O Ethereum está prestes a migrar de um sistema proof of work (ou PoW, na sigla em inglês), que consome bastante energia, para um sistema proof of stake (ou PoS), que é mais ecologicamente correto. Essa migração é conhecida como “The Merge” (ou “A Fusão”) e acontecerá em breve.
O que é a Fusão?
O Ethereum irá mudar a forma como as transações são validadas. Neste momento, o Ethereum funciona de forma parecida ao Bitcoin, onde transações são “mineradas” por uma rede descentralizada de computadores, que apostam para solucionar quebra-cabeças matemáticos. São recompensados em novas moedas ether (ETH) por seu trabalho.
Mas esse método de consenso entre computadores sobre quais transações serão acrescentadas a um novo bloco — conhecido como “proof of work” — demanda muita energia então, em breve, o Ethereum vai migrar para um mecanismo de consenso que usa bem menos energia e que deve tornar a rede 99% mais eficiente energeticamente.
Embora PoS torne os ricos ainda mais ricos, não prejudica o mesmo ambiente.
A comunidade do Ethereum está trabalhando na migração para o proof of stake desde o lançamento da blockchain em 2015.
A Fusão é um dentre vários conjuntos de atualizações que devem tornar o Ethereum mais rápido e barato de usar. Neste momento, o Ethereum está repleto de lentos intervalos de transação e altos custos.
Uma simples conversão na Uniswap, de tokens equivalentes a mais de US$ 1, pode custar mais de US$ 50 em taxas de transação durante épocas de auge no congestionamento.
A Fusão não irá solucionar o problema dos altos preços de gas, mas prepara o terreno para uma série de atualizações que vão reduzir custos. Essas atualizações eram conhecidas como Ethereum 2.0, mas essa terminologia foi descartada recentemente. Agora, chama-se “Consensus Layer” (ou “Camada de Consenso”).
O Ethereum já realizou a migração para o proof of stake?
É possível notar que o Ethereum já possui uma blockchain proof of stake, onde é possível fazer o staking de quantos ethers você quiser. Essa rede, chamada de Beacon Chain, foi lançada em dezembro de 2020. É um sucesso desde que foi lançada e, atualmente, possui 350 mil validadores e já possui o staking de 11,7 milhões em ETH (ou US$ 36 bilhões).
Porém, essa Beacon Chain está “interditada”. É operada de forma paralela à blockchain principal do Ethereum e, enquanto desenvolvedores estão ocupados com a criação da próxima versão do Ethereum, não há muito o que fazer além do staking de ETH.
A Fusão irá incorporar a versão da rede principal do Ethereum — a parte que processa transações e contratos autônomos — para que faça parte da Beacon Chain. Quando a Fusão estiver completa, a parte PoW do Ethereum irá desaparecer para sempre, assim como a mineração.
Após a Fusão, será possível operar contratos autônomos na rede principal do Ethereum usando PoS em vez de PoW. Também será possível sacar os ethers em staking no contrato de depósito da Ethereum 2.0. Isso não poderá ser feito imediatamente após a Fusão.
É preciso esperar uma atualização de “faxina” pós-fusão, que a Ethereum Foundation — a organização que supervisiona o desenvolvimento da blockchain Ethereum — espera lançar “muito em breve” após a atualização.
Quando a Fusão vai acontecer?
Na última terça-feira (12), Tim Beiko, da Ethereum Foundation, sugeriu que a rede principal irá migrar com a Beacon Chain “nos meses seguintes” a junho de 2022. No entanto, as atualizações já foram adiadas diversas vezes e podem ser adiadas novamente.
It won't be June, but likely in the few months after. No firm date yet, but we're definitely in the final chapter of PoW on Ethereum
— Tim Beiko | timbeiko.eth 🔥🧱 (@TimBeiko) April 12, 2022
O que é preciso fazer?
Provavelmente nada. A Fusão não irá mudar nada no histórico da Ethereum. Ainda será possível acessar exploradores de bloco, como o Etherscan, para obter um registro completo da blockchain do Ethereum.
Se tudo der certo, não será preciso mexer um dedo sequer — todas as mudanças serão no “back-end”. Porém, se você minera ether, ficará sem emprego e terá de minerar outra criptomoeda.
Se você planeja fazer o staking de ETH na Beacon Chain — a menos que você tenha os 32 ETH (cerca de US$ 98 mil) necessários para operar um validador do Ethereum, ou delegar ethers para que outro validador realize essa tarefa —, você poderá sacar seus ativos apenas depois da Fusão. Porém, é possível “sacar” os ethers colocados em staking em plataformas, como a Lido, que emite tokens que representam seus ethers em staking.
Além disso, quando a Fusão acontecer, a emissão de novos ethers será reduzida em 90%. A emissão de ether poderá se tornar deflacionária se muitas pessoas o usarem.
O que haverá depois da Fusão?
Após a Fusão, outras atualizações vão aumentar a capacidade e a velocidade da rede ao apresentarem “shard chains” (ou “blockchains fragmentadas”), que vão expandir a rede para 64 blockchains. A Fusão precisa acontecer primeiro, pois essas shard chains dependem do processo de staking.
A Ethereum Foundation reconheceu que a necessidade da escalabilidade por meio das shard chains foi compensada por soluções de escalabilidade em segunda camada, como Optimism e Arbitrum.
Soluções de escalabilidade em segunda camada temporariamente migram ether e tokens padrão ERC-20 (transferíveis entre protocolos) para outra blockchain que, por sua vez, finaliza a tarefa por uma fração do custo e a um preço bem mais baixo.
No futuro, shards provavelmente vão coexistir com tecnologias de segunda camada. A Ethereum Foundation afirma que a necessidade de “múltiplas rodadas de shard chains” será avaliada pela comunidade Ethereum, mas poderão fornecer “escalabilidade infinita”.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.