Imagem da matéria: Os quatro motivos que derrubaram o bitcoin, segundo este especialista brasileiro
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O Bitcoin (BTC) não conseguiu evitar uma queda mais brusca dos preços no último final de semana, e caiu abaixo de US$ 20 mil pela primeira vez desde o final de 2020.

Esse recuo demarcou a primeira vez na história que o bitcoin caiu abaixo da máxima histórica do halving anterior. No caso atual, essa barreira era de US$ 19.783 e foi rompida no sábado (18) quando o BTC atingiu uma mínima daquele dia de US$ 17.720.

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Agora que a criptomoeda líder do mercado ensaia uma possível recuperação, em alta de 5,6% e cotada a US$ 20.590 nesta segunda (20), é possível olhar para trás e tentar entender os motivos que levaram à crítica queda do final de semana.

Em vídeo publicado no canal do YouTube RadarBTC, o especialista brasileiro de criptomoedas Marcel Pechman explicou que o motivo central para essa queda do bitcoin foi a quebra de “players centralizados que estavam operando alavancados e fazendo trade de alto risco”.

Ele elencou as quatro empresas que colapsaram nos últimas semanas e geraram um efeito cascata de liquidações que pressionaram o preço do bitcoin para baixo.

Colapso da Terra (LUNA)

A primeira força de pressão no mercado de criptomoedas foi o colapso do ecossistema Terra (LUNA) que, com a perda de paridade da stablecoin algorítmica TerraUSD (UST), gerou um espiral da morte que aniquilou uma rede que, no seu ápice, chegou a valer US$ 60 bilhões.

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“Era um ponzi e não era nada descentralizado”, disse Pechman em seu vídeo. O bitcoin acabou afetado uma vez que Do Kwon, o CEO da Terraform Labs, “resolveu pegar o ‘lastro’ dessa stablecoin algorítmica e colocar em bitcoin, e o bitcoin começou a cair em um espiral fora de controle. Enfim, LUNA caiu 100%”.

A estimativa é que na época do colapso, a empresa que controla a rede Terra vendeu US$ 3,5 bilhões em bitcoin que havia em reserva para tentar — em vão — recuperar o lastro do UST. 

Calote da Celsius

Pouco tempo depois do Terra desmoronar, foi a vez da empresa de empréstimos de criptomoedas, Celsius, entrar em uma crise que se arrasta até hoje e pode resultar no calote de milhares de investidores.

No dia 12 de junho, a Celsius deu início a outra semana caótica no mercado cripto ao bloquear os saques de todos os clientes, justificando a medida pelas “condições extremas do mercado”.

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“Essa pirâmide chegou a ter US$ 25 bilhões no final de 2021, lembrando, um serviço totalmente centralizado, na base da confiança. O que eles fazem com o dinheiro para dar o retorno prometido, você não sabe”, disse Pechman. 

A Celsius perdeu dinheiro e não conseguiu honrar com os saques dos clientes fazendo apostas que deram errado, na visão do especialista.

Uma dessas apostas arriscadas da Celsius — também usada pela Three Arrows Capital, que colapsou logo em seguida — era ter uma grande exposição ao Staked Ethereum (stETH).

“Essas moedas eram negociadas com um desconto para o valor do ether. Então os caras estavam comprando na expectativa de ganhar o yield do staking e aproveitar o desconto de comprar ether mais barato”, explicou o analista.

Esse esquema, no entanto, não deu certo à medida que a Celsius foi forçada a vender essas moedas, mesmo no prejuízo, para atender a demanda de saques que estava aumentando de forma desenfreada.

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Ao mesmo tempo, esse prejuízo foi se estendendo para outros players que operavam alavancados. “Se cai 2% e você está alavancado 5x, você perde 10% e corre o risco de ter toda a margem que depositou zerada”, exemplificou o especialista.

Liquidações da Three Arrows Capital

Com a crise da Celsius que pressionou o mercado de stETH, outra empresa com grande exposição a essa moeda, a Three Arrows Capital (3AC), sofreu as consequências.

Ao longo da semana passada, a venture capital foi atingida por uma crise de liquidez que intensificou as desconfianças sobre a capacidade da empresa de pagar seus credores.

Antes de quebrar, uma outra estratégia da 3AC para aumentar os lucros era comprar GBTC, o fundo de investimento em bitcoin da Grayscale. Pelas próprias características desse investimento, a falta de paridade com o preço real do ativo pode ocorrer com mais facilidade porque o investidor não pode montar ou desfazer uma cota a qualquer momento, conforme explica Pechman:

“A 3AC estava comprando GBTC com desconto de 5%, 10%, 15% achando que esse desconto ia ser reduzido. Na hora que a Celsius começou a ruir, esse desconto aumentou para 28-30%. Não sei se a 3AC foi aumentando a posição, mas na hora que o descontou  bateu recorde de 35%, eles foram stopados, ou seja, as posições alavancadas que tinham usando GBTC como garantia, foram liquidadas”.

Essas liquidações da 3AC, que chegou a ter entre US$ 8 bi e US$ 10 bi sob gestão, deixou um prejuízo de US$ 1,5 bi que ainda está sendo avaliado, uma vez que a firma tinha exposição a diferentes tipos de empresas e investimentos.

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De qualquer forma, a empresa quebrou como efeito de uma bola de neve de problemas que começou com as vendas da Celsius e que forçou a liquidação da Three Arrows Capital.

Queda da Babel Finance

Para o especialista, o golpe final que fez o preço do bitcoin cair abaixo de US$ 20 mil foi a queda da Babel Finance.

Essa empresa opera de forma semelhante a Celsius, mas é baseada na Ásia e tem como clientes players maiores do mercado cripto, como mineradores de bitcoin.

Na última sexta-feira (17), a Babel Finance seguiu o exemplo da Celsius e também decidiu bloquear os saques de todos os clientes, citando “pressões de liquidez incomuns”. Pouco tempo depois, o bitcoin perdeu o suporte de US$ 20 mil e derreteu ainda mais no final de semana.

“O mercado começou a pensar, ‘puts, vai ter mais corpos boiando aí, talvez essa [Babel Finance] não seja o única’. […] Agora está começando a surgir esses outros corpos que tinham dinheiro sob gestão ou emprestado a Three Arrows Capital”, avalia o especialista.

Esse cenário de incerteza desestimula que investidores coloquem dinheiro no mercado até ter uma visão mais clara de quão fundo é esse buraco de problemas.

“É aquele velho ditado de mercado: uma barata nunca anda sozinha. Então esses caras que são malandros do mercado, mesmo aqueles que confiam no bitcoin, vão esperar porque sabe que há uma grande chance de haver problemas maiores”.

Mesmo em meio a esse ciclo de baixa, o analista é enfático em dizer que a rede do bitcoin continua intacta e que flutuações de preço para baixo já foram vistas no passado:

“Fiquem tranquilos, nós já passamos por dois ou três ciclos similares no passado, o bitcoin já caiu 80%. Agora, quanto tempo vai levar para esse pânico passar, não se sabe. Mas não vale ficar fora desse mercado por causa do medo”.

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