Muitos na indústria cripto ficaram surpresos a ver tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) ganharem força na Stacks, rede desenvolvida no Bitcoin, em 2021.
Para os criadores de Satoshibles, projeto de fotos de perfil (ou PFPs) em NFT e desenvolvidos no Ethereum, o crescente mercado apresentou uma possível oportunidade para adequadamente adotar o Bitcoin.
Afinal, Satoshibles são baseados na imagem especulativa do pseudônimo criador do Bitcoin Satoshi Nakamoto.
“Apenas fazia sentido criar os NFTs em uma plataforma que honra o legado de Satoshi”, afirmou o desenvolvedor Brian Laughlan ao Decrypt em outubro.
Mas como? Satoshibles poderiam ter lançado outros NFTs na Stacks, mas Lauglan afirmou esta semana que não queria dividir a comunidade entre diversas blockchains.
Em vez disso, sua equipe começou a desenvolver uma ponte entre blockchains (ou “cross-chain”), permitindo que holders de Satoshibles movimentassem o NFT da Ethereum à Stacks e vice-versa à vontade.
Agora disponível, a StacksBrige oferece a donos de Satoshibles a oportunidade de irem para lá e para cá entre plataformas blockchains e outros projetos NFT também podem adotar a tecnologia para serem compatíveis com a Stacks.
Sua funcionalidade é simples: um holder de um NFT Satoshibles pode se conectar à ponte com uma carteira Ethereum MetaMask e carteira Hiro Stacks e, em seguida, pagar taxas de transação para executar a transferência de uma blockchain à outra.
A equipe do Satoshibles já emitiu os novos NFTs Stacks nessa plataforma, então quando um holder usar a ponte, o acesso a cada versão do NFT é bloqueado ou desbloqueado, dependendo de qual blockchain querem que esteja ativo.
Um NFT Satoshibles pode estar ativo em apenas uma blockchain por vez, com acesso bloqueado na outra blockchain enquanto isso.
Um NFT atua como um contrato de propriedade de um item digital, seja uma foto de perfil, uma ilustração digital, um arquivo em vídeo ou outro tipo de mídia.
A indústria de NFTs quebrou recordes em 2021, com um volume negociado de US$ 25 bilhões, segundo o site DappRadar. Para fins de comparação, o volume era de apenas US$ 100 milhões em 2020.
Atualmente, StacksBridge possui um “modelo de confiança”, afirma Laughlan, que significa que a equipe do Satoshibles está supervisionando a segurança e operação da ponte.
Exploraram uma versão com necessidade mínima de confiança (ou “trustless”) que é executada completamente via contratos autônomos (o código que opera protocolos e aplicações em redes blockchain), mas a equipe não acreditou que seria segura o suficiente.
Porém, acreditam que ainda pode ser possível em futuras iterações.
Conforme o nome sugere, StacksBridge não foi criada apenas para Satoshibles. Laughlan disse que queria disponibilizá-la para que outros projetos a adotassem.
Levando NFTs ao Bitcoin
O blockchain Bitcoin não é capaz de executar contratos autônomos, necessários para operar projetos NFT.
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É um fator que distingue o Ethereum do Bitcoin e parte do porquê o mercado NFT explodiu no Ethereum, conforme outras plataformas, como Solana e Tezos, também se popularizam.
No entanto, Stacks oferece uma solução. É uma rede blockchain de contratos autônomos que une suas transações em lotes e as liquida em transações no Bitcoin.
Tecnicamente, é um blockchain de primeira camada, mas atua como soluções de segunda camada ou sidechain no Ethereum. Muneeb Ali, fundador da Stacks, a havia descrito ao Decrypt como “camada 1.5”.
Com contratos autônomos vêm os NFTs e uma variedade de projetos prévios na Stacks surgiram ano passado, incluindo Bitcoin Birds por Abraham Finlay, de 12 anos de idade.
Houve colecionáveis digitais desenvolvidos no Bitcoin no passado, como os Rare Pepes de 2016 na plataforma Counterparty, mas têm de ser “wrapped”, como um novo NFT Ethereum, para se tornarem negociáveis.
Para Laughlan, a Stacks forneceu uma oportunidade para levar a coleção Satoshibles de de cinco mil fotos de perfil aleatórias (criadas pelo artista marroquino Ayyoub Bouzerda) a uma plataforma mais adequada tematicamente.
E ao criar as versões na Stacks que foram emitidas para usuários da ponte, Satoshibles trabalhou novamente nos bastidores para também apresentar imagens de Bitcoin.
Mas também existem possíveis benefícios funcionais ou técnicos, disse Laughlan.
Por exemplo, ele está trabalhando para criar funcionalidade de staking e gamificação na Stacks que seria absurdamente cara de executar na rede principal do Ethereum, mas deve ser bem mais barata para usuários que interagirem com ela na Stacks.
Para usuários que consideram o Bitcoin como uma plataforma mais segura, transferir Satoshibles à Stacks pode atuar como a colocação de um NFT em um cofre para armazenamento a longo prazo.
Porém, conforme o setor da Ethereum também desenvolve e fornece possíveis plataformas de metaverso movidas por NFT, Laughlan quer que usuários também sejam capazes de usar seus Satoshibles nesse ecossistema.
A opção está a critério dos usuários com a StacksBridge e Laughlan afirma que pode incorporar uma rede blockchain adicional no futuro.
A StacksBridge foi lançada esta semana e cerca de 4% de donos de Satoshibles já fizeram a migração, afirmou Laughlan.
Neste momento, o NFT Satoshibles mais barato na Stacks (599 SNX ou US$ 1.007) é bem mais caro do que o NFT mais barato no Ethereum (0,245 ETH ou US$ 786), mas existe uma seleção muito mais ampla de níveis de raridade no Ethereum neste momento.
Conforme o ecossistema de NFTs da Stacks toma forma, principalmente em torno da temática do Bitcoin, Laughlan espera que o projeto possa atuar como o Bored Ape Yacht Club dos entusiastas do Bitcoin; um avatar popular, é claro, mas também um símbolo de status.
E para maximalistas do Bitcoin que não encostam em ETH ou transacionam em outras blockchains, a Stacks fornece uma entrada ao setor NFT.
“Temos muitos fãs de Bitcoin no bonde e muitos deles afirmam que esse é seu primeiro NFT”, explicou Laughlan. “Basicamente, a única coisa [negativa] que disseram a mim era que estavam um pouco irritados de que teriam de comprá-lo no Ethereum.”
Agora, não precisam mais.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.