Até 2010, o norte-americano Sam Bankman-Fried, 29 anos, não sabia muito bem o que queria da vida. Uma década depois, ele esbanja na conta bancária o PIB do Piauí e ocupa espaço de destaque no hall da principais empresários do mercado de criptomoedas, ‘dirigindo’ a FTX, uma exchange avaliada em US$ 18 bilhões que ameaça tirar a liderança da gigante Binance.
Essa história, que já foi estampada nas principais revistas e sites de economia e tecnologia do mundo, começou por volta de 2012 no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde estudou física. Lá, ele conheceu o altruísmo efetivo, um movimento fundado por dois professores de Oxford. Na prática, essa filosofia defende que é preciso fazer o bem da forma mais eficaz possível com os recursos disponíveis.
OK, mas o que um movimento filosófico tem a ver com a história? Tudo! Em qualquer entrevista que concede a veículos de imprensa ou podcasters, Fried diz que o conjunto de ideias do altruísmo efetivo foi um divisor de águas em sua vida. Seu lema, após se embebedar da nova filosofia, passou a ser ganhar cada vez mais dinheiro para doar cada vez mais.
E o mercado financeiro e as criptomoedas caíram como uma luva nessa nova fase do garoto, que é vegano e viciado em videogame. A ideia é a seguinte: para faturar e doar mais, é mais lógico trabalhar com finanças do que em uma organização não governamental.
O encontro com as criptomoedas
Ainda na faculdade, Fried começou a estagiar em uma empresa de Wall Street do ramo de negociação quantitativa e liquidez. Seguindo à risca os ensinamentos da nova filosofia, ele doava mais da metade do salário para a caridade. E foi nesse período que ele conheceu as criptomoedas — e enxergou nesse mercado uma oportunidade de encher ainda mais o bolso de dinheiro.
“Havia uma enorme demanda, grande volatilidade, grandes influxos, grande valorização de preços, grande quantidade de atenção e interesse — e a infraestrutura não estava lá”, disse em entrevista ao Yahoo publicada no mês passado.
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Em 2017, ele criou a Alameda Research, uma empresa de trade quantitativo de criptoativos com foco em liquidez e formação da preços. Dois anos depois, ele lançou a corretora FTX (especializada em derivativos de criptomoedas) em Antígua e Barbuda, na América Central, e montou escritórios em Hong Kong. Bankman-Fried optou por ficar fora dos Estados Unidos para fugir da regulação e conseguir oferecer mais produtos financeiros, como ações tokenizadas e futuros.
De lá para cá, a exchange atraiu investidores em todo canto do mundo, em especial traders; comprou empresas; colocou nome em estádios e times de esportes; e fez parcerias com celebridades. Nesta semana, a FTX.US, afiliada da FTX, comprou a bolsa de derivados de criptografia LedgerX, segundo o The Block.
Hoje, a exchange tem um volume diário de negociação de US$ 19 bilhões por dia e figura entre as maiores do mundo, segundo o CoinMarketCap. A regra, seguindo a ideia altruísta por trás do projeto, é que 1% de todas as taxas líquidas sejam doadas para as instituições de caridade mais eficazes do mundo. O total destinado até agora, segundo o site institucional, é de US$ 12 milhões.
Mas vale doar para políticos também. Em 2020, Sam Bankman-Fried foi um dos principais contribuintes da campanha de Joe Biden com doações que somam US$ 5,2 milhões.
Empresa de US$ 18 bilhões
Em julho, a exchange levantou US$ 900 milhões em uma rodada de financiamento. Com o valor, passou a ter uma valuation de US$ 18 bilhões. No mesmo mês, a corretora recomprou as ações da empresa da Binance, cortando as relações com a maior bolsa de criptomoedas do mundo.
Analistas do mercado enxergaram na atitude da FTX uma forma de se afastar da gigante, que nos últimos meses vem enfrentando a ira dos reguladores de diversos estados, e de se aproximar dos reguladores.
“Eu só queria que a indústria, como um todo, fizesse um trabalho mais consciencioso de interface com os reguladores”, disse ele nesta semana em ao Business Insider, acrescentando que os players do mercado precisam ser “responsáveis e mostrar que não precisam ter excessivamente regulamentos paternalistas”.