Sam Bankman-Fried, fundador da exchange de criptomoedas FTX foi condenado nesta quinta-feira (28) a 25 anos de prisão, após ter sido declarado culpado em novembro passado de sete acusações de fraude e conspiração.
A pena máxima a qual SBF, como também é conhecido o executivo, poderia pegar era de 115 anos, mas especialistas já esperavam que o resultado fosse bem abaixo disso. A decisão ficou nas mãos do juiz federal Lewis A. Kaplan, que decidiu por 25 anos.
“Não estou diminuindo o dano. A audácia de suas ações. Sua flexibilidade excepcional com a verdade. Sua aparente falta de qualquer remorso”, disse o juiz pouco antes de proferir a sentença final, de acordo com perfil no X Inner City Press, que acompanha ao vivo a audiência.
“Quando [Sam] não estava mentindo, ele era evasivo, arrumando o cabelo, tentando fazer com que os promotores reformulassem as perguntas para ele. Eu faço esse trabalho há quase 30 anos. Nunca vi uma atuação como essa.”
“Ele sabia que estava errado”, diz juiz
Depois dos pronunciamentos da defesa e acusação na audiência desta manhã, foi a vez do juiz Kaplan falar. Ele não pegou leve e cravou: “Este foi um crime financeiro enorme.”
“Em 15 ou 16 de novembro, ele [Sam] foi entrevistado por um repórter que perguntou “Você disse muitas coisas sobre boas regulamentações — isso também foi apenas relações públicas?” Ele: “Sim, dane-se os reguladores”, relembrou o juiz.
“Ele era um homem disposto a jogar uma moeda para decidir sobre a continuação da existência da vida na terra. O Sr. Bankman-Fried sabia que a Alameda estava gastando fundos de clientes em investimentos arriscados, contribuições políticas e imóveis nas Bahamas. Os fundos não eram dele para usar”, continuou.
“O Sr. Bankman-Fried tem o direito de se declarar inocente e ir a julgamento. Todo mundo tem esse direito e eu não o condeno por isso”, disse o juiz antes de dar sua sentença final: 25 anos de cadeia para Sam Bankman-Fried.
Juiz rejeita argumentos da defesa
Com base “nas leis e nos fatos”, o juiz Kaplan iniciou a audiência rejeitando o argumento da defesa de SBF de que o colapso da FTX não gerou prejuízos aos investidores.
“A afirmação de que clientes e credores serão pagos integralmente é enganosa. Os crimes incluíram a apropriação indébita de dinheiro de clientes da FTX, ao qual o réu não tinha direito, e seu uso em investimentos especulativos pela Alameda e uma variedade de outras coisas”, disse o juiz.
Ele também descartou o argumento da defesa de que a valorização das criptomoedas desde o colapso da FTX torna menos grave os crimes de Bankman-Fried.
“Um ladrão que leva seu saque para Las Vegas e aposta com sucesso não tem direito a uma redução de sentença”, comparou o magistrado, dizendo que a afirmação de que as vítimas serão reembolsadas é ainda apenas uma especulação.
No cálculo final do juiz, os investidores da FTX perderam US$ 1,7 bilhão, os credores perderam US$ 1,3 bilhão e os clientes, US$ 8 bilhões. No total, o prejuízo deixado pela corretora de SBF excede US$ 10 bilhões.
O juiz Kaplan também afirmou que SBF cometeu obstrução da justiça ao tentar subornar uma testemunha.
“A mensagem do Sr. Bankman-Fried para o ex-consultor jurídico de fato constituiu tentativa de suborno de testemunha. Também concluo que o Sr. Bankman-Fried prestou falso testemunho no julgamento – ele afirmou falsamente que até o outono de 2022 não tinha conhecimento de que a Alameda havia gasto fundos de clientes da FTX. Ele afirmou falsamente que soube dos US$ 8 bilhões pela primeira vez em outubro de 2022.”
Os advogados de SBF não quiseram fazer comentários ao juiz sobre essas acusações.
Vítima rebate SBF
Uma vítima da FTX teve a oportunidade de falar durante a audiência. Um investidor de Londres chamado Sunil Kavuri disse ser falso o argumento de SBF que o prejuízo da quebra da FTX foi zero.
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Ele também reclamou das ações da massa falida da FTX, dizendo que os clientes têm direito de propriedade sobre as criptomoedas presas na corretora e que a liquidação desses ativos com descontos de até 70% está “destruindo o valor dos fundos dos clientes”.
“Pelo menos três pessoas cometeram suicídio por causa desta fraude da FTX. O que eu sinto é que isso também me machucou. Sam e outros co-conspiradores, auxiliadores e cúmplices, precisam ser responsabilizados”, finalizou a vítima.
Em seguida, foi a vez da defesa de Sam Bankman-Fried se pronunciar. O advogado Marc Mukasey iniciou dizendo que “entende a dor” dos investidores da FTX, mas logo passou para a defesa da inocência de SBF, definindo-o como um “nerd matemático desajeitado”.
“Ele não queria infligir dor a ninguém de forma alguma. Ele toma decisões com matemática na cabeça, não malícia no coração. Ele é um nerd matemático desajeitado. Ele é adepto do veganismo. Ele tem um intelecto fora do comum. Ele consegue analisar palavras melhor do que um estudioso talmúdico e era um bilionário sem preocupações com posses materiais”, disse Mukasey.
O pronunciamento de Sam Bankman-Fried
Assim como seu advogado, Sam Bankman-Fried começou seu julgamento lamentando suas ações que levaram ao colapso da FTX e reconhecendo o trabalho de seus colegas que ele disse ter “jogado tudo fora”, algo que o “assombra todos os dias”.
Ele também relembrou os ocorridos que levaram a queda da FTX: “Tomei uma série de decisões erradas. Elas não foram decisões egoístas. Isso culminou com uma série de outros fatores, crise. A Alameda não faliu, a FTX também não — os ganhos da Alameda foram perdidos, estava mais alavancada do que deveria. Tivemos que liquidar para atender à corrida na FTX. A FTX teria sobrevivido, a Alameda não”, disse.
Mais uma vez, SBF garantiu que na época os clientes da FTX poderiam ter sido reembolsados. “Havia ativos suficientes. Não é por causa do aumento do preço das criptomoedas, isso não ajudou, simplesmente havia o suficiente. Por que eles não foram reembolsados? Havia, para ser justo, uma crise de liquidez. Isso foi em parte minha culpa”, reconheceu.
“Eu era o CEO da FTX, eu era seu líder, isso significa que eu era responsável no final do dia. Não importa por que as coisas dão errado, se você é o CEO, é sua culpa… Minha vida útil provavelmente acabou. Eu já dei o que tinha para dar há muito tempo”, continuou.
“Os clientes têm sofrido, mas, no final do dia, parece que finalmente serão pagos, valor atual dos ativos. Isso é verdade também para os credores e investidores. Eu acho que gostaria de ter conseguido fazer mais para ajudar nisso, acho que falhei. Não tenho certeza do porquê, mas eu acho que fiz.”
Por fim, ele argumentou que ainda existe a oportunidade de fazer coisas boas que pensou que faria pelo mundo, caso receba uma pena mais branda. “Se as pessoas fizerem o que podem pelo mundo, espero poder ver o sucesso delas, não apenas os meus próprios fracassos”, finalizou.
Do lado oposto, o procurador dos EUA, Nicolas Roos, foi enfático em dizer que Samuel Bankman-Fried roubou US$ 8 bilhões dos investidores. “Foi um roubo, dos clientes espalhados por todo o mundo. Foi uma perda que impactou significativamente as pessoas e causou danos.”
O caso FTX
A derrocada da FTX começou quando o site de notícias CoinDesk revelou que a Alameda Research, empresa de trade “irmã” da FTX e também fundada por Sam Bankman-Fried, tinha uma parte significativa de seus recursos no token nativo da exchange, o FTT. Com a revelação, o CEO da rival Binance, Changpeng “CZ” Zhao, disse que iria vender suas participações no ativo.
Isso levou a uma corrida desenfreada de clientes querendo sacar seus recursos da FTX, que perdeu o controle e não conseguiu mais atender a demanda de saques, levando a um cenário de suspensão de retiradas de fundos e atrasos de pagamentos.
A Binance ainda chegou a fazer uma oferta para comprar a FTX, prometendo que iria resgatar a empresa e garantir que os clientes recuperassem seus recursos. Porém, a exchange desistiu da aquisição ao avaliar a empresa de perto, o que levou a uma nova onda de problemas diante de acusações de mau uso dos recursos de clientes.
No dia 11 de novembro a FTX entrava com pedido de recuperação judicial e paralisava sua operação, com a renúncia de Sam Bankman-Fried e a entrada de John J. Ray III para o posto. Tendo participado de processos importantes de falência na história, como o da Enron, Ray III criticou as finanças da exchange tão logo assumiu o cargo.
Com todos esses problemas e novas denúncias surgindo a cada dia, Bankman-Fried acabou preso no dia 12 de dezembro de 2022 nas Bahamas, onde ficou apenas 10 dias até ser solto com o pagamento de fiança, retornando em seguida aos EUA.
Em agosto de 2023, SBF voltou a ser preso e em outubro foi julgado por sete crimes e declarado culpado de todos.
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