Imagem da matéria: Há um ano, CZ recebia a chave do Rio e fazia promessas para o Brasil; Hoje, admite crimes e diz adeus à Binance | Opinião
CZ, CEO da Binance, durante a sua passagem no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/Twitter)

Março de 2022 foi em outra galáxia, remota e muito mais distante do que fazem crer os 20 meses de distância. Na época, o mercado cripto vinha de seu momento mais glorioso, com a lembrança ainda fresca do Bitcoin a US$ 69 mil pouco tempo antes. Sam Bankman-Fried ainda perambulava pelos gabinetes do alto escalão político nos Estados Unidos, Luna continuava a fazer brilhar os olhos dos investidores e as esperanças eram infinitas. E, acima disso tudo, Changpeng “CZ” Zhao pairava como uma divindade. 

O sino-canadense fundador da Binance, resolveu fazer um tour pela América do Sul e a cidade mais famosa do subcontinente não poderia ficar de fora. Mas, como já virou costume quando o assunto envolve o empresário e sua corretora, as informações eram escassas e uma incerteza constante dominava o falatório. “CZ vai vir”, era o boato que corria na Ethereum Rio

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Ao longo dos três dias de evento, esse foi o rumor mais propagado. Meu editor aqui no Portal do Bitcoin me perguntava diversas vezes ao dia como estava a situação. Eu, gastando sola de sapato no Museu do Amanhã, perguntava para todos que encontrava se sabiam de algo. 

E o que parecia apenas uma fofoca ganhou corpo. E cresceu: CZ viria e ainda faria um painel de debate com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. A assessoria de imprensa finalmente confirmou o básico: CZ passaria pelo evento. 

Um frenesi tomou conta de todos e tudo culminou com CZ falando no palco com Chicão Bulhões, secretário de Paes, que não pode comparecer.

A megalomania naquele momento não tinha freios. CZ prometeu abrir grandes escritórios no Rio e em São Paulo e contratar 5 mil pessoas para a operação no Brasil. Antes de sair do palco, o empresário acalmou a multidão: “Não precisam se apressar, eu vou tirar fotos com todos”. 

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Ele não estava sendo presunçoso. No salão ao lado do auditório, uma multidão se formou e cercou CZ. Claramente acostumado, o CEO da Binance tirou pacientemente selfies com todos, e os semblantes nos rostos eram parecidos aos de fãs adolescentes de Taylor Swift ao verem a popstar entrar no palco.

Multidão se aglomera patra tirar foto com CZ na Ethereum Rio 2022 (Foto: Fernando Martines/Portal do Bitcoin)

CZ se encontrou no dia seguinte com o prefeito Eduardo Paes e recebeu a chave da cidade. Antes, visitou o então governador de São Paulo, João Doria. Depois, CZ foi para Brasília se reunir com o diretor de Regulação do Banco Central, Otavio Ribeiro Damaso.

CZ, CEO da BInance, e Eduardo Paes, prefeito do Rio (Foto: Reprodução/Twitter)

O tapete vermelho estava estendido de uma maneira raramente vista para um empresário. A revista Veja chegou a noticiar que CZ dispensou um encontro com o então ministro da Economia, Paulo Guedes — embora a assessoria da Binance tenha negado que isso ocorreu.

O empresário levava sua turnê para todo canto, com uma entourage de homens asiáticos que usavam máscara o tempo todo — ainda eram tempos pandêmicos. 

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Governador de São Paulo, João Doria, com o CEO da Binance, CZ (Foto: Divulgação)

Mas nos bastidores, as coisas estavam longe de serem só flores. A Binance não abriu escritórios no Rio nem em São Paulo e “esqueceu” da promessa de contratar 5 mil brasileiros. Pelo contrário, demitiu parte significativa de seus funcionários por aqui.

Pouco depois, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) retomou uma investigação contra a Binance pela oferta irregular de derivativos, motivada por evidências apresentadas em reportagem do Portal do Bitcoin

Em 2023, a CPI das Pirâmides Financeiras constatou que a Binance foi usada pela maioria dos estelionatários brasileiros que se aproveitaram do mercado cripto para enganar investidores. Por isso, os deputados pediram que o Ministério Público indicie CZ e os demais diretores brasileiros da empresa. Como se não bastasse, a comissão apontou que a Binance sonegou R$ 400 milhões para os cofres públicos do Brasil.

Já lá nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça nunca tirou CZ da mira pelas mesmas razões pelas quais ele e sua empresa desagradam reguladores ao redor do mundo: a Binance por anos falhou no seu sistema de compliance, sendo uma plataforma de liquidez imediata para quem quisesse no mundo — incluindo, por vezes, criminosos.

Nessa posição, a Binance foi intensamente usada para lavagem de dinheiro e para furo de sanções impostas pelos Estado Unidos. Tanto a empresa quanto CZ admitiram culpa e toparam pagar multas bilionárias.

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Talvez até alguns meses na prisão CZ possa enfrentar no futuro para pagar por seus erros do passado. 

A saída de CZ parece fechar de vez o segundo ciclo do mercado cripto. Se o primeiro foi marcado por sonhadores cypherpunks em cruzadas solitárias, o segundo foi protagonizado por empresários bilionários que acreditavam que as leis não se aplicavam a eles. 

A admissão de culpa do criador da Binance dá início a uma terceira fase, altamente profissionalizada e institucionalizada, que promete chegar junto com o dinheiro grosso do mundo (a.k.a BlackRock).

Leia também: Uma Binance sem CZ; entenda como a corretora deve operar daqui em diante

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