Embora o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não esteja escalado para participar da Bitcoin Conference deste ano em Las Vegas, sua presença é sentida no ar, com palestrantes como o vice-presidente JD Vance e um ambiente regulatório favorável que todos parecem animados para debater.
Para Adam Back, CEO da Blockstream e criptógrafo britânico, o cenário atual é bem diferente dos primórdios do Bitcoin, quando ele e outros cypherpunks trabalhavam incansavelmente para minar autoridades centralizadas — incluindo o governo dos EUA — por meio da criptografia.
Proteger a privacidade e promover a liberdade de expressão pareciam, na época, posturas naturalmente antiestatais. Desde a posse de Trump em janeiro, no entanto, surgiu um novo conjunto de desafios específicos da indústria.
Segundo defensores, o Bitcoin não enfrenta mais a ameaça de reguladores excessivamente agressivos. No entanto, empreitadas cripto ligadas a Trump — como a memecoin do presidente — têm ofuscado iniciativas legislativas no Congresso e atraído críticas de parlamentares democratas.
Em entrevista ao Decrypt na terça-feira, Back afirmou que o apoio de Trump à indústria cripto representa, no geral, um saldo positivo para o ecossistema, ainda que isso dilua um pouco as origens antissistema do Bitcoin.
“É útil ter políticos com visão de negócios e sensibilidade econômica, pois eles criam um ambiente propício ao progresso, mas é um pouco complicado gerenciar a confiança das pessoas”, disse. “Não sei qual é a solução, mas isso é um fator relevante.”
Outros cypherpunks, como o cofundador do Ethereum, Vitalik Buterin, já alertaram contra políticos favoráveis ao setor cripto que não representam os valores cypherpunks. Ainda assim, mesmo esse alerta de Buterin encontrou resistência dentro da indústria antes da vitória de Trump no ano passado.
No fim das contas, Back afirmou que a administração Trump está acelerando o cronograma da adoção do Bitcoin por governos — seja incentivando iniciativas em nível estadual, fundos soberanos ou até a criação de uma reserva estratégica de Bitcoin.
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Segundo ele, isso é positivo, pois abre um novo nível de demanda além dos investidores de varejo e das empresas.
“A ideia de governos comprarem Bitcoin — provavelmente, em 2015, as pessoas achavam que isso só aconteceria em quatro décadas”, disse Back. “Mas aqui estamos nós.”
Back é o criador do Hashcash, um mecanismo de consenso baseado em proof-of-work que sustenta o processo de geração de blocos do Bitcoin.
Satoshi Nakamoto citou seu trabalho no whitepaper do Bitcoin, e ao longo dos anos, seu nome tem sido frequentemente mencionado como um possível candidato a ser o criador pseudônimo da criptomoeda. Back, no entanto, sempre negou essas especulações.
Para investidores individuais, Back argumenta que seria melhor se os governos acumulassem Bitcoin lentamente, dando mais tempo para que o público pudesse comprar o ativo por conta própria. Ainda assim, se os governos ignorarem o Bitcoin, correm o risco de perder relevância econômica e competitividade, segundo ele.
Nesse sentido, a reeleição de Trump não foi um momento de tudo ou nada para o setor de ativos digitais. Mesmo que a administração anterior da Casa Branca fosse hostil, avanços importantes — como a aprovação dos ETFs à vista de Bitcoin nos EUA — ainda assim ocorreram.
“Eles criavam atritos, o que acabava empurrando inovação e tecnologia para fora do país”, disse. “Ainda existem limitações, mas, na prática, a aceitação e regulamentação têm ocorrido de forma gradual.”
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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