Imagem da matéria: Os mineradores de Ethereum vão conseguir sobreviver após a grande mudança do projeto?
(Foto: Shutterstock)

Conforme a invasão da Rússia à Ucrânia continua a abalar a vida de milhões, muitos ucranianos recorrem a uma fonte confiável de renda que é relativamente passiva e exige pouca manutenção: a mineração de Ethereum (ETH).

Durante anos, a rede Ethereum depende de milhares de pessoas como ucranianos para gerar ETH, a criptomoeda nativa da blockchain, por meio de um processo que consome bastante energia chamado “mineração”. Pessoas ou “mineradores” direcionam poder computacional para competir e solucionar quebra-cabeças complexos. Os vencedores dessas competições recebem o que são conhecidas como recompensas por bloco na forma de valiosos ETH.

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“Por conta da guerra, começamos a fornecer taxas zero de mineração para todos os mineradores ucranianos”, afirmou Da Liang, líder de desenvolvimento financeiro e comercial no f2pool, um grande serviço que permite que mineradores individuais de ether reúnam seu poder computacional e dividam os lucros.

“Vimos que existem tantos mineradores individuais na Ucrânia… Vivendo em vilas, operando diversas GPUs [placas de vídeo] para sustentar toda a sua família.”

Porém, em breve, esses ucranianos — e milhares de outros — provavelmente terão de encontrar outra forma para pagar as contas. “A fusão”, muito aguardada atualização da rede Ethereum, vai pôr um fim à mineração da criptomoeda. Após inúmeros atrasos, a atualização que até então era chamada de “Ethereum 2.0”, provavelmente acontecerá em setembro.

Com a aproximação dessa data, uma hipótese antes tão temida para grande parte dos mineradores agora parece inevitável: o que será dos mineradores de ether que dependem dessa renda? Para onde terão de correr?

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Bom… a resposta vai depender de quem você perguntar.

Pools de mineração

Conforme a fusão se aproxima, surge uma divisão na comunidade entre as empresas que ajudaram a coordenar os recursos de mineradores individuais (os pools de mineração) e os mineradores individuais em si.

Isso tem a ver com o sistema que, em breve, vai substituir a mineração de ether.

Enquanto mineradores podem criar novos ethers ao alocar enormes quantias de poder computacional — em um processo chamado proof-of-work (PoW) —, após a fusão, participantes da rede, conhecidos como validadores, vão precisar alocar enormes quantidades de ether pré-existentes para validar blocos, criar mais ethers e obter recompensas por staking.

Esse processo, conhecido como proof-of-stake (PoS), será um método 99% mais sustentável de gerar novos ethers, de acordo com a Ethereum Foundation. Também irá diminuir a emissão de novos ethers e conceder recompensas em blocos menores.

Para pools de mineração, a transição não será tão drástica. Empresas de pools nunca tiveram o trabalho de gerar poder computacional, então nunca alocaram dinheiro no hardware de mineração que em breve se tornará obsoleto. No entanto, o que essas empresas possuem é o capital humano: a infraestrutura necessária para coordenar a concentração de recursos, captar novos clientes e manter milhares de clientes existentes felizes.

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Por esse motivo, os principais pools de mineração de ether já estão bem adiantados para a transição a pools de staking: organizações que coordenam e combinam os ethers de muitos “stakers” individuais para gerar ainda mais criptomoedas.

“[A transição da mineração para o staking] exige desenvolvimento comercial, serviço ao cliente, comunicação com desenvolvedores principais, equipes de cliente, software, redundância…”, disse Daniel Hwang, líder de protocolos no Stakefish, um grande pool de staking.

Stakefish é a empresa-irmã do f2pool, o segundo maior pool de mineração; ambas as empresas estão há tempos planejando a migração da mineração ao staking do Ethereum, bem como o compartilhamento e a coordenação dos recursos humanos. Hwang também ocupa cargos em ambas as empresas.

O maior pool de mineração de ether, EtherMine, também está migrando para staking: a empresa acabou de lançar uma versão beta de EtherMine Staking, um serviço de pool de staking.

Juntos, EtherMine e f2pool representam quase a metade de todo o “hashpower” (ou poder computacional) direcionado para a mineração de ether.

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Empresas como EtherMine e f2pool operam com uma estrutura de taxas, cobrando pessoas por sua participação em seus pools. Esse modelo de negócio não será afetado pela transição da mineração ao staking.

O impacto nos mineradores independentes

Mas para os mineradores que compõem esses pools e outros mineradores independentes de ether, a transição será bem diferente.

Pessoas que lucraram com a mineração de ether — seja pelo envio moderado de quantias de poder computacional especializado para a mineração de pools ou pela supervisão independente de enormes fazendas de hardware de mineração — agora se encontram em posse de um recurso que não precisam (hardware de mineração muito caro e inútil para staking) e não possuem outro recurso (capital humano).

O staking exige uma contribuição mínima de 32 ETH para começar a obter o menor dos rendimentos na forma de recompensas por staking, que substituem as antigas recompensas por mineração.

Para garantir um lucro relevante, um validador precisaria controlar e alocar bem mais ethers do que isso — uma quantia bem além da poupança guardada pela maioria das pessoas.

Basicamente, para que o staking comece a preencher adequadamente a lacuna deixada pela perda da receita da mineração, será necessário que mineradores independentes criem e mantenham seus próprios pools de staking — uma tarefa bem mais complexa do que manter um conjunto de computadores.

“Não é apenas ligar uma máquina e ganhar dinheiro”, explicou Hwang. “Agora, é preciso fornecer todos esses outros serviços. É como um negócio.”

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Não existem boas opções

Se mineradores individuais são incapazes ou não estiverem dispostos a criar seus próprios pools de staking, terão poucas opções restantes. Podem vender seus equipamentos de mineração e participar de um pool de staking de uma empresa maior.

Também podem continuar com seu hardware — contanto que consista de placas de vídeo mais gerais e não especializadas, e com chips (agora inúteis) de circuito integrado de aplicação específica (ASICs) — e usá-los para minerar um dos outros tipos de criptomoedas compatíveis com seus processadores.

 Nenhuma dessas situações chega a ser ideal.

Contribuir com pequenas quantias de ether a um pool bem maior de staking provavelmente vai gerar uma taxa de retorno bem menor para pessoas do que a mineração fornece atualmente. “A inclinação das curvas da economia são bastante diferentes”, comentou Danno Ferrin.

E em relação a outras criptomoedas compatíveis que mineradores podem emitir com o hardware existente — como Ethereum Classic (ETC), Ravencoin (RVN) e Ergo (erg) —, essas moedas, por terem bem menos demanda que o ether, oferecem margens de lucro drasticamente menores.

“Será impossível que recuperem os custos de equipamento”, afirmou Da Ling, do f2pool, sobre os mineradores de ether que adquiriram caríssimo hardware de mineração nos últimos dois anos. Altcoins (criptomoedas alternativas ao bitcoin) compatíveis com mineração via placas de vídeo, após a fusão, provavelmente não vão cobrir esse déficit.

“Não sei como alguém que tem um faro racional para os negócios irá dizer: ‘Ah, sim… Tenho milhões de dólares de equipamento. Vou só migrar para ravencoin e ficaremos bem”, ironizou uma fonte anônima de um grande pool de mineração.

Todos vão seguir juntos ou muitos serão deixados para trás?

Conforme pools de mineração fazem uma transição relativamente tranquila para o staking, o que será dos mineradores individuais que fizeram esses pools chegarem até aqui?

“Eu não acho que haverá uma sobreposição de clientes”, respondeu Da Liang, referindo-se à falta de interseção observada por ele entre novos participantes no pool de staking e mineradores.

Micah Zoltu, desenvolvedor do Ethereum, já foi mais franco: “A esperança é que a demografia de validadores seja bem diferente da dos validadores”.

Zoltu considera a falta de hardware necessário para participar de um pool de mineração menos como um problema para quem já adquiriu o hardware e mais como uma oportunidade para quem não o adquiriu: “A validação pode ser feita via um computador doméstico. Você não precisa de um hardware especializado”.

Porém, o EtherMine quer atrair os atuais mineradores e avançar junto com eles. Butta, o pseudônimo diretor de marketing da Bitfly, empresa-mãe do EtherMine, afirma que o objetivo é “integrar os atuais mineradores do proof-of -work ao proof-of-stake”. Butta destacou que grande parte dos depósitos à nova plataforma de staking do EtherMine vieram de atuais mineradores.

Seja qual for a escolha que um minerador individual de ether tomar, seja continuar minerando ou começar a fazer staking, não existe uma resposta fácil sobre como poderão gerar a receita proveniente da mineração de ether.

“A fusão está chegando, o mercado de baixa está chegando. Não acho que eles têm muitas escolhas”, afirmou Da Liang. “Só terão de continuar minerando ether até a fusão.”

E depois disso? Não existe uma resposta fácil.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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