Parte dos clientes da Braiscompany chegou ao ano novo com o bolso vazio devido ao atraso — pelo segundo mês seguido — do pagamento dos rendimentos que a empresa diz obter com a “locação de criptoativos”, esquema acusado de ser pirâmide financeira por Tiago Reis, o CEO da Suno Research.
O último pagamento de 2022, programado para acontecer no dia 30 de dezembro, ainda não foi feito até esta quinta-feira (5) para parte dos clientes do grupo, chegando a uma semana de atraso.
Um investidor que tem R$ 15 mil presos na Braiscompany e que pediu para não ter seu nome divulgado, mostrou ao Portal do Bitcoin o e-mail em que a empresa justifica o atraso citando “inconsistências nos endereços de algumas carteiras”.
No e-mail, o cliente era obrigado a informar novamente seu endereço de Bitcoin (BTC) e Tether (USDT) de destino dos pagamentos, bem como enviar um vídeo de si mesmo confirmando as informações. Ele cumpriu todas essas solicitações na segunda-feira, mas até esta quinta não recebeu o pagamento prometido.
“Os atrasos estão causando desconfiança com certeza, muito provavelmente vou tirar o dinheiro de lá no término do contrato”, diz o cliente que precisa deixar seu aporte inicial travado na Braiscompany por um ano.
![](https://portaldobitcoin.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/01/email-braiscompany-sobre-atraso-de-pagamentos.png)
‘Boom’ de reclamações
No Instagram da Braiscompany, comentários de investidores questionando quando vão receber os pagamentos podem ser vistos antes que a empresa entre em ação para excluir as críticas que recebe, deixando apenas os elogios visíveis nas publicações.
Um investidor de Campina Grande (PB), cidade sede da Braiscompany e onde está a maioria de seus clientes, contou à reportagem que várias pessoas da sua família investem no grupo e também estão sofrendo com os atrasos.
“Muitas pessoas que investem lá falam que está tudo bem, tentando convencer a si mesmas. Mas não está tudo bem. Fico preocupado porque são muitas pessoas que conheço com dinheiro lá, parentes e até amigos que venderam carro para investir”, diz o jovem cujo contrato de R$ 20 mil encerra no final de janeiro.
Ele não pretende renovar à medida que sua desconfiança em torno da Braiscompany aumenta. Ele disse que já perdeu dinheiro na pirâmide financeira da G44 Brasil, e vê semelhanças com o que está acontecendo agora com as operações da Braiscompany. Afinal, ambas empresas captavam dinheiro de investidores com a promessa de entregar altos rendimentos com criptomoedas, até mesmo em mercado de baixa.
“Eles fizeram a mesma coisa que a Braiscompany está fazendo. Quando começaram os atrasos, eles [G44] se justificavam dizendo que estavam fazendo os pagamentos manuais. Depois também lançaram um token e um aplicativo, mas nada funcionou”, relembra.
Atrasos em cascata
Foi justamente o lançamento do Brais App, previsto para acontecer no dia 28 de dezembro, que causou o primeiro atraso dos pagamentos no dia 20 de dezembro, segundo a empresa.
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O que chama atenção é o fato de que a Braiscompany não usa aplicativo ou um sistema interno para efetuar o pagamento dos clientes. Ao invés disso, envia os supostos lucros mensais diretamente para a carteira de bitcoin informada pelo usuário e mantida em corretoras de criptomoedas, como a Binance.
O aplicativo sequer foi lançado no dia previsto — embora a Braiscompany tenha feito uma grande festa para a ocasião, regada a champagne e atrações musicais — e segue fora do ar até hoje. Na confraternização, a empresa também anunciou a criação da sua própria criptomoeda, a Brais Token, cuja data de lançamento ainda não foi informada.
A Braiscompany foi questionada sobre os atrasos, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
Operações da Braiscompany
Nos mesmos posts do Instagram de dezembro da Braiscompany em que clientes reclamavam dos atrasos, a empresa ostentava sua capacidade de ser capaz de entregar retornos positivos todos os meses através do trade de criptomoedas, mesmo em um ano de bear market.
Até mesmo os principais e mais confiáveis criptoativos do mercado viram seus preços caírem pela metade em 2022. A título de comparação, as três criptomoedas com o maior valor de mercado, Bitcoin, Ether e BNB, acumularam perdas no ano passado de 64%, 67% e 53%, respectivamente.
A Braiscompany, no entanto, garante ter passado ilesa pelo inverno cripto. Mais do que isso, alega ter obtido um lucro de 83,2% para os clientes só em 2022. “Em quatro anos entregamos 342,41% de performance aos nossos clientes”, disse em um post no Instagram.
No passado, a Braiscompany foi acusada de ser uma pirâmide financeira por Tiago Reis, o criador da casa de análises Suno Research, conhecido por denunciar fraudes no mercado.
Os líderes da Braiscompany, o casal Antonio Neto Ais e Fabricia Ais, também foram citados em processos judiciais por ligação com a pirâmide financeira D9 Club, bem como foram alvos de investigação da CVM e Ministério Público da Paraíba (MPPB). Para somar ao passado polêmico dos executivos da Braiscompany, eles já foram desmentidos pela ANBIMA após simular que tinham o selo de segurança da entidade — algo que não possuíam.
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