“Algo tão insignificante em relação ao mercado financeiro globalizado como o universo paralelo das bitcoins, a moeda privada não garantida pelo Estado, pode desencadear um desastre de proporções catastróficas”. A análise foi feita pelo economista José Carlos de Assis em coluna no portal de esquerda Diário do Centro do Mundo (DCM) na segunda-feira (20)
Assis define a “bitcoin” (aqui usada como sinônimo de criptomoeda) como o “equivalente contemporâneo” de uma pirâmide financeira e “ganha nela quem entra primeiro e sai primeiro. O sujeito que entra paga pelo que sai.”
O articulista responde ao paradoxo levantado por ele mesmo do mercado de criptomoedas ser “insignificante”, mas ao mesmo tempo ter o poder de desestabilizar a economia mundial.
“Até que ponto um mercado restrito como o da bitcoin pode afetar o gigantesco mercado financeiro globalizado?”, questiona.
Sem governo por trás
Assis, que é professor de economia internacional na Universidade Estadual da Paraíba, entende que nesse universo, caso ocorra um efeito manada no qual pessoas comecem a liquidar ações/ativos, outras farão o mesmo por verem as primeiras fazerem — e a proporção pode ser gigantesca.
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Primeiro pela facilidade de vender a criptomoeda, tudo feito e instantes pelo celular. Segundo pela não possibilidade de um Estado tradicional salvar esse mercado, como o governo dos Estados Unidos fez com o sistema financeiro em 2008. E terceiro pelo fato do valor das criptomoedas mascarar a percepção de valor que esse mercado gira.
“A Psicologia diz que pessoas comuns não conseguem conceituar valores absolutos acima de mil. Mas conseguem avaliar valores relativos. R$ 1 bilhão como valor absoluto não faz muito sentido, mas R$ 20 bilhões, ou seja, algo 20 vezes maior que R$ 1 bilhão, despertam atenção. Alguém que esteja aplicado em bitcoin não dá muita importância a um golpe de R$ 1 bilhão, mas fica assustado quando se fala em 20 vezes mais. É o dinheiro dele que está em risco. Ele o põe instantaneamente onde quiser. Na dúvida, pula fora. Outros o seguem. Eis o efeito manada.”
Mercado em queda
O sistema financeiro mundial passa por um momento de dificuldade e expectativa. O setor de criptomoedas despencou da última semana para cá, e o S&P 500, o Dow Jones Industrial Average e os mercados de ações globais, estão em desaceleração.
Ao mesmo tempo, o mercado de criptomoedas ganha cada vez mais legitimidade das entidades financeiras tradicionais. O BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, anunciou nesta segunda-feira (20) o lançamento da Mynt, plataforma que permite compra e venda de criptomoedas.
Além disso, Roberto Sallouti, CEO do banco, disse em seu perfil no LinkedIn que recomenda que os investidores tenham até 2% da carteira de investimento em criptomoedas. “Quem quiser investir nestes ativos, sempre recomendamos que seja uma parcela pequena de seu portfólio, até 2% de sua carteira de investimentos”, escreveu o executivo.