de emprego fossem rescindidas de pessoas com as quais já haviam chegado a um acordo.
Em seguida, a empresa anunciou a necessidade de demitir 1,1 mil funcionários e se preparar para um “prolongado” inverno cripto, reduzindo seu quadro em 18% porque havia “contrato em excesso” supostamente gerados durante ciclos de alta anteriores do mercado.
BlockFi
No dia 13 de junho, o CEO da BlockFi, Zac Prince, declarou que a empresa que oferece contas cripto de alto rendimento estaria “reduzindo [seu] quadro de funcionários em quase 20%”, para cerca de 600, e afirmou que a “decisão foi direcionada por condições de mercado que tiveram um impacto negativo em nossa taxa de crescimento e uma revisão rigorosa de nossas prioridades estratégicas”.
Crypto.com
Já a Crypto.com anunciou que iria demitir 5% ou 260 funcionários de sua empresa para “garantir o crescimento contínuo e sustentável no longo prazo”, tuitou o CEO Kris Marszalek no dia 10 de junho.
O executivo acrescentou: “Iremos continuar avaliando a melhor maneira de otimizar nossos recursos para nos posicionarmos como os mais fortes desenvolvedores durante o ciclo de queda para nos tornarmos os maiores vencedores no próximo ciclo de alta”.
Nos últimos seis meses, a Crypto.com pagou estimados US$ 1,4 bilhão para se tornar a patrocinadora da Copa do Mundo FIFA de 2022 e ter seu nome no antigo estádio Staples Center de Los Angeles, além de pagar outros US$ 100 milhões para que o ator Matt Damon estrelasse o comercial da Crypto.com durante o Super Bowl deste ano com o infame bordão: “A fortuna favorece os valentes”.
2TM
Aqui no Brasil a 2TM, controladora da corretora Mercado Bitcoin, anunciou o corte de cerca de 90 funcionários. Conforme a empresa, o objetivo é reduzir as despesas para enfrentar um momento difícil no cenário financeiro global.
A empresa, que opera uma das maiores corretoras de criptomoedas da América Latina em termos de volume negociado, de acordo com dados da CoinGecko, baseou a decisão à “mudança do panorama financeiro global” que fizeram com que ela fosse além da redução de expensas operacionais.
Bitso
Bitso, a maior corretora latino-americana de criptomoedas, revelou que iria dispensar 80 de seus 700 funcionários no fim de maio. A empresa foi fundada em 2014 e opera nos EUA, na Colômbia, no México, no Brasil e na Argentina. 34 criptomoedas estão disponíveis para negociação na corretora, que afirma ser a maior no México.
Buenbit
A Buenbit, uma corretora de criptomoedas da Argentina, também disse que precisaria demitir 45% de seu quadro de funcionários (de 180 para 100). Em uma série de tuítes, o CEO Federico Ogue afirmou: “Após um crescimento exponencial da indústria de tecnologia, estamos passando por uma etapa de recapitulação global”.
Robinhood
A corretora Robinhood demitiu 9% de seus funcionários, de acordo com uma declaração do CEO Vlad Tenev. Ele disse que a decisão é “necessária”, citando uma mudança no comportamento dos clientes da Robinhood.
“Estamos prevendo e respondendo a mudanças na forma como nossos clientes investem — principalmente durante essa época de conflitos globais, incerteza econômica e alta inflação”, disse Tenev em uma publicação.
Ele também afirmou que a Robinhood está priorizando “oportunidades internas para automatização” quando for possível e que havia muitas pessoas na empresa com “cargos e funções de trabalho duplicados”.
Bitpanda
A Bitpanda, plataforma para a negociação de ativos digitais e commodities físicas, irá demitir cerca de 270 funcionários. “Estamos comprometidos com a missão da Bitpanda e, por isso, precisamos tomar ações decisivas agora”, segundo uma publicação.
Banxa
Na segunda-feira (27), Banxa, empresa australiana de criptomoedas, anunciou que irá reduzir em 30% o seu quadro de funcionários (de 230 para 160). A Banxa se especializa na conversão de ativos digitais para moedas fiduciárias e afirmou que seus “custos de funcionários são muito altos para gerenciar, de maneira efetiva, esse mercado incerto” como parte de sua decisão.
“Vimos a capitalização de mercado da Banxa cair quase que pela metade em uma questão de dias e a previsão é que essas condições provavelmente continuem assim por outros 12 meses”, afirmou o CEO Holder Arians.
Grupo Primo
A crise que assola o mercado de fintechs atingiu também o Grupo Primo, a empresa de Thiago Nigro (Primo Rico), o maior influencer de finanças do Brasil. O grupo confirmou que demitiu 20% dos cerca de 280 funcionários — mais de 55 pessoas.
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Segundo a empresa, a “desmobilização” é necessária para manter o “negócio saudável e forte para o longo prazo”, referindo-se aos processos de integração que ocorrem na companhia.
Acerca desses processos, a empresa afirma que há uma incorporação de “sistemas e times” com outras instituições, citando, por exemplo, a casa de análises Spiti e a empresa do ramo de educação financeira, Top Invest. Vale lembrar que o Primo Rico também adquiriu recentemente parte minoritária da Paradigma Education, de análises do mercado de criptomoedas.
Quem está contratando?
Embora a força do mercado esteja fazendo algumas empresas passarem por uma “ressaca” de contratações, outras estão expandindo e possivelmente contratando os talentos que seus competidores perderam – pelo menos, é o que elas garantem.
FTX
A FTX não tem planos de parar de contratar novos funcionários, afirmou Sam Bankman-Fried, CEO da empresa, no dia 6 de junho. A segunda maior corretora de criptomoedas em termos de volume negociado — perdendo apenas para a Binance, de acordo com dados do CoinMarketCap — possui aproximadamente 250 funcionários.
“Vamos continuar seguindo em frente”, tuitou Bankman-Fried. “Porque contratamos com cautela, continuamos crescendo independente das condições de mercado.”
Kraken
A Kraken afirmou que não tem intenções de demitir e considera a atual queda de mercado como “o momento para construir”, afirmou a empresa no dia 15 de junho. Alega que não ajustou seus planos de contratação e possui 500 vagas de emprego abertas a serem preenchidas até o fim deste ano.
No comunicado, a empresa enfatizou que não se pauta em “oportunidades de curto prazo para maximizar lucros” e aprendeu a navegar pelas intempéries a partir da experiência de ciclos anteriores por ter sido fundada em 2011.
Binance
Changpeng Zhao (ou CZ), CEO da Binance, afirmou que a corretora está se expandindo à medida que seus competidores tentam diminuir, garantindo que estava contratando dois mil funcionários no mesmo dia em que a Kraken também revelou sua iniciativa em realizar mais contratações.
“Não foi fácil recusar anúncios no Super Bowl”, tuitou o CEO, sugerindo que ter desembolsado dinheiro para obter uma possível visibilidade não era de interesse da empresa.
“Se estamos em um inverno cripto, iremos alavancar, usar isso ao máximo”, disse CZ durante a conferência Consensus 2022 em Austin, no Texas, de acordo com a revista Fortune, acrescentando que a Binance possui um “saudável fundo de guerra”.
OpenSea
No dia 14 de junho, o mercado que possibilita a negociação de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) OpenSea anunciou que está “contratando em todas as áreas”, revelando detalhes sobre o lançamento do Seaport, seu novo protocolo Web3 criado para facilitar a compra e venda de NFTs.
Everstake
A Everstake, empresa ucraniana Web3, oferece a seus clientes contas de alto rendimento sobre criptomoedas em staking e “continua aumentando sua equipe”, tendo contratado 30 funcionários desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, de acordo com Vlad Likhuta, líder de crescimento da empresa, em e-mail enviado ao Decrypt no dia 14 de junho.
Polygon
A Polygon, empresa conhecida por sua rede sidechain (blockchain paralela) que permite que aplicações descentralizadas (ou dapps) sejam desenvolvidas de forma escalável no Ethereum, também está crescendo, de acordo com um tuíte publicado pelo CEO Ryan Wyatt no dia 15 de junho. Ele afirmou que a empresa está se esforçando para aumentar seu quadro de funcionários em cerca de 15% até o fim do ano.
Naquele mesmo dia, o líder de operações remotas Tyler Sellhorn pediu que pessoas que conhecessem quem foi demitido pela Coinbase e por outras empresas Web3 se candidatassem à Polygon, publicando um link a uma página de empregos na sequência.
Ripple
A Ripple está se expandindo e quer contratar centenas de funcionários, de acordo com um tuíte publicado no dia 15 de junho. A empresa, responsável por uma rede centralizada de pagamentos para transferências, mas que está em uma batalha judicial contra a Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos EUA (ou SEC), disse: “Estamos em uma forte posição e continuamos a crescer”.
A capitalização de XRP, o ativo da Ripple, é de US$ 15 bilhões, segundo o CoinMarketCap. Brad Garlinghouse, CEO da Ripple, tuitou que a empresa tem uma “política contra cuzões (sic)” e visa preencher uma mistura de cargos que sejam tanto “presenciais” como “remotos”.
QR Capital
No Brasil, uma das companhias que está remando contra a maré é a QR Capital, que está abrindo 16 novas vagas de emprego, tanto para o formatos presencial quanto remoto, para as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. A empresa atua com investimentos cripto através de fundos de índice (ETFs).
As novas vagas são para as áreas de design, comunicação, análise financeira, dados e tecnologia. A QR Capital afirma que os salários oferecidos são compatíveis com o mercado, além da oferta de benefícios como bônus e participação nos resultados da empresa. A empresa não quis divulgar os salários nominais. No mercado de gestão de investimento, não é incomum que os bônus contem mais do que os salários fixos.
E agora?
Até que o rumo dos mercados de criptomoedas se revertam, mais empresas podem anunciar demissões ou até fecharem completamente. Existe a possibilidade de que a queda nos preços de grande parte dos criptoativos possa ficar ainda pior por conta do decrescente mercado de ações ou da turbulência econômica.
Porém, algumas empresas podem obter vantagem da oportunidade e tentar se posicionar na expectativa de se capitalizar com a recuperação do mercado — quando isso acontecer.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.