É hora de remover intermediários. Para que pagar uma empresa para fornecer um serviço de viagens compartilhadas quando você pode usar um aplicativo que te conecta a motoristas e não recebe por isso? Essa é a promessa oferecida por aplicações descentralizadas (ou dapps, na abreviatura em inglês).
Neste artigo, entenda o que são dapps, como funcionam e alguns dos desafios enfrentados por esses novos tipos de aplicativos.
O que é uma dapp?
Dapps funcionam como aplicativos comuns e oferecem funções parecidas, mas a principal diferença é que operam em uma rede ponto a ponto, como uma blockchain, usando contratos autônomos (ou “smart contracts”).
Significa que nenhuma pessoa ou entidade está sob controle da rede. Existem outros elementos importantes de dapps, como:
– devem ser de código aberto e operar sozinhas sem qualquer entidade que as controle;
– seus dados e registros devem ser públicos;
– devem usar um token criptográfico que ajude a manter a rede segura.
Embora muitos na comunidade blockchain e cripto acreditem que essas crenças devam ser apoiadas, pois a indústria amadureceu, existem dapps que usam (ou não) uma combinação dos elementos citados acima.
Quais são os benefícios das dapps?
– Resistência à censura: Sem um ponto único de falha, é muito difícil que governos ou indivíduos poderosos controlem a rede.
– Sem tempo de inatividade: Depender de um sistema ponto a ponto garante que a dapp continue funcionando mesmo se computadores individuais ou partes da rede caírem.
– Desenvolvidas em blockchain: Já que são feitas de contratos autônomos, podem facilmente integrar criptomoedas às funcionalidades básicas da dapp.
– Código aberto: Encoraja o amplo desenvolvimento do ecossistema da dapp, permitindo que desenvolvedores criem dapps melhores com funções mais úteis ou interessantes.
Quais são as desvantagens das dapps?
Embora dapps prometam solucionar muitos dos principais problemas enfrentados por aplicativos comuns, também têm suas desvantagens.
– Hacks: Já que muitas operam em contratos autônomos de código aberto, permite que hackers tenham a rara oportunidade de sondar as redes em busca de vulnerabilidades. Isso resultou em inúmeros hacks a dapps populares.
– Usabilidade: Muitas dapps têm péssimas interfaces para usuários, que espantam muitos usuários. A expectativa é que vão melhorando à medida que o tempo passa.
– Usuários: Assim como muitos aplicativos na Web 2, quanto mais usuários uma dapp possui, mais eficaz a rede é ao entregar esses serviços — o chamado “efeito de rede”. Dapps sofrem com o baixo número de usuários, o que pode torná-las menos interativas. O efeito de rede também pode torná-las menos seguras, pois a segurança de uma dapp geralmente pode depender de quantos usuários possui.
Quantas dapps existem?
Um bom lugar de partida é o DappRadar, um site que lista milhares de dapps desenvolvidas em redes, incluindo Ethereum, BNB Chain e Polygon.
Dentre as dapps mais populares no momento são as aplicações de Finanças Descentralizadas (ou DeFi), como as corretoras descentralizadas (ou DEXs). Permitem que pessoas convertam uma criptomoeda em outra sem a necessidade de um intermediário centralizado, como Binance ou Coinbase.
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Dapps do Ethereum
Muitas das principais dapps são desenvolvidas no Ethereum, uma blockchain de contratos autônomos:
– Uniswap: Corretora descentralizada que permite que usuários convertam tokens de ponto a ponto em vez de por meio de um intermediário centralizado.
– Compound: Protocolo de empréstimos descentralizado.
– PoolTogether: Loteria cripto “sem perdas”.
– Audius: Plataforma descentralizada de streaming de músicas.
– Decentraland: Plataforma de metaverso na qual usuários podem interagir como avatares e comprar tokens não fungíveis (ou NFTs) que representam objetos ou terrenos virtuais.
– Gods Unchained: Jogo de cards com NFTs.
– MakerDAO: Contrato autônomo que permite que usuários interajam com o sistema da stablecoin DAI.
Uma nova forma de construir um negócio
Já que dapps são descentralizadas, resultou em uma forma completamente nova de construir um negócio: via organização autônoma descentralizada (ou DAO). Um exemplo é Augur, um mercado descentralizado de apostas.
Os criadores desenvolveram e lançaram o mercado, mas agora trabalham em projetos completamente diferentes enquanto a rede é mantida por seus usuários.
Esquemas e hacks envolvendo dapps
Infelizmente, dapps são suscetíveis a hacks. Apenas no primeiro trimestre de 2022, US$ 1,2 bilhão foi roubado via hacks e invasões, segundo a DappRadar. Em agosto de 2021, a Poly Network foi invadida e perdeu US$ 611 milhões. Já em março de 2022, a bridge Ronin, do jogo “play to earn” Axie Infinity, foi hackeada e perdeu US$ 552 milhões.
Hackers usam diversas técnicas para invadir dapps, incluindo empréstimos-relâmpago e invasões a bridges, usadas por usuários na transferência de fundos entre diferentes blockchains.
Mas alguns ataques dependeram de bons e velhos ataques de engenharia social. Em dezembro de 2021, a Badger DAO, que conecta o Bitcoin ao setor DeFi, perdeu US$ 120 milhões após golpistas enganarem membros da DAO ao aprovarem transações falsas.
O futuro das dapps
Dapps ainda estão nos primórdios. Porém, já existem milhares de dapps que oferecem inúmeros serviços, sejam estes jogos, câmbio de dinheiro ou a criação de seus próprios felinos digitais.
No primeiro trimestre de 2022, havia quase 2,4 milhões de usuários ativos diários de dapps. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Antes de dapps atingirem uma adesão em massa, desenvolvedores e as redes onde criam suas dapps têm uma longa lista de desafios a solucionarem, incluindo a escalabilidade, a segurança e a experiência de usuários.
Quando esses problemas forem resolvidos, nascerá uma nova era de aplicações descentralizadas.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.