Imagem da matéria: Bitcoin na tesouraria: de objeto de especulação a ativo institucional | Opinião
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Nos últimos meses, uma nova tendência começou a se desenhar no universo corporativo: o uso de Bitcoin como parte da alocação de capital em tesourarias empresariais. 

Para quem acompanha o mercado cripto há mais tempo, essa ideia não é exatamente nova. Mas o que muda agora é o contexto. Não estamos mais falando de startups de tecnologia ou empresas cripto-nativas. Estamos falando de companhias listadas em bolsa, com caixa robusto, estrutura de governança e responsabilidade fiduciária com milhares de acionistas.

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Esse movimento representa algo maior do que uma simples diversificação. Ele aponta para uma mudança de mentalidade: a compreensão de que o Bitcoin pode funcionar como uma reserva estratégica de valor para empresas, assim como ocorre com o ouro ou com títulos públicos. 

Em um ambiente de juros reais negativos, inflação persistente e crescente desconfiança sobre a solidez das moedas fiduciárias, o Bitcoin começa a surgir como um antídoto descentralizado contra a erosão de valor.

O amadurecimento da infraestrutura cripto no Brasil

Pensei em escrever sobre esse tema logo após assistir uma participação inspiradora de Diego Kolling (Head de Estratégias de Bitcoin da Méliuz) no podcast Talkenização onde ele dividiu sua experiência falando exatamente sobre esse movimento: empresas que começam a considerar o Bitcoin como parte da estratégia de tesouraria.

Leia também: Méliuz aloca 10% do caixa em Bitcoin, investindo R$ 23,6 milhões na criptomoeda

Isso me fez refletir sobre o quanto o mercado amadureceu para tornar essa decisão plausível, e por que agora esse tema merece mais atenção do que nunca.

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Para o mercado brasileiro, essa discussão é especialmente relevante. Durante anos, o Bitcoin foi injustamente associado quase exclusivamente à especulação. 

Agora, ganha status de ativo institucional. E isso só é possível porque houve um amadurecimento significativo na infraestrutura que sustenta o ecossistema: plataformas com operações robustas, custódia qualificada, contratos bem estruturados e mais segurança regulatória. 

Empresas que optam por essa estratégia não estão dando um salto no escuro, mas sim aplicando uma visão de longo prazo sobre a preservação do capital.

Ao alocar parte do caixa em Bitcoin, essas companhias sinalizam não apenas confiança no ativo, mas também um entendimento sobre a nova dinâmica do mercado global. 

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É um movimento que também educa, tanto investidores quanto o próprio ambiente empresarial começam a olhar o Bitcoin sob outra ótica. Não mais como uma aposta de curto prazo, mas como um componente estratégico de gestão de liquidez.

A convivência com modelos tradicionais e os efeitos na institucionalização

E aqui entra um ponto que considero essencial: esse tipo de estratégia não exclui os modelos tradicionais. Muito pelo contrário. 

O Bitcoin passa a conviver com ativos mais conservadores, compondo uma carteira que combina proteção contra inflação, liquidez global e, sim, um certo grau de volatilidade que precisa ser gerenciado. 

O que muda é que, ao assumir esse risco de forma consciente, empresas podem se beneficiar da assimetria que o Bitcoin oferece, especialmente em horizontes mais longos.

Do ponto de vista do mercado cripto, esse movimento tem um efeito colateral importante: contribui para a institucionalização do ecossistema. 

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Quando empresas bem estabelecidas começam a incorporar o Bitcoin em suas estratégias financeiras, aumentam a demanda por serviços de custódia, compliance, seguros, auditoria e educação financeira. Em outras palavras, puxam toda a cadeia produtiva para um patamar mais profissional.

O que esperar do futuro: tokenização e novas estratégias financeiras

Se olharmos para o futuro, é possível imaginar uma evolução ainda mais sofisticada. Alocações em Bitcoin podem ser combinadas a produtos estruturados tokenizados, indexações híbridas com renda fixa e integração com plataformas de Open Finance. O que começou como uma “reserva alternativa” pode se tornar um componente estrutural das finanças corporativas.

Estamos no início de um novo capítulo, em que o Bitcoin deixa de ser apenas um ativo de pessoas físicas e passa a ser também uma ferramenta de planejamento financeiro para empresas. A tokenização pode acelerar esse processo, criando mecanismos mais acessíveis e eficientes para empresas de diferentes portes adotarem esse tipo de estratégia.

Quando empresas começam a tratar o Bitcoin como um ativo estratégico e não mais como uma aposta lateral, sabemos que algo mudou de verdade. 

Talvez estejamos diante de um divisor de águas — e, como toda transformação relevante, ela não virá com alarde, mas com decisões silenciosas e bem fundamentadas, como a de colocar parte do caixa em uma tecnologia antifrágil.

Se essa ideia te provoca tanto quanto me provocou, você sabe que essa conversa está apenas começando. Me encontra no linkedin (@DanielCoquieri), onde seguimos explorando o que o futuro dos investimentos está tentando nos dizer, agora — em tempo real.

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Sobre o autor

Daniel Coquieri é CEO da empresa de tokenização de ativos Liqi Digital Assets. Empreendedor do ramo da tecnologia, foi fundador da BitcoinTrade, uma das primeiras corretoras de criptomoedas do Brasil.

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