A empresária chinesa Geng Xiaonan, de 46 anos, está prestes a ser julgada em um tribunal de Pequim por supostamente ter atuado de forma ilegal com sua editora de livros. No entanto, segundo The New York Times (NYT), pessoas à sua volta acreditam que a história é outra; sua a aproximação a críticos do Partido Comunista da China (PCC).
Xiaonan e o marido, Qin Zhen, que estão presos desde outubro do ano passado, encontraram um espaço para fazer uma pequena fortuna publicando livros sobre culinária, saúde e estilo de vida. Conforme detalha a reportagem, ultimamente eles vinham organizando jantares e reuniões com intelectuais liberais, em sua maioria críticos do governo da China de longa data.
O caso lembra o episódio recente que ocorreu com Jack Ma, fundador do Alibaba e homem mais rico do país, que criticou o governo chinês em público e supostamente teve que baixar a bola sumindo de cena. No caso de Xiaonan, ela deu voz a ex-funcionários do governo presos pela ditadura — “que caíram em desgraça com o partido nas últimas décadas”, diz o jornal, citando as entrevistas online promovidas pela empresária.
O jornal conta que a empresária passou a ser cada vez mais vigiada no ano passado, depois de defender comentários de um professor de direito de Pequim. Após a publicação de alguns artigos, onde critica o Partido Comunista e seu principal líder, o presidente da China Xi Jinping, Xu Zhangrun foi suspenso do trabalho.
Partido inventa crimes, diz ex-professora ao NYT
Cai Xia, ex-professora na instituição de ensino do PCC, amiga de longa data do casal e que hoje mora nos EUA, disse que as prisões são puramente perseguição política.
“É um sistema seletivo de fiscalização; Eles podem inventar o que quiserem quando querem te acusar de algum crime”, disse Xia ao jornal. No caso de Xiaonan, ela vai responder por publicar livros sem as devidas autorizações.
Para se ter uma ideia, o jornal acrescentou que o professor Zhangrun ficou preso por alguns dias acusado de ter contratado uma prostituta. Quando Xiaonan percebeu sua ausência, espalhou a notícia. Em consequência disso, passou a ser seguida por agentes do partido.
Empresários emergentes na China
Segundo o NYT, Xiaonan faz parte de uma série de empresários chineses detidos ou presos desde o ano passado, quando o PCC impõe uma linha mais dura aos emergentes que desafiam o governo de Pequim. O espaço para o discurso político encolheu nos últimos anos, à medida que Xi apertou as algemas da sociedade, escreveu o jornal.
O líder enfatizou repetidamente o papel de direção do setor estatal, e o partido também alertou os empresários privados que eles devem permanecer leais.
Prova disso provavelmente foi sentida na pele por Jack Ma. Após um discurso em outubro passado, quando criticou o governo chinês numa conferência em Xangai, o bilionário ficou cerca de dois meses sem aparecer em público’.