Presidente do Banco Central Roberto Campos Neto falando diante de um microfone
Roberto Campos Neto, presidente do BC (Foto: Wikipédia)

O Real Digital, a CBDC nacional, não deverá ser uma moeda amplamente disseminada na população e com vasto uso cotidiano, mas sim um ativo para uso no atacado, mais acessado por empresas que pessoas físicas. Ele também servirá como lastro para stablecoins emitidas por bancos, com incentivo do Banco Central.

Pelo menos esses foram os planos apresentados nesta segunda-feira (6) pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante participação no evento Valor’s Crypto Summit Rio 2022.

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CBDC é a sigla para a expressão em inglês “Central Bank Digital Currency”, moeda digital de banco central na tradução em português.

O presidente do BC afirma que os bancos serão capazes de monetizar os próprios depósitos, por meio de tokenização, e irão emitir stablecoins que serão lastreadas pela CBDC emitida pelo Banco Central. 

“Os bancos serão capazes de emitir stablecoins sobre os seus depósitos e vão desenvolver uma tecnologia para isso, terão que investir, porque poderão ter ganhos. E uma vez que tiverem desenvolvido isso, os protocolos para emitir stablecoins em depósitos serão basicamente a mesma coisa para monetizar diversos outros ativos digitais”, afirmou.

“Nós vamos ter uma formato único no nosso CBDC. Porque nosso objetivo é monetizar ativos. E o maior problema é como fazer o CBDC sem prejudicar a capacidade dos bancos de proverem crédito”, concluiu.

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Lastro

A exemplo do que já havia feito na semana passada, Campos também se mostrou preocupado com a questão do lastro – isso é, a garantia de que as corretoras realmente possuam a quantidade de criptomoedas vendidas para os clientes. “As pessoas não estão comprando criptoativos, elas estão comprando certificados que supostamente têm um cripto por trás”, disse. Segundo ele, a garantia desse lastro é um dos principais objetivos da regulamentação que será implantada pelo BC.

O executivo ainda se mostrou preocupado com a concentração do mercado, dizendo que 83% dos ativos cripto estão concentrados em quatro exchanges custodiantes, e afirmou que a modalidade é mais usada no Brasil como investimento do que como meio de pagamento.

Tokenização

O Banco Central também tem como meta incentivar os bancos a desenvolver tecnologia para tokenizar outros ativos digitais.

Campos Neto deu um exemplo de como a expansão da tokenização pode criar riqueza na economia do Brasil e disse que o setor imobiliário é um ponto imporante.

“Outro dia vi um documentário sobre o piloto Lewis Hamilton e o pai dele fez uma hipoteca reversa para comprar o primeiro kart. Queremos algo assim no Brasil. Hoje se você tem uma casa de um milhão de reais e quer fazer uma hipoteca reversa para pegar R$ 100 mil, o custo operacional será de 3% e muita burocracia. Nós podemos fazer isso por dez centavos e de forma muito rápida”, disse.

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CBDCs sem coordenação

Campos Neto diz que o uso de CBDC como meio de transferir dinheiro entre países encontra barreira no fato de cada nação estar fazendo um projeto diferente.

“Quando membros dos banco centrais passaram a dizer que iriam fazer o CBDC para resolver isso das transferências entre países eu pensei: isso vai realmente acontecer? Quando eu me reúno com outros BCs, vejo que um está tentando desenvolver um sistema descentralizado, outro fala de automatizar um sistema de pagamentos de multicamadas… Se você tem o desenvolvimento desse modo não coordenado, isso nunca será melhor que uma plataforma cripto que é centralizada e feita à partir de uma tecnologia”, afirma o executivo.

Assista abaixo a palestra do presidente do Banco Central do Brasil:

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