A Polícia Federal (PF) terminou nesta quinta-feira (27) a investigação da empresa paraibana Braiscompany e indiciou 16 pessoas, entre elas o casal Antonio Neto Ais e Fabrícia Campos, os fundadores da empresa paraibana que é acusada de montar uma pirâmide financeira que movimentou R$ 2 bilhões com uso de criptomoedas.
Ambos os sócios seguem foragidos da polícia e procurados até mesmo pela Interpol. O relatório da Polícia Federal aponta que Neto Ais e a esposa fugiram para a Argentina usando passaporte de familiares.
No material formado por 21 páginas, além de numerosos anexos, a polícia acusa os indiciados de integrarem uma organização criminosa, ou ORCRIM.
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Agora, o Ministério Público Federal vai receber essa documentação e decidir se oferece uma denúncia. Caso essa denúncia seja acolhida por um juiz, os indiciados viram réus e começam a responder criminalmente perante a Justiça.
A PF acusa Neto Ais, Fabrícia e o restante do grupo de cometer crimes contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa e infrações contra as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Além do casal criador da Braiscompany, foram indiciados: Gesana Rayane Silva, Fernanda Farias Campos, Flávia Farias Campos, Clélio Fernando Cabral, Mizael Moreira Silva, Marcos Avelino dos Santos, Vitor Hugo Lima Duarte, Sabrina Mikaele Lima, Felipe Guilherme Silva Souza, Fabiano Gomes da Silva e Deyverson Rocha Serafim, Eluyllo Weslwy Lima Queiroz, Paulo Roberto Araújo dos Santos e Artur Barbosa da Silva.
“As prisões ocorridas no final de junho na Operação Halving foram fundamentais para a Polícia Federal concluir o indiciamento dos 16 membros da Braiscompany. Agora, o MPF poderá aprofundar ainda mais a investigação e trazer uma clareza aos clientes da empresa sobre qual o patrimônio possível de recuperar”, afirma o advogado Artêmio Picanço, que defende vítimas da Braiscompany.
Picanço informa ainda que irá entrar com uma ação coletiva por meio do Instituto Brasileiro de Prevenção a Golpes Financeiras (IBPGO) com o objetivo de ajudar os clientes carentes, que desta forma ficarão isentos das custas judiciais do Tribunal.
Como foi a fuga de Neto Ais e Fabrícia Campos
Segundo o relatório da PF, a fuga dos criadores da Braiscompany foi para a Argentina e teve uma participação intensa de parentes: o casal Felipe Guilherme e Fernanda Farias, irmã de Fabrícia Campos.
Os quatro estavam juntos em São Paulo no dia da fuga, segundo a PF, na mansão que o Neto Ais vendeu por R$1,5 milhão a menos do valor de mercado para criar liquidez.
Neto usou o passaporte do cunhado e Fabrícia o documento da irmã. Fernanda Farias inclusive registrou um boletim de ocorrência alegando que seu passaporte foi extraviado. Por conta do ocorrido, a PF acusa Fernanda Farias também do crimes de falsidade ideológica.
Ação policial
Na semana passada, a PF e o Ministério Público Federal já haviam realizado mais uma operação contra a Braiscompany Braiscompany, a empresa paraibana acusada de montar uma pirâmide bilionária usando criptomoedas.
A ação foi chamada de Trade-off.Trata-se da quarta fase da Operação Halving, que no início deste ano derrubou o esquema da Braiscompany e expediu mandados de prisão contra Fabrícia Campos e Antônio Neto Ais.
A dupla foi recentemente intimada a prestar depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras instaurada na Câmara dos Deputados para investigar os esquemas que usam criptomoedas para enganar investidores brasileiros.
Fracasso de leilão e prisão de ex-funcionários da Braiscompany
No início de julho fracassou o leilão de bens apreendidos dos donos da Braiscompany, sem nenhum comprador demonstrar interesse nas duas primeiras ofertas. Agora, os mesmos bens voltarão a ser leiloados em agosto.
Os mesmos bens colocados à venda no leilão anterior — três carros de luxo e um jet ski, avaliados em R$ 1.355.000 — estarão de volto no novo leilão de agosto. Um diferencial dessa nova oferta será a inclusão de mais um jet ski que não havia sido divulgado no primeiro leilão, avaliado em R$ 95 mil.
Uma vez que esses bens já foram ofertados ao público, quando voltarem a ser leiloados em agosto, os compradores poderão arrematá-los com 20% de desconto sobre o preço de avaliação original — com exceção do jet ski de R$ 95 mil, que não estava no primeiro leilão.
Já em junho, a polícia prendeu três ex-funcionários da Braiscompany. A prisão foi executada pela delegacia de Foz do Iguaçu, no Paraná, região de fronteira do Brasil com Argentina e Paraguai, após o serviço de inteligência da PF localizar os alvos.
As autoridades confirmaram que os três ex-funcionários da Braiscompany eram foragidos da Operação Halving, de fevereiro.
“Minha responsabilidade”
“A RESPONSABILIDADE É TOTALMENTE MINHA!” Foi assim, em caixa alta e com ponto de exclamação, que Antônio Neto Ais assinou um comunicado publicado em março em sua conta do Instagram.
Foi a única comunicação pública do criador da Braiscompany desde a operação policial que derrubou o esquema, exatamente um mês antes.
Apesar da bombástica frase em que assume responsabilidade, a maior parte do comunicado de Ais é dedicada exatamente ao contrário: tentar se isentar de culpa pelo desfalque dado a milhares de clientes da Braiscompany. “Não somos compreendidos. Somos perseguidos, ameaçados, extorquidos, pressionados”, afirma.
Na sequência, o empresário ressalta ser vítima de perseguição, dizendo que “Nos encontramos sem recursos, sem carro, sem casa, sem liberdade! Totalmente reféns dessa situação”. Não há nenhuma palavra no texto dedicada a explicar o porque dessa suposta penúria, após ele a mulher terem raspado as contas bancárias antes de fugirem da polícia.
No comunicado, Ais diz ainda que vários fatores externos foram os responsáveis pelos calotes nos investidores da empresa: “A queda do Bitcoin e do mercado cripto como um todo (…); a quebra da FTX; sem falar na pressão de autoridades (…) nas quais a verdade sobre esse assunto chegará o tempo, e tudo virá à tona”
Nenhum desses fatores havia sido mencionado anteriormente por ele. Desta vez, tampouco houve alguma citação à Binance, corretora de criptomoedas, que o empresário havia apontado anteriormente como a responsável pelo atrasos nos pagamentos.
“Não tive a intenção de fazer mal, não estava planejado mas falhei diante de tudo que já foi dito”, finaliza Neto Ais, que já participou de pelo menos três outras pirâmides financeiras antes de criar a Braiscompany.
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