“Tem muita gente me procurando todo dia. Praticamente só fico atendendo o Direct aqui do escritório para clientes da Braiscompany“.
A frase é da advogada Larissa Gatto, que após ser vítima da GAS Consultoria, pirâmide financeira criada pelo chamado Faraó do Bitcoin, especializou-se em golpes financeiros e agora vê uma legião de seus clientes em desespero com os constantes atrasos nos pagamentos da empresa de Antonio Neto Ais.
Em entrevista ao Portal do Bitcoin nesta quinta-feira (12), Gatto afirma que os clientes estão em agonia e que muitos dos que estão se consultando com ela são vítimas de outras pirâmides e que viram na Braiscompany uma forma de salvar a vida financeira.
“As pessoas estão desesperadas. Até porque muitas já tem o trauma da GAS e meio que estão vendo a história se repetir. Alguns com muito dinheiro, muito dinheiro mesmo. Outros com valores um pouco menores, pois já haviam sido lesados pela GAS, mas muita gente”, afirma Gatto.
A história da advogada começa como vítima da GAS. Ela conta que foi convencida por familiares a entrar na pirâmide montada pelo Faraó do Bitcoin e que naquele momento pouco se sabia sobre criptomoedas. “Após eu perder muito dinheiro passei a estudar sistematicamente esse tipo de negócio . E hoje defendo pessoas de golpes financeiros”, diz.
Gatto afirma que, por enquanto, nenhum de seus clientes resolveu acionar judicialmente a Braiscompany. “Eles buscam orientação e a que eu dou é: peça resgate do seu saldo e se não for debitado na conta, acione de forma judicial imediatamente. Quanto antes acionar é mais fácil de achar recursos para penhorar e reaver o valor”, ressalta.
A advogada afirma que está analisando qual a melhor estratégia jurídica caso a Braiscompany assuma publicamente que não irá mais pagar os clientes. “Estou pensando em uma alternativa aqui do que é melhor fazer para eles: se de repente eu entro com uma ação coletiva ou individuais mesmo, dependendo do valor de cada um”, pondera.
Pessoalmente, a advogada tem um prognóstico nada animador: “Eu tenho para mim que a Braiscompany vai ser uma segunda GAS. Acho que nos próximos meses a notícia que a gente vai ter da Braiscompany não vai ser nada boa. Ela já está dando todo o indício de que vai parar”.
Série de atrasos de pagamento
A atual crise da Braiscompany começou no dia 21 de dezembro do ano passado, quando começaram a surgir relatos nas redes sociais sobre atraso de pagamento. A desculpa dada naquele momento era que haviam problemas com um novo aplicativo.
Depois, no dia 30 de dezembro, mais uma leva de atrasos. Um investidor que tem R$ 15 mil presos na Braiscompany e que pediu para não ter seu nome divulgado, mostrou ao Portal do Bitcoin o e-mail em que a empresa justifica o atraso citando “inconsistências nos endereços de algumas carteiras”.
Agora, na terça-feira (10), mais um atraso. Além disso, novas informações publicadas na imprensa também apontam que a Braiscompany está atrasando outros tipos de pagamentos, como o de imóveis alugados.
Segundo o blog do jornalista Maurílio Junior, o ex-deputado do Distrito Federal, Leonardo Prudente, está tomando medidas legais contra a empresa por escritórios cujos aluguéis de R$ 40 mil não são pagos desde setembro pela Braiscompany.
Passado da Braiscompany
No passado, a Braiscompany foi acusada de ser uma pirâmide financeira por Tiago Reis, o criador da casa de análises Suno Research, conhecido por denunciar fraudes no mercado.
Na ocasião, Reis disse que a empresa promete rendimentos irreais, típico de pirâmide financeira. “O que eu faria de se fosse ‘investidor’ por lá? Iria na sede agora e tentaria fazer o resgate antecipado”, disse na ocasião o influenciador com mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram.
As desconfianças em torno da empresa não surgiram em vão. Antonio Neto Ais e Fabricia Ais, o casal que comanda a Braiscompany, já chegaram a ser alvos de 20 ações na Paraíba por participação no golpe D9 Club, que lesou investidores em mais de R$ 200 milhões.
Além de Tiago Reis, o polêmico trader Raiam Santos também já denunciou a Braiscompany no passado. “Já avisei com Unick, DD Corporation, todas elas. A próxima a cair é a Braiscompany. É a operação faraó acabando com todas as pirâmides do Brasil”, disse ele dois anos atrás.
Naquele ano de 2020, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Ministério Público da Paraíba (MPPB) abriram investigação contra o grupo.
As suspeitas em torno da Braiscompany continuaram ganhando força em 2021, quando a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) precisou vir a público desmentir uma alegação da Braiscompany que dizia ter licença da entidade para operar no Brasil.
Em nota oficial, a ANBIMA afirmou que a Braiscompany mentiu ao dizer que possui o selo da entidade, pois não é sua associada nem aderente aos Códigos de Melhores Práticas da ANBIMA.
A entidade disse que a empresa usou indevidamente a marca da Associação em eventos e materiais publicitários, ameaçando na época tomar todas as medidas cabíveis para inibir o uso indevido da marca da ANBIMA pela Braiscompany.
Cercada de polêmicas, a Braiscompany foi expulsa do reality show Batalha das Startups da TV Record pela empresa Inova360, responsável pelo programa.
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