Estruturar uma oferta de R$ 37 milhões em menos de três semanas, com governança, impacto social e retorno de 19% ao investidor, isento de Imposto de Renda. Parece ousado? Foi exatamente o que o MB realizou na operação com o Jeitto.
A emissão foi totalmente estruturada por meio da tecnologia de tokenização, utilizando a Resolução CVM nº 88 como base regulatória. Isso significa que, além da inovação tecnológica, houve todo o cuidado com os requisitos legais, incluindo os reportes à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a manutenção da transparência na relação com os investidores.
O Jeitto é uma fintech que promove inclusão financeira ao oferecer microcrédito digital para pessoas que, muitas vezes, estão fora do sistema bancário tradicional. Ao tokenizar os recebíveis do Jeitto, foi possível transformar uma carteira pulverizada de crédito pessoal em um ativo digital acessível a investidores pessoas físicas, com aporte mínimo de apenas R$ 100.
Essa democratização do acesso é um dos grandes trunfos da tokenização: viabiliza a entrada de novos perfis de investidores em ativos historicamente concentrados nas mãos de bancos e grandes gestoras. Ao mesmo tempo, permite que originadores como o Jeitto diversifiquem suas fontes de funding com governança, agilidade e custo muito menor do que uma estrutura tradicional de mercado.
Enquanto as emissões tradicionais exigem múltiplos intermediários, além de taxas de negociação na B3 e prazos que muitas vezes superam quatro meses — a operação com o Jeitto foi concluída em apenas 18 dias. Isso só foi possível graças à infraestrutura blockchain e ao modelo de distribuição digital que o MB já consolidou no mercado.
O retorno da operação também foi expressivo: até 19% ao ano, com isenção de IR, lastreado em ativos reais e com documentação rastreável. O resultado final une o que parecia ser um dilema no mercado tradicional: impacto com retorno.
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Muito se fala sobre títulos ESG que entregam pouco retorno e, por isso, não atraem o interesse do investidor. Mas quando usamos a tecnologia para remover ineficiências — como custos operacionais, registros manuais e múltiplos intermediários — conseguimos construir ativos ESG mais eficientes e atrativos. E isso muda tudo.
A tokenização permite que empresas com modelos sustentáveis consigam captar com mais agilidade e menos custo, o que aumenta sua resiliência. E, do ponto de vista do investidor, ativos atrelados a empresas com responsabilidade social e práticas de governança mais sólidas tendem a oferecer menor risco de crédito no longo prazo — e, portanto, mais segurança e potencial de retorno.
Essa operação com o Jeitto é um bom exemplo de como os ativos digitais podem destravar o mercado de impacto no Brasil. Do lado do originador, houve redução de custos, diversificação de fontes de capital e projeção institucional. Do lado do investidor, retorno competitivo, isenção fiscal e clareza sobre o que está financiando. Do ponto de vista de mercado, é um sinal claro de amadurecimento: tecnologia, regulação e propósito agora caminham juntos.
Acredito que a tokenização tem um papel essencial na construção de um mercado de capitais mais acessível, transparente e conectado com as transformações sociais e ambientais que já estão em curso. Essa visão não vem apenas do meu lugar profissional, mas também como alguém que acompanha de perto o avanço dessa tecnologia e vê, com responsabilidade, oportunidades que unem impacto e retorno.
Com essa emissão, o MB reforça sua posição como um dos principais nomes na estruturação de ativos digitais regulados no Brasil. Casos como esse mostram que o futuro da renda fixa pode (e deve) ser digital, inclusivo e orientado por propósito. E o mais importante: ele já está acontecendo.
Sobre a autora
Camila Cavaton é coordenadora de Compliance do MB – Mercado Bitcoin e atua no mercado financeiro e de capitais desde 2012. Formada em Administração pela PUC-SP e MBA em Agronegócios pela USP/ESALQ, é membro de comissões da OAB, ANBIMA e CWC.