Imagem da matéria: Por que os NFTs se tornaram moda no mercado de fotografia de arte
(Foto: Shutterstock)

Freddie, um ávido colecionador de fotografias na forma de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês), havia comprado uma fotografia por US$ 2,3 mil em novembro de 2021. Dois meses depois, ele a vendeu por US$ 30,4 mil.

Bem-vindo ao mundo do coleção de fotografias NFT, onde as belas-artes encontram Finanças Descentralizadas (ou DeFi) para os millennials. Dados do ArtPrice e estimativas do site Collector Daily sugerem que o mercado de fotografias NFT cresceu US$ 200 milhões em 2021 — o tamanho do mercado tradicional de fotografias impressas.

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Essa é apenas a ponta do iceberg. O mundo da arte está passando por uma enorme transformação devido a uma rara confluência de grandes mudanças culturais e tecnológicas.

Primeiro, millennials emergiram como adultos durante uma era de enorme transformação tecnológica e seus sucessores (a geração Z) são nativos digitais que passam uma crescente porcentagem de seu tempo livre na internet.

Segundo, millennials e a geração Z têm dinheiro — na maior transferência de riquezas na História, mais de US$ 35 trilhões estão sendo passados de “baby boomers” para as gerações mais jovens. Essas condições estão fomentando o colecionamento de artes digitalmente nativas, tanto no mercado primário como no secundário.

Terceiro, houve um enorme crescimento de riqueza em criptomoedas nos últimos cinco anos, criando uma nova geração de compradores de obras de arte.

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A fotografia artística está no centro dessa confluência de imersão tecnológica, transferência de riquezas e geração de riquezas com cripto, à medida que o mercado de fotografias NFT não apenas se transforma, mas cresce de maneira significativa.

Freddie — que, assim como muitos no mundo dos NFTs, prefere usar um pseudônimo em vez de seu nome completo — está mais otimista em relação a NFTs do que fotos físicas: 

Acredito que a sociedade se tornará gradualmente mais digitizada e, à medida que isso acontece, daremos cada vez mais valor às nossas vidas digitais.

Conforme as gerações nativamente digitais começam a ter os fundos que nossos pais tinham e passamos mais tempo em frente às telas, iremos usar a renda à nossa disposição para colecionar — apoiar a arte, preservar riqueza e impressionar nossos amigos on-line.

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A fotografia tradicional já foi a “novata” nas belas-artes

A fotografia NFT é uma “novata” em busca de uma forma de entrar no mercado fotográfico, assim como a fotografia tradicional buscou se incluir no mundo das belas-artes.

O mercado de fotografia existe há mais de um século. Inicialmente administrado por galerias comerciais, como a galeria 291, na Cidade de Nova York, alimentada pelo icônico fotógrafo Alfred Steiglitz, o meio começou a se estabeleceu dentro do amplo mundo das belas-artes.

Em 1930, o Museu de Arte Moderna de Nova York (ou MoMA) começou a colecionar fotografias. Já em 1940, o MoMA criou um dos primeiros departamentos, em um museu de arte, dedicados à fotografia artística. Atualmente, grandes fotógrafos fazem parte do amplo mercado de arte contemporânea que, em 2021, foi avaliado em mais de US$ 51 bilhões.

O surgimento das redes sociais e das câmeras de smartphones tornou a fotografia no fator dominante da cultura visual de nossa época, impulsionando o aumento drástico do mercado tradicional de fotografias artísticas nas últimas décadas.

Na década de 1980, as cinco fotografias mais caras leiloadas na Sotheby’s custavam, em média, US$ 98 mil. Na década de 2010, essa quantia aumentou para US$ 2,9 milhões. Ao mesmo tempo, o número de fotografias leiloadas mais do que triplicou.

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Junto com avanços no software de manipulação digital, a fotografia digital reformulou a prática artística de grande parte dos fotógrafos. Artistas têm um maior controle sobre suas imagens do que quando trabalhavam em uma câmara escura com negativos e impressões.

E lá vêm os NFTs

Em novembro de 2021, a obra nº 49 da coleção “Twin Flames”, do artista Justin Aversano, foi vendida por quase US$ 3,8 milhões, tornando-se a quinta fotografia mais cara da História.

NFTs — ativos digitais comprovadamente exclusivos — são a próxima grande inovação e seu impacto na fotografia é imenso. Isso acontece porque NFTs resolvem alguns desafios complexos e inerentes à abordagem tradicional do colecionamento de fotografias.

Já que fotografias são bastante reproduzíveis e facilmente falsificáveis com uma simples função de copiar/colar, a autenticidade e procedência continuam sendo um problema.

O amadurecimento das blockchains e de outras tecnologias Web 3 apresenta soluções a esses desafios — o rastreio da criação da obra, sua movimentação nos mercados primário e secundário, além de preservar e aumentar seu valor.

Isso não significa que não existe a possibilidade de fraude, mas é bem mais fácil verificar a autenticidade de NFTs do que a de fotografias tradicionais e impressas.

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“Fotografias NFT provavelmente vão se tornar a principal forma de distribuição e colecionamento de fotografias em breve, da mesma forma que a produção fotogŕafica digital se tornou o modo dominante da produção fotográfica”, explicou Pixelpete, fotógrafo e colecionador de fotos e arte generativa.

Isso não sugere que será a única forma de colecionar — assim como a criação fotográfica analógica está mais sólida do que nunca e continua produzindo algumas das imagens e impressões mais sublimes, haverá um mercado robusto de nicho para o colecionamento de fotografias impressas, provavelmente com o apoio da procedência em blockchain.

“Com NFTs, pela primeira vez, temos a tecnologia que põe a fotografia no mesmo nível que a arte tradicional — pode ser uma obra de arte e seguir as mesmas regras no mercado da arte”, afirmou Sashaku.eth, que coleciona fotos NFT.

“Acredito que levará um tempo para que a maioria das pessoas assimile isso mas, agora, um fotógrafo tem as mesmas chances de entrar para a lista de maiores vendas de arte do que qualquer outra forma de arte.”

Novas gerações se sentem bem mais confortáveis em colecionar fotografias NFT do que colecionadores mais velhos. Apesar das diferenças geracionais e tecnológicas entre colecionadores de NFTs e colecionadores de belas-artes tradicionais, também existe uma continuidade nos tipos de obras sendo adquiridas.

Recentemente, mega-artistas do mundo tradicional entraram para o setor NFT, como Alec Soth — descrito pelo The New Yorker como “sem dúvidas, o fotógrafo mais influente dos últimos 20 anos” —, que vendeu seu primeiro projeto NFT na plataforma Assembly

O colecionamento de fotografias NFT está migrando para as qualidades inerentes da fotografia artística que resistem há mais de um século e impulsionaram o enorme auge do mercado no início dos anos 2000.

“Existe uma beleza, familiarização e humanidade inerentes à fotografia, permitindo que você instantaneamente se conecte às obras a níveis profundos”, afirmou a colecionadora 0xRainbow, acrescentando que fotos NFT não têm o mesmo valor que outros NFTs porque estes geralmente não possuem “os elementos de raridade que são buscados em PFPs [fotos de perfil] e artes generativas.

Assim, você vê pessoas comprando o que as atrai, o que consideram como interessante e o que mais está em sintonia com elas”. Geralmente, esses elementos são a qualidade artística.

“Coleciono fotografias NFT porque preenchem o vazio emocional que existe no mundo de NFTs”, disse Jeffexcell. “Embora você possa se conectar e se identificar com um PFP específico, se admirar com a arte generativa e ficar intrigado pelos modelos ‘play to earn’ ou de assinatura, nada no setor NFT me fez chorar, exceto as fotografias NFT.”

Freddie acrescentou que a fotografia NFT “é um dos poucos gêneros de arte NFT onde você já consegue encontrar obras de qualidade a nível mundial na blockchain”.

À medida que os mercados de arte tradicional e de arte cripto se convergem, o valor das fotos NFT poderá migrar cada vez mais para obras de arte de alta qualidade com uma clara procedência, circulação e mérito artístico.

“Considero fotografias NFT como a rede de oráculos da arte digital, pois artistas estão levando imagens fotográficas do mundo real à chain. Então existe esse elo comum por todas as obras da verdadeira experiência humana sendo levada aos nossos mundos virtuais”, explicou OffCamber.eth.

Conforme mais fotógrafos entram para o mundo NFT, colecionadores estão cada vez mais analisando artistas pelas qualidades conceituais, técnicas e formais de seu trabalho, a importância e o apelo crítico do fotógrafo no setor contemporâneo e o histórico de preço de suas obras.

A essa altura, o histórico será bem mais transparente para todos os colecionadores. Já que esse é um mercado emergente, haverá altos e baixos pelo caminho, mas é bem provável que os participantes iniciais sejam os mais beneficiados.

A maioria de nós não estava colecionando as fotografias de Cindy Sherman por US$ 100 no início da década de 1980 mas, agora, estamos aqui à medida que os maiores artistas do século 21 surgem na blockchain.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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