Depois de ter habeas corpus negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a defesa do presidente da Unick Forex, Leidimar Lopes, levou o caso para o Supremo Tribunal Federal (STF). A corte decidiu nesta terça-feira (10) manter a prisão preventiva do suspeito por liderar uma organização criminosa que deixou um prejuízo na casa dos bilhões reais.
De acordo com a decisão, caso Leidimar Lopes seja solto há o risco de ele atrapalhar as investigações. A Suprema Corte após analisar dados levados pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre a investigação em curso constatou que há forte indícios de Lopes o chefe de todo esquema em torno da Unick Forex.
“Os elementos probatórios reunidos apontam para indícios consistentes de que Leidimar Lopes é o líder de organização criminosa, estruturada hierarquicamente, com divisão de tarefas, para a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro, dentre outros delitos”.
A estratégia da Unick Forex
O MPF já havia destacado diálogos que demonstram que Lopes efetuava operações nos mercados Forex — atividade não permitida no Brasil — e de criptomoedas e que “estaria enviando valores ao exterior sem autorização da autoridade competente”.
Na decisão do STF, foi apresentado um verdadeiro dossiê com toda a movimentação milionária feita por Lopes entre 2017 e 2018 as quais não condizem com as informações prestadas à Receita Federal.
O suspeito movimentou em suas contas bancárias um total de mais de R$ 5,2 milhões, mas em sua “Declaração de Ajuste Anual 2017/2018, contudo, o investigado informou ter auferido R$ 30.377,00 em rendimentos tributáveis e possuir patrimônio de R$ 450.000,00”.
Durante a operação que desmantelou a Unick Forex, foi apreendida uma agenda com anotações manuscritas na residência de Lopes, cujo conteúdo indica a existência de patrimônio em moedas virtuais e imóveis (loteamento), no montante R$ 5,8 bilhões. Ele chegou a afirmar numa das conversas gravadas pela investigação, que possuía esse montante em criptomoedas.
No entanto, somente foram apreendidos R$ 50 milhões em bitcoins, o que nem chega perto do rombo de R$ 12 bilhões deixados pela Unick Forex. Apesar desse prejuízo, a empresa teve uma farta movimentação de dinheiro entre 2017 e 2018.
A Unick movimentou em suas contas bancárias R$ 17.371.165,52 a crédito e R$ 16.894.651,52 à débito entre os meses de janeiro de 2017 e junho de 2018. Mesmo com todo esse montante, a empresa com o objetivo de burlar a Receita Federal, apresentou as declarações de renda da pessoa jurídica sob o “sistema Simples Nacional Declaratório, sem registro de faturamento e/ou rendimentos”.
Simulando números e cancelando contratos
Esse montante, entretanto, não era nada perto do volume que foi captado pela Unick, conforme revelado pelos investigados no curso monitoramento telefônico. Além disso, o MPF mostrou que a ausência de movimentação nas contas da empresa entre julho de 2018 e dezembro de 2018, “reforça a suspeita de utilização de estratagemas para ocultar e dissimular a movimentação dos recursos captados dos clientes”.
Nesse meio tempo, a empresa contratou, em outubro, o escritório Nelson Willians & Advogados Associados para fazer os acordos com os clientes. De acordo com a Polícia Federal, 10% foram cancelados, o que seria equivalente a R$ 400 milhões. O universo dos contratos atingiria valor de R$ 4 bilhões, segundo as investigações.
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Estruturas bem planejadas
As empresas associadas à Unick Forex não passavam de fraude, conforme apontou o STF, tendo como laranjas pessoas próximas à Lopes. Nem o pai dele teria sido poupado. Alberi Pinheiro Lopes era sócio da própria Unick Forex.
A Golden Stripe Corp, companhia estrangeira de fachada sediada em Belize existia apenas com “a finalidade de simular ser esta a empresa que gerencia os investimentos do esquema Unick”.
A organização suspeita de crimes era muito bem estruturada e nada constava no nome de Lopes. A Dox Pay Banco digital, uma das empresas de solução de pagamentos utilizada pela Unick Forex constava como sócios Euler Silva Machado e Caren Cristiane Graeff de Oliveira. A investigação, entretanto, encontrou indícios de que essa empresa seria efetivamente de Lopes.
Os bens móveis e imóveis estariam em nome das empresas Vega, as quais eram de Fernando Baum Salomon e depois passaram para Caren Cristian Greff de Oliveira e por ficou no nome da filha do presidente da Unick Forex: Ana Carolina de Oliveira Lopes.
Outra empresa que serviria para albergar bens imóveis de Lopes e de sua família era a RR Meios de Pagamentos Ltda. Atualmente em nome de Rudimar da Silva — pai do diretor de marketing, Danter Silva, que também está preso —, a RR Meio de Pagamentos chegou a pertencer a Roberta da Silva Rossi e Ronaldo Sembranelli, pessoas que também emprestariam seus nomes a Lopes para que ele adquirisse veículos e outros bens. Nada estava no nome do presidente da Unick Forex.
Até empresa de viagem foi adquirida por Lopes. A compra da Trinta Sul Agência de Viagens foi intermediada por Kroeff e segue em nome de Maria Cristina Franz Bassanesi (esposa de Paulo Bassanesi e titular original da empresa).
Lavando dinheiro
Consta na investigação que até mesmo uma escola infantil teria sido utilizada para a empresa lavar dinheiro. De acordo com a peça inicial do Ministério Público, os valores captados de clientes eram movimentados em contas pessoais ou de empresas, o que também ocorreu na Escola de Educação Infantil Jardim dos Anjos.
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