“O Diabo veio para matar, roubar e destruir, e foi isso que o Nivaldo fez. Ele acabou com a vida de muitas pessoas, destruiu vários sonhos”. A crítica a Nivaldo Gonzaga dos Santos, criador das empresas que prometiam lucros com bitcoin, Genbit e Zero10 Club, soa como um desabafo do mineiro Gilsom Motoso Pereira, que investiu mais de R$ 200 mil acreditando ser um negócio sério.
O que parecia ser a oportunidade para o autônomo da cidade de Cristália (MG) fazer seu patrimônio render 15% ao mês, se transformou num grande prejuízo quando viu apenas uma pequena parte do dinheiro ser devolvida. Assim como o mineiro, 45 mil pessoas amargaram perdas que, somadas, podem chegar a R$ 1 bilhão, segundo o Ministério Público de São Paulo.
“Eu confiei porque as pessoas que estavam à frente das empresas eram ‘servos de Deus’ e por isso não iam dar prejuízo”, disse Gilsom ao Portal do Bitcoin na última quarta-feira (29).
Segundo Gilson, ele conheceu a Genbit através de um amigo, mas não o culpa, pois acredita que o colega também foi enganado. Na ocasião, Nivaldo Gonzaga era retratado pelos líderes como um “servo de Deus” honesto; a Genbit, como uma empresa segura.
Particularmente, depois do prejuízo, Gilsom agora nem hesita ao afirmar que Nivaldo é uma pessoa do mal. “Ele veio como o Diabo”, ressaltou.
Genbit prometeu 500% de rendimento
A fórmula de arrecadar dinheiro da Genbit, ainda que surreal, funcionou. Os líderes da empresa, cuja sede ficava em Campinas (SP), convenciam as pessoas a investir prometendo rendimentos estratosféricos. Para se ter uma ideia, quem investisse R$ 26.500,00 receberia de volta 36 parcelas mensais de R$ 3.600,00 ou seja, R$ 129.600,00.
O lucro prometido, de cerca de 500% em três anos, era o ponto de persuasão; A isca, o bitcoin. Aliás, se uma empresa garante lucro com o Bitcoin já está errada, pois o preço da criptomoeda depende da oferta e demanda, como no mercado de ações; há riscos altíssimos.
Cliente recebeu só duas parcelas
Dos investimentos que Gilsom vinha fazendo desde novembro de 2018 — quando a empresa ainda se chamava Zero10 Club — até maio de 2019, a Genbit lhe devolveu apenas duas parcelas das 36 prometidas. Segundo ele, os pagamentos pararam em setembro do ano passado.
“A partir daí a empresa não pagou mais. Ficaram agendado os pagamentos, mas só mudavam a data; não pagou mais nada”, contou ele à reportagem.
Apesar de empresas distintas, os negócios de ambas eram comandados por Nivaldo e seu filho, Gabriel Tomaz Barbosa, responsável por colocar o pai no ‘segmento’, segundo o próprio genitor, em vídeo publicado em fevereiro deste ano.
Os pacotes com ‘7.500 pontos’, por exemplo, custava R$ 26.500,00 cada — o dinheiro era convertido em pontos. Os pagamentos eram para ser feitos em Bitcoin.
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Dinheiro evaporou; saldo virou ‘TPK’
Por conta dos atrasos, Gilsom começou a reclamar para os líderes da Genbit em um grupo no Whatsapp, mas não adiantou. Veio então a informação de que seu saldo seria convertido em uma criptomoeda chamada Treep Token (TPK), mesmo sem o consentimento dos clientes.
“Ele inventou essa moeda sem valor nenhum, só que não tivemos opção. Os pagamentos antes eram feitos em Bitcoin, não tinha nada de TPK, foi falcatrua deles, não serve pra nada. A gente quer é o dinheiro de volta”.
Hoje, o autônomo diz estar pessimista em ter seu dinheiro de volta, mas que espera que haja Justiça. “Esses estelionatários têm que pagar pelo roubo que fizeram”, desabafou.
Casos de pirâmide na Justiça
O fim da Genbit não está sendo diferente de tantos outros casos controversos que vieram à tona nos últimos tempos no Brasil. Unick Forex e Indeal, por exemplo, são entidades protagonistas de casos similares na Justiça.
Contudo, as autoridades dependem de denúncias. A CVM, por exemplo, por duas vezes interveio nos negócios de Gonzaga, por se tratar de oferta irregular de investimentos. O MP considerou o produto da Genbit como “planos de investimentos sem qualquer lastro”. Após denúncias, a Polícia Civil de São Paulo também passou a investigar a suposta quadrilha.
Nivaldo Gonzaga, criador da Genbit
Nivaldo Gonzaga é o tipo de ‘empreendedor digital’ que provavelmente não sabe criar outra coisa além de empresas controversas. Não é difícil encontrar imagens dele na internet ostentando carros de luxo, jatinho, ou apresentando e participando de eventos que promovem esquemas duvidosos.
Além da Genbit, Zero10 Club, o ‘servo de Deus’ também atuou nas empresas Índaco Equilíbrio e a Prosperity Clube.
No site Reclame aqui, por exemplo, dezenas de investidores denunciaram a Prosperity, que nunca respondeu a nenhuma reclamação. A Índaco, é corré em processo contra a Genbit.
Acerca do caso de Gilsom, a reportagem tentou contato com a Genbit por meio do email da assessoria, divulgado pelo próprio Gonzaga no Youtube,que retornou como inexistente. O email descrito no site da empresa também não respondeu até a publicação desta reportagem.