Imagem da matéria: Documentário expõe falsos day traders que faturam só com venda de cursos
Personagem Lucca Di Mônaco explicando seu curso de day trade. Imagem: Reprodução

“Se ficássemos calados, seríamos coniventes”, comentou a casa de análises Spiti ao descrever seu documentário ‘Money Dopers — A Jornada do Fracasso’. Trata-se de uma ação com intuito de abrir os olhos de milhares de brasileiros iludidos pelo day trade, bem como fazer os iniciantes sentirem na pele como é cair em uma cilada.

A peça pode ser vista como um alerta para quem deseja se aventurar na profissão, mas também pode ser usada como arma contra falsos traders ‘vendedores de cursos’ que vivem da venda, não do trade. Como descreveu a Spiti, “o day trade do carro de luxo alugado, da ostentação e das promessas”.

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O documentário contou com uma participação de peso, de Henrique Bredda, um dos maiores gestores brasileiros de fundos. No decorrer da peça, ele e outros especialistas comentam sobre fatores que rodeiam a profissão, principalmente o risco, onde pessoas físicas ‘viciadas em dinheiro’ (tradução para ‘money dopers’) perdem a luta por uma vantagem que sempre cairá nos braços dos grandes traders do mercado, as instituições.

Curso para day traders

“O meu dinheiro vem do trade, mas eu também não estou dizendo que não vem dinheiro do curso. Mas o dinheiro vem do trade. É porque eu também não acho que é problema vender o conhecimento; isso acontece na maioria das áreas”. A fala é do protagonista da peça, o personagem Lucca Di Mônaco, interpretado por um ator. Ele é um trader bem sucedido tentando persuadir uma pessoa a comprar seu curso.

É o que acontece na vida real. Atualmente são incontáveis os falsos day traders que surgiram com apenas um objetivo, que é arrancar dinheiro do pequeno investidor. Para a Spiti, esse movimento já virou um assunto de saúde pública. “Pessoas físicas estão adoecendo, vítimas das armadilhas criadas pelo ecossistema em que todos ganham, menos quem investe”, disse a empresa.

Bredda reforçou: “Essa vontade de ganhar dinheiro, de participar do jogo, da Bolsa, está sendo explorada por pessoas querendo vender um sonho que não é para todo mundo”. Ele acrescentou que se um amigo chegar dizendo que está fazendo um curso de day trade, ele não vai deixar. “Ou você para de fazer ou não fala comigo”, explicou.

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Bolsa não é para o curto prazo

Um dos problemas quando alguém fala do mercado de ações apontado pelo professor de economia na FGV, Bruno Giovannetti, é a ‘venda da Bolsa’ para o grande público “não como um lugar de investimento de longo prazo, mas como um lugar que dá para tirar rendimento no curto prazo”. Para ele, pensar assim é uma maneira totalmente maluca e errada.

Mas o vendedor de curso prega desta forma, segundo o documentário. Por exemplo, uma das falas de Di Mônaco é: “Renda fixa não é investimento e você vai passar a sua vida inteira atrás de migalha”. E quando se trata de levar seu alvo para o mercado de ações, vem a persuasão: “Aqui a dinâmica é outra; mais rápida”.

Sobre isso, o analista Alex Martins comentou: A imagem que as pessoas têm de viver de day-trade é você operar todo dia 15, 10 minutos, e que a sua vida ali vai tá resolvida. É duro falar isso, mas isso não existe”. Conforme relata no vídeo, no começo da carreira, Alex perdeu quase R$ 1 milhão em apenas uma operação, justamente por não conhecer o mercado.

É o apelo do “lucro rápido”, do “lucro fácil”, disse a analista de ações Aline Tavares, sobre a corrida por ganhos rápidos que foi acentuada após o início da pandemia, quando as pessoas perderam renda e passaram a ficar mais em casa.

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Para Isabella Paschuini, especialista em Economia Comportamental, o comportamento do day trade é parecido com o dos jogadores de loteria, pois ambos navegam em constantes oscilações de sentimentos. E isso, para Bredda, é movido a cortisol, a dopamina, por uma “piscina de hormônios”.

Day trader no Brasil

Em resumo, o documentário vai ao encontro de estudos de especialistas que comprovaram em números que a maioria dos day traders falha. No mês passado, o trabalho de Giovannetti com o também professor da FGV, Fernando Chague, mostrou que mais da metade dos day traders experientes perde dinheiro na Bolsa de Valores brasileira e somente 7% ganha acima de R$ 10 mil por mês.

Os especialistas consideraram apenas investidores experientes, que fizeram operações diárias nos mercados de ações, mini-índice e mini-dólar entre 2012 e 2017, em pelo menos 90% dos 72 meses desses seis anos. 

Um estudo de  2019  mostrou que menos de 1% dos day traders conseguem lucro. O relatório foi publicado em forma de um artigo intitulado ‘É possível viver de Day Trading?’.Na época, o trabalho recebeu elogios do economista Samy Dana, que ironizou ao sugerir que o artigo deveria se chamar “morrer de trading”. 

No ano passado foi publicada uma nova análise, que pela conclusão não parece ter mudado muito quando foram incluídos trading dos anos 2016 e 2018. Os resultados pioraram: mais de 99% dos day traders no Brasil têm prejuízo.

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Veja o documentário completo:

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