A guerra que se desenrola no leste europeu está tendo um efeito nítido no mercado de criptomoedas, principalmente nos dois países envolvidos: Rússia e Ucrânia.
Desde que a guerra começou no dia 24 de fevereiro, as negociações de criptoativos no território russo aumentaram 231%, segundo dados da CoinShares divulgados na quinta-feira (10).
Neste intervalo de três semanas, os ucranianos também recorreram aos criptoativos, gerando um aumento de 107% no volume de negociação desde o início do confronto com o país vizinho.
Os cidadãos de ambos os países usam criptomoedas de formas diferentes e, como é possível ver no gráfico abaixo, o uso dessa alternativa é muito mais intenso na Rússia.
“Quando os tempos são desesperadores e onde os bancos não funcionam corretamente, muitas vezes é altamente arriscado transportar dinheiro físico. Este é o caso de muitos ucranianos e russos atualmente. Os criptoativos são vistos como uma alternativa atraente”, escreveu James Butterfill, líder de pesquisa da CoinShares.
A Rússia é bombardeada por sanções econômicas desde que invadiu o território ucraniano, algo que faz o rublo russo enfrentar uma forte desvalorização. Esse é um dos fatores que incentiva os russos a buscar proteção tanto no bitcoin como em criptomoedas lastradas ao dólar.
Rússia e Ucrânia viram os volumes diários de negociação subirem para US$ 80 milhões por dia. A maior parte dessas movimentações acontecem com as stablecoins Tether (USDT) e Binance USD (BUSD). Além disso, um volume significativo de bitcoin e Ethereum (ETH) também foi notado na análise.
Leia Também
“Acreditamos que as criptomoedas estão sendo usadas como proteção contra a queda de moedas domésticas e por sua portabilidade, particularmente importante para refugiados ucranianos, permitindo que eles cruzem fronteiras sem o risco de confisco/roubo de seus ativos”, explicou Butterfill.
Como russos e ucranianos usam criptomoedas
Além do quesito de proteção, as criptomoedas também são úteis para a população atingida pela guerra ao facilitar o trânsito livre de dinheiro. Por essa razão, o governo ucraniano começou a pressionar as corretoras de criptomoedas a bloquear contas de russos.
Inicialmente, o vice-primeiro-ministro ucraniano Mykhailo Fedorov, ofereceu uma recompensa “generosa” para quem ajudasse a identificar carteiras cripto de políticos russos e bielorrussos.
Em seguida, Fedorov passou a pedir que as exchanges bloqueassem as contas de todos os russos, até mesmo da população comum. Esse pedido, no entanto, não foi bem recebido pelas empresas do setor.
Binance e Kraken se negaram a bloquear contas de milhares de clientes inocentes. Já a Coinbase disse que só faria bloqueios se fosse obrigada pelo governo americano — algo que veio a acontecer posteriormente.
No início da semana, a Coinbase bloqueou mais de 25 mil endereços ligados à Rússia que acreditava estarem associados a atividades ilícitas e escapando das sanções impostas desde o início da guerra.
“Sanções têm um papel vital em promover a segurança nacional e reprimir agressões ilegais e a Coinbase apoia completamente essas iniciativas por autoridades governamentais”, disse na ocasião o diretor-jurídico da corretora, Paul Grewal.
Se por um lado as autoridades se preocupam que russos estejam usando criptomoedas para fugir das sanções, o governo ucraniano adotou os ativos digitais para arrecadar doações. A estimativa da Elliptic é que a Ucrânia já recebeu US$ 63 milhões em criptomoedas de apoiadores ao redor do mundo até quarta-feira (9).