É de se esperar que o inventor da segunda maior criptomoeda do mundo se gabe de todo o sucesso.
Mas Vitalik Buterin, o cofundador do Ethereum, está preocupado em entender como ele se sente sobre sua criação, que se tornou o epicentro das Finanças Descentralizadas (ou DeFi, na abreviatura em inglês), dos tokens não fungíveis (ou NFTs) e das organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs).
Em uma série de tuítes publicados na segunda-feira (16), Buterin apresentou dez contradições em seus valores sobre as quais ele está refletindo — e grande parte delas lida, direta ou indiretamente, com o que a Web 3 e o Ethereum deveriam ser.
Contradições
Em primeiro lugar, o Buterin admite que, embora ele adore o etos da descentralização, ele geralmente pende para o lado das “elites intelectuais” do que com o da “massa”.
Ele também entra em conflito sobre a direção à qual tais participantes em um ecossistema descentralizado estão levando o Ethereum.
Buterin destaca a “contradição entre meu desejo de ver o Ethereum se tornar [uma rede de primeira camada] que possa sobreviver a circunstâncias verdadeiramente extremas e minha compreensão de que muitas aplicações fundamentais no Ethereum já dependem de hipóteses de segurança bem mais frágeis do que qualquer outra coisa que consideramos ser aceitável no design do protocolo Ethereum”.
Em outras palavras, ele está preocupado que a segurança da blockchain esteja sendo usada de formas não tão seguras.
Geralmente, as “aplicações fundamentais” na rede são para coisas que ele não considera valiosas, como os “macacos de US$ 3 milhões” — uma referência aos Bored Apes e outros NFTs de foto de perfil que proliferam em mercados do Ethereum.
OpenSea, o maior mercado, é a aplicação mais utilizada do Ethereum nos últimos 30 dias, segundo o site DappRadar, com mais de 360 mil usuários e US$ 2,2 bilhões de volume negociado.
Em 2021, Buterin afirmou que NFTs eram o caso de uso mais surpreendente para ele. Em março, ele esclareceu que não “odiava os Apes”, mas sim que estava a favor do financiamento de bens públicos em vez da participação na especulação do mercado de NFTs.
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Mas Buterin sugere que precisa aceitar o lado bom e o ruim, afirmando perceber que “essas coisas são uma grande parte do que mantém a economia cripto funcionando e paga por todos os meus experimentos legais e preferidos de DAO/governança”.
DAOs são grupos de pessoas que gerencia fundos e/ou um protocolo de tecnologia por meio do uso da votação tokenizada em uma blockchain.
Em abril, Buterin havia elogiado Optimism, protocolo de escalabilidade do Ethereum, por testar uma DAO que utiliza votação quadrática — um método que ele propôs como uma forma de evitar que “baleias” (investidores com grandes quantias) tenham um impacto descomunal no desenvolvimento do protocolo e no gerenciamento de caixa.
Imagem
Buterin é, sem dúvidas, uma das imagens públicas mais conhecidas do setor cripto. Em 2008, o pseudônimo Satoshi Nakamoto publicou o whitepaper do Bitcoin e, em seguida, passou os próximos dois anos trabalhando para lançar a rede.
Até o fim de 2010, Nakamoto havia desaparecido, ressurgindo apenas uma vez para contradizer uma reportagem da Newsweek que afirmava que um engenheiro da Califórnia era o criador do Bitcoin.
Embora Satoshi tenha chamado bastante a atenção em apenas dois anos, sua criação só deu certo quando ele sumiu. Não se sabe se suas opiniões mudaram dado o contínuo desenvolvimento da tecnologia blockchain e do setor Web 3. Satoshi gostou do que o Bitcoin se tornou ou ele estaria mais interessado no Bitcoin Cash ou Bitcoin Satoshi Vision?
Mas Vitalik Buterin, que já havia idealizado o Ethereum em julho de 2015, possui um registro público de seus pensamentos a cada marco histórico do Ethereum.
Sua confissão de que ele não sabe de tudo é um contraste gritante a muitos outros criadores de criptomoedas (incluindo Do Kwon, do Terra), que atuam como marqueteiros de suas redes e ativos relacionados — com pouca pausa para fazerem reflexões.
Essa mentalidade pode ser notada nas respostas aos tuítes de Buterin. Charles Hoskinson, um dos cofundadores do Ethereum que acabou criando a rede blockchain adversária Cardano, respondeu: “Não é tarde demais para vir para a Cardano…”.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.