Imagem da matéria: Criptomoeda brasileira tem código criado para prejudicar quem comprar
Foto: Shutterstock

Detentores da shitcoin brasileira Xiglute Coin (XGC), lançada no final de abril, tentam a todo custo gerar um hype em torno da moeda, baseada no padrão ERC-20 do Ethereum. O suposto criptoativo, no entanto, acumula uma série de características suspeitas que colocam em xeque o projeto, criado pelo empresário Dário Cândido de Oliveira, de Uberlândia (MG).

O primeiro sinal de alerta é a concentração de moedas nas mãos de seu criador. O XGC, que nasceu para ser o token nativo de uma rede social com mesmo nome, fundada por Oliveira em 2013, tem um fornecimento de 210 trilhões de tokens. Desse total, no entanto, menos de 1% está distribuído entre os 2,1 mil detentores. Os 99% restantes — mais de 208 trilhões de XGC —  estão concentrados no endereço mãe, sob controle do desenvolvedor que criou o projeto.

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“Ele (dono) pode vender tudo que quiser a partir do momento que a moeda estiver em mais exchanges e valorizar. Quem comprou o token achando que a plataforma tem milhões de usuários e vai valer alguma coisa um dia, vai acabar tendo o seu dinheiro jogado fora”, avalia o desenvolvedor e fundador da plataforma Coinsamba, Gustavo Toledo, em uma breve análise do projeto a pedido da reportagem.

Código esconde comando malicioso

O problema mais grave, no entanto, está escondido no código da criptomoeda. O Token Sniffer, um site que realiza a auditoria automatizada de um contrato em busca de linhas de código maliciosas, descobriu que no contrato inteligente da Xiglute Coin (XGC) existe um comando que permite ao desenvolvedor pausar todas as transações no momento que desejar.

“Como o token tem um contrato pausable, o desenvolvedor pode — quando o token valer alguma coisa — fazer a venda das moedas que possui e, em seguida, pausar o contrato. Ninguém que tiver o token na carteira vai conseguir transferi-lo”, explica Toledo.

Teste mostra comando malicioso de ‘pausa’ no contrato inteligente da Xiglute Coin. (Fonte: Token Sniffer)

Na opinião do especialista, que já revelou problemas no código de outra shitcoin brasileira, o REAU, é normal utilizar partes de um contrato genérico ERC-20 para criar um token. O comando de pausar, no entanto, foge da normalidade e é um sinal vermelho. 

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Mais suspeitas

Outra característica da moeda que levanta suspeitas é a sua forma de compra. De acordo com o tutorial publicado no grupo do Telegram, o usuário precisa fazer um Pix para a conta no Banco do Brasil da XIGLUTE REDE SOCIAL LTDA para que o próprio projeto envie os tokens ao seu endereço. 

Diferente de uma compra normal direta na blockchain que acontece de forma praticamente instantânea, o usuário precisa esperar até três dias para ter os tokens em suas mãos. Apesar do prazo, o grupo no Telegram da Xiglute Coin está repleto de usuários reclamando da demora em receber as moedas.

Reclamação de usuário no Telegram da Xiglute.

A XGC possui pouca liquidez nas duas exchanges em que está listada. Segundo o CoinMarketCap, o ativo está disponível nas corretoras P2PB2B e Txbit.io. Na primeira, a XGC possui um volume de US$ 160 mil, já na última o livro de ofertas está praticamente parado, com um volume de US$ 0,02 nas últimas 24 horas.

Outra falha da XGC é a seu white paper, que é praticamente uma cópia idêntica do white paper da SafeMoon. O documento essencial para qualquer projeto de criptomoeda não possui quase nenhum texto original, com o desenvolvedor se limitando a apenas alterar o nome e os valores das taxas.

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Comparação entre o white paper da SafeMoon e da Xiglute Coin.

Propaganda enganosa

O projeto por trás da moeda mascara essa série de problemas investindo pesado no marketing e na engenharia social para vender a falsa promessa de que todos os detentores ficarão ricos quando a shitcoin valorizar no futuro. Os 6 mil usuários participantes do grupo do Telegram da XGC também são incentivados todos os dias por moderadores a falar bem do token nas redes sociais e elogiá-lo em páginas do setor.

Em live transmitida no mês passado, o criador do projeto, Dário Cândido de Oliveira, disse que a plataforma desconhecida é a “maior rede social brasileira”, tem supostamente mais de 22 milhões de usuários em todos os países do mundo e é capaz de chegar a lugares que “nem mesmo o Google entra”.

Ele também mostrou a valorização que criptomoedas respeitadas no mercado – como o bitcoin – tiveram ao longo dos anos para persuadir os usuários de que o mesmo acontecerá com a Xiglute Coin.

“Se eu investir US$ 1 mil, eu teria 500 milhões de Xiglute Coin (XGC)… No futuro, eu teria um milhão de dólares. […] O risco aqui é de ficar multimilionário, eu quero que você compre essa ideia junto comigo”, promete o apresentador da live dizendo que fez até mesmo a sua avó comprar a shitcoin. 

Ele ainda falou que a XGC “é a criptomoeda brasileira melhor ranqueada na CoinMarketCap. Isso é fortíssimo, é uma informação poderosa”. E falsa.

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A atual classificação da XGC no agregador é 3.456º, muito distante de outros tokens que surgiram no país como Hathor (295º), Moeda (804º), Lunes (1.403º) e muitos outros.

Outra imprecisão foi a afirmação que a criptomoeda está listada na Coinbase, a maior corretora de criptomoedas dos EUA. Dário chegou a sugerir que possui alguma relação com a exchange: “Já estamos com um pézinho lá e em algumas conversas com eles; vem novidade aí pela frente”.

A criptomoeda, na verdade, aparece no agregador de preços da Coinbase, ao lado de outras milhares de moedas que são exibidas de forma automática dependendo da sua capitalização de mercado. 

Segundo o CoinGecko, a XGC esta valendo R$ 0,000012 nesta terça-feira (31), cerca de 90% menos que sua máxima histórica de R$ 0,0001 que alcançou durante um pico isolado em maio. 

A moeda também se mostra bastante volátil, com grandes variações de preço a cada movimentação de maior peso que acontece na blockchain, como é possível notar no gráfico dos últimos 7 dias.

De olho no golpe

Milhares de criptomoedas sem fundamento são lançadas todos os dias no mercado e uma parte significativa surge com o único objetivo de sugar o dinheiro dos investidores enquanto os desenvolvedores ficam ricos por meio de pump and dump.

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Pump and dump é um golpe em que os donos do projeto que possuem a maior parte dos tokens inflam o seu preço e quando ele atinge um pico, liquidam tudo no mercado, provocando a queda do ativo e deixando todos os detentores menores no prejuízo. 

Para evitar armadilhas, especialistas pedem para as pessoas pesquisarem muito bem uma criptomoeda e seus fundamentos antes de investir qualquer dinheiro. Além disso, é recomendado também procurar informações sobre os envolvidos no projeto.

Resposta da Xiglute Coin

Após a publicação da reportagem, a empresa enviou a nota abaixo, assinada Dário de Oliveira, SEO do Grupo X7, para a reportagem:

Temos total conhecimento da linga de contrato Pausable, e essa linha foi feita para manter segurança contra ataques hackers de grande porte, fazendo com que tenhamos controle de pausar as negociações em casos extremos e reiniciarmos a mesma. Porém como já dito apenas em casos extremos. Em momento algum fizemos algo para prejudicar os usuários e investidores da Xiglute Coin, e sim sempre aumentar a segurança e confiança a todos. Através de um projeto grandioso e de grande futuro. Temos a Xiglute Rede Social a mais de 8 anos e baseado na confiança e comprometimento que sempre demos aos nossos foi criado assim a Xiglute Coin.

As transações via Pix foram criadas para ajudar aos investidores com pequeno conhecimento no mundo cripto, poderem entrar nesse mundo inovador e se grande futuro. Todas as transações feitas via pix são retransferidas as exchanges que negociam a XGC, para assim efetuar a compra das ordens abertas com o valor integral feito através dessa transação. E as moedas XGC adquiridas são enviadas aos usuários para a carteira de responsabilidade de cada investidor.

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