A tensão foi uma das marcas registradas da audiência de Glaidson Acácio dos Santos – conhecido como o Faraó do Bitcoin – frente aos deputados da CPI das Pirâmides Financeiras. Ele participou de reunião nesta quarta-feira (12) por videoconferência direto do presídio federal de Catanduvas, no Paraná, onde está preso.
Durante as perguntas e respostas, Glaidson foi inquerido sobre as atividades de sua empresa GAS Consultoria, assim como os processos que responde sobre supostas ordens para assassinatos e na existência de empresas no exterior em seu nome e no de sua esposa, Mirelis Zerpa.
Confira a cobertura completa sobre a GAS Consultoria
O “Faraó” protagonizou uma série de bate bocas com alguns deputados. Um dos embate foi com Alfredo Gaspar (União Brasil/AL), que perguntou sobre as acusações de homicídio e tentativa de homicídio pelas quais Glaidson é réu no estado do Rio de Janeiro. Sob pressão, o “Faraó” admitiu conhecer Wesley Pessano, corretor de criptomoedas morto em agosto de 2021, mas negou ser o mandante do assassinato.
Luciano Vieira (PL-RJ) também perguntou se Glaidson encomendou a morte de concorrentes. “Não senhor, isso aí não, se trata da CPI de pirâmide”, respondeu Gladison. “Mas eu pergunto o que eu quiser”, retrucou o deputado, em meio a protesto do depoente.
O deputado relembrou que a defesa de Wesley Pessano, disse que Glaidson ofereceu R$ 2 milhões para comprar a carteira de clientes de Pessano. Como ele não aceitou, ele teria tido a morte encomendada — o Faraó negou a acusação.
Outro momento tenso ocorreu durante questionamento do deputado Zé Haroldo Cathedral (PSD/RR). O parlamentar disse que Glaidson era um dos maiores bandidos da história do sistema financeira nacional – “uma espécie de Bernie Madoff tupiniquim”, em suas palavras, fazendo referência ao criador da maior pirâmide financeira mundial. “O senhor me respeita”, rebateu Glaidson. Não foi atendido: “O senhor é o típico estelionatário brasileiro, sempre bem articulado, fala bem”, voltou a atacar o deputado.
Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), por sua vez, perguntou se Glaidson conhecia uma série de pessoas e se ele possuía empresas fora do Brasil. Disse que havia “fortes indícios” de que os nomes citados eram de laranjas, que teriam sido empregados para abrir as empresas offshore. O empresário negou conhecer as pessoas mas admitiu possuir empresas fora do Brasil – ressaltando que elas “não tinham nada a ver com o negócio da GAS”.
“Não sou pirâmide”
Glaidson negou todas as acusações lançadas pelos participantes da comissão sobre crimes. Insistiu que a GAS não era uma pirâmide financeira, defendendo que ela teria deixado de pagar os clientes apenas devido a uma intervenção da Polícia Federal, que derrubou o esquema com a Operação Kryptos, em 2021. “Não sou pirâmide, não era pirâmide e não serei pirâmide”, disse.
O empresário disse que nem ele e nem sua esposa estão de posse de cold wallets com criptomoedas que foram usadas nas operações da GAS. “A minha esposa não tem carteira de Bitcoin. A carteira foi apreendida na operação da PF e a conta na Binance foi congelada”. Ele afirma que nunca manteve contato pessoal com ninguém da exchange criada por Changpeng “CZ” Zhao.
Por várias vezes, Glaidson se recusou a dizer o quanto de patrimônio estava sob posse da GAS no momento da operação que resultou em sua prisão, em agosto de 2021. Também garantiu que havia membros da Comissão da Valores Mobiliários (CVM) entre seus clientes, sem mostrar provas.
Quando perguntado em quais corretoras a GAS mantinha contas, Glaidson disse que a empresa possuía relações com a Binance e outras, mas se não quis dizer quais outras empresas. Ele afirma que nunca manteve contato pessoal com ninguém da exchange criada por Changpeng “CZ” Zhao.
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Veja o depoimento completo de Glaidson Acácio dos Santos à CPI:
Próximos passos
Após o encerramento do depoimento o presidente da CPI, Aureo Ribeiro, anunciou que vai apresentar pedidos de quebra de sigilo bancário de Glaidson Mirelis Zerpa. Disse também que vai solicitar que a Polícia Federal compartilhe provas de suas investigações contra a GAS.
Ribeiro também comunicou que devido ao recesso parlamentar que se inicia na próxima semana, os trabalhos da CPI das Pirâmides Financeiras só retornam em agosto.
O caso GAS Consultoria
A GAS Consultoria captava clientes com promessas de rendimentos de 10% ao mês que supostamente viriam do trade de criptomoedas. Mais tarde, seu modelo de operação, supostamente de uma pirâmide financeira, desencadeou uma série de investigações pelas autoridades brasileiras.
Nao se sabe ao certo o tamanho do prejuízo deixado pela GAS. A Associação Nacional Centro da Cidadania em Defesa do Consumidor e Trabalhador (Acecont) entrou com uma ação coletiva que foi acolhida pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). A corte fixou que o Faraó deveria depositar R$ 19 bilhões para quitar suas dívidas com clientes. Em setembro de 2021, a Justiça decretou o bloqueio de R$ 38 bilhões das conta do agora réu, conforme aponta o portal Metrópoles.
Segundo a Justiça, seriam 120 mil credores nesse primeiro momento. Conforme o processo judicial tramitar, novas verificações serão feitas sobre quem de fato tem créditos a receber da empresa.
Glaidson foi preso na manhã do dia 25 de agosto de 2021 no âmbito da Operação Kryptos. Na ocasião, outros membros do esquema foram presos enquanto outros conseguir escapar da polícia e fugir do Brasil, como a esposa de Glaidson, Mirelis Yoseline Diaz Zerpa.
Além da acusação de crimes financeiros, Glaidson responde por homicídio e tentativa de homicídio. O Faraó é acusado de mandar matar duas pessoas: Wesley Pessano Santarem e Adeilson José da Costa, que sobreviveu à tentativa de homicídio.
A motivação dos crimes, diz a denúncia oferecida pelo Ministério Público, era que ambos atuavam no mesmo ramo que a GAS Consultoria na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, e eram considerados concorrentes.
Mesmo preso, Glaidson se lançou como candidato a deputado federal no Rio de Janeiro pelo partido Democracia Cristã. O Faraó teve 37.935 votos, o que não é o suficiente para se eleger no estado. Além disso, a candidatura foi indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ).
Em junho desse ano, Glaidson obtreve uma vitória na Justiça e teve retirado um pedido de prisão preventiva. Agora, ainda restam seis decisões judiciais que determinam que ele fique preso.