Imagem da matéria: Como está o mercado de criptomoedas pós-pandêmico na China | Opinião
(Foto: Shutterstock)

Conferências cripto eram um grande acontecimento em Xangai: Espaços chiques em hotéis cinco estrelas, bares no terraço com vista para o rio Huangpu no Bund, onde lustres brilhavam sobre os convidados bem-vestidos e que bebiam champanhe, conversando noite adentro antes de irem para clubes, onde mais champanhe era servido.

Esse acontecimento não existe mais, agora que a política “covid zero” da China tornou a movimentada cidade em uma cidade-fantasma. Alguns moradores afirmam terem sido obrigados a ficar em casa durante três meses, não podendo sair uma vez sequer.

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Mas a quarentena não impediu que a ETH Shanghai acontecesse — este ano, como um evento apenas virtual.

ETH Shanghai aconteceu no dia 20 de maio com uma lista incomum de palestrantes: Uma combinação de autoridades governamentais chinesas e americanas e veteranos fundadores do Ethereum.

Os dois grupos não poderiam ser mais diferentes e a dicotomia reflete como a comunidade cripto está tentando sobreviver na China: criando um equilíbrio entre ser politicamente correto (pelo menos em público), mas ainda se manter fiel aos seus princípios cripto.

O que realmente está acontecendo na comunidade chinesa atualmente?

Muito talento Web 2 de sobra

Recebi uma ligação de um colega da época da faculdade de Administração. Ele havia fundado uma empresa similar à Invisalign, com serviço direto ao cliente, em Xangai, em 2019. A equipe havia arrecadado muito dinheiro de capitalistas de risco, mas não gerou adesão. Como consequência, ele migrou da saúde bucal — uma indústria que era bem mais agitada na época — para cripto.

Meu amigo não foi o único. O talento Web 2 foi bastante afetado pela política “covid zero” e repressão tecnológica do governo chinês. O valor das ações de grandes empresas de tecnologia caiu pela metade ou pior. Muitos engenheiros brilhantes não tiveram aumentos de salário nem alta no salário equitativo. Ainda pior: Muitas empresas começaram a demitir engenheiros antes da desaceleração econômica global.

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Gigantes da tecnologia se tornaram gnomos da tecnologia.

Enquanto isso, esses engenheiros brilhantes estão vendo seus amigos nem tão brilhantes enriquecerem ao comprarem fotos de perfil (ou PFPs), participando de esquemas de Ponzi de stablecoins algorítmicas ou, até mesmo, caminhando com a StepN.

Muitos deles afirmam se sentir magoados, mas ainda querem se unir à revolução Ponzi Web 3.

Três tipos de projetos “feitos em casa”

Agora chegamos à parte difícil. Para se unir à revolução, esses engenheiros sempre precisam levar em consideração a regulamentação, pois o governo chinês não deve reverter sua suspensão às criptomoedas tão cedo.

Três estratégias criativas surgiram à medida que fundadores chineses navegam pelo setor:

1. Anonimidade: Nunca mencionar seu histórico chinês.

2. Academicismo: Ultrapassar limites em nome da pesquisa.

3. Divisão: Distinguir fundadores e equipes de tecnologia além-fronteiras.

Anonimidade

Grande parte dos projetos escolhem o caminho da anonimidade, pois é mais seguro manter-se fora do radar. Porém, o problema é o tipo de projetos que os fundadores chineses tendem a criar.

Durante os “verões DeFi”, muitos simplesmente bifurcaram projetos existentes e lançaram fazendas “yield farms” (grupos de maximização de lucro). Durante os “verões NFT”, muitos simplesmente contrataram um designer freelance e lança dez mil projetos PFP de primatas com um roteiro de desenvolvimento (ou “roadmap”) falso.

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É claro que nem todos os projetos chineses são “puxadas de tapete” (ou “rugpulls”). Mas qualquer pessoa que deseje criar um negócio sério precisa manter uma discrição, ou seja, evitar a criação de um marketing público, apostas ou narrativas. Sem marketing, projetos têm problemas em ganhar força.

Academicismo

O segundo caminho permite que você seja uma pessoa pública sobre ser uma startup blockchain ao hastear uma bandeira acadêmica. Muitos dos protocolos de primeira camada na China, como o Conflux, usaram essa tática.

Colaboram abertamente com professores, laboratórios de pesquisa e centros de inovação universitários. Muitos também têm uma comunidade ativa de alunos que ajudam a organizar reuniões, “hackathons” e até miniconferências.

Empresas ocidentais Web 2 também querem colaborar com essas empresas de tecnologia aplicada (ou “deep tech”) para acompanhar o ritmo da curva de inovação.

Esses projetos estão na zona de inovação, ao menos temporariamente, pois a China quer desenvolver recursos em áreas de sistemas distribuídos, criptografia, privacidade e blockchain.

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O principal desafio que esses projetos podem enfrentar é que, se lançarem um token, esse token pode se tornar volátil. O governo chinês não gosta de volatilidade e pode estender a proibição para bloquear esses projetos.

Distinção

A última opção e, talvez, a cada vez mais popular, seja uma combinação de ter fundadores e marqueteiros que vivem no exterior enquanto a equipe de tecnologia e entrega residem discretamente na China.

Esse modelo permite que equipes arrecadem dinheiro de capital de risco de fundos internacionais, realizem campanhas que atraiam públicos globais e desenvolvam comunidades robustas, aproveitando o trabalho tecnológico de baixo custo sem a preocupação de serem censuradas pelo governo chinês.

Curiosamente, grande parte dos projetos que seguem esse modelo tende a afirmar que “não somos um projeto da China” — como se estar associado à China fosse algo ruim.

Agora, seguimos à próxima observação: a China não é um lugar, e sim seu povo.

À medida que projetos chineses se expandem para o exterior em uma época em que há cada vez mais descentralização, a China se torna um lugar cada vez menos focado em sua população. As pessoas podem morar em Singapura, na Austrália, nos EUA ou na Europa. A localização não os impede de organizar, apoiar e participar da ETH Shanghai.

Já estamos vendo diásporas chinesas deixando sua marca no setor cripto. Este ano, eu havia previsto que a China iria produzir um jogo cripto de sucesso. Bom, isso já aconteceu com a ascensão do StepN, um jogo “move to earn” que gerou uma febre similar ao Axie Infinity.

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O projeto, que possui uma capitalização de mercado de mais de US$ 595 milhões, é fundado por diásporas chinesas na Austrália, apoiado por capitalistas de risco na Índia, China, EUA e, basicamente, em todos os outros lugares.

Mesmo conforme o mundo fica cada vez mais segregado em tempos de covid, os limites sobre o que significa ser chinês estão bem indefinidos. O que une todos nós não é a nacionalidade, e sim o princípio cripto.

Admito que esse princípio foi afetado por inúmeros fatores, a julgar pela quantidade de amigos meus que escaparam da China nos últimos meses para começar uma vida nômade e focada em cripto.

Ainda assim, estou otimista.

*“Da Bing” é uma coluna escrita pela jornalista Shuyao Kong, que cobre o mercado de criptomoedas chinês.

**Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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