Preso desde 2021 em Goiás, o sul-africano Cornelius Johannes Steynberg, fundador e CEO da Mirror Trading International (MTI), coordenou um esquema bilionário de pirâmide financeira com criptomoedas nos Estados Unidos, onde foi condenado a pagar uma multa de US$ 3,4 bilhões. Na época, essa representou a maior multa civil já aplicada pela Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities (CFTC).
Agora o caso volta a ganhar atenção após o presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema de Execução Penal no Estado de Goiás (SINSEP-GO), Maxsuel Miranda das Neves, denunciar que Steynberg tem tido regalias e acesso a computador dentro da prisão.
Em vídeo compartilhado na página do Goiás 24 Horas, Neves solicita uma explicação do diretor geral da Polícia Penal, Josimar Pires Nicolau do Nascimento, acusado de permitir as infrações. Neves afirma que as denúncias já foram devidamente registradas.
Ele afirma que o advogado de Steynberg tem agenda reservada para fazer visitas, enquanto sua esposa tem acesso ao complexo penitenciário sem precisar fazer agendamento.
Além disso, Neves diz que o fundador da MTI esteve dentro da sala do diretor do núcleo de custódia com seu advogado e acesso à internet. Ele questiona se na ocasião o acusado realizou algum tipo de operação no computador, já que está preso justamente por praticar fraude com criptomoedas.
Após as acusações públicas, o presidente do sindicato afirmou que irá denunciar o caso no FBI, Interpol, embaixada dos EUA e ao juiz responsável pelo caso no Brasil.
Polícia Penal vai investigar denúncia
Procurada pelo Portal do Bitcoin, a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) do Estado de Goiás informou que instaurou um procedimento de apuração interna, pela Corregedoria da Polícia Penal, para apurar a denúncia do presidente do Sinsep, de que um custodiado teria direito a regalias não autorizadas dentro do Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia.
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“A Polícia Penal reafirma que o fato está sendo apurado com seriedade e compromisso com a legislação. Ao final da apuração, será feita a divulgação do resultado. Por fim, a DGAP reitera acreditar no trabalho sério e probo dos servidores desta instituição, que têm feito muito pela segurança pública do Estado de Goiás”, diz a nota.
Relembre o caso
Cornelius Johannes Steynberg foi condenado nos EUA por cometer fraudes em transações com moeda estrangeira e outras violações ao operar o esquema de pirâmide da MTI. Por isso foi condenado a pagar US$ 3,4 bilhões em multas.
Entre 2018 e 2021, Steynberg captou pelo menos 29.421 bitcoins de pelo menos 23 mil investidores nos EUA e em outros países, para participação em um pool de commodities não registrado operado por sua empresa.
Através do seu negócio, Steynberg cobrava um depósito de no mínimo US$ 100 em Bitcoin dos investidores, com a promessa de oferecer a eles 10% do valor todos os meses. “Tudo que você precisa fazer é sentar e relaxar”, informava a Mirror Trading International em seu site.
O empresário fundou em abril de 2019 a empresa que explicava operar com um “software digital avançado e inteligência artificial (IA) para negociar nos mercados internacionais de Forex”. O modelo de negócio era parecido com o de outras empresas brasileiras suspeitas de pirâmide, como Atlas Quantum e Binary Bit.
Em setembro de 2021, no entanto, Steynberg parou de pagar os investidores. Poucos meses depois, a Financial Sector Conduct Authority (FSCA, a Comissão de Valores Mobiliários da África do Sul) entrou com ações criminais contra a MTI.
Depois descobriu-se que ele estava escondido no Brasil desde dezembro de 2020, sendo preso apenas um ano depois, no fim de 2021. Desde então, ele continua detido em Goiás.
* Atualização: A reportagem foi atualizada às 15h16 para incluir o posicionamento da Polícia Penal do Estado de Goiás.
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