O cofundador da Ripple, Chris Larsen, celebrou o Dia da Terra, em 22 de abril, com uma proposta ousada.
Ele pediu à rede Bitcoin que mudasse o consenso de prova de trabalho (PoW), que consome muita energia, para um sistema mais ecológico, como o prova de participação (PoS). Uma vez que tal movimento exigiria uma mudança radical no código do Bitcoin, conversei com Larsen para ver o quão sério ele é – e descobri que ele é ‘mortalmente sério’.
De acordo com Larsen, a indústria das criptomoedas está sendo espancada por progressistas, muitos dos quais não conseguem entender que nem todos os blockchains consomem muita energia como o Bitcoin. Ele diz que os ambientalistas não percebem que, uma vez que o Ethereum mude para prova de participação, 40% da indústria será de baixa emissão. E em um plug para sua própria rede, Larsen observou que o uso anual de energia da rede XRP é semelhante ao de 50 lares americanos – contra 12 milhões de lares de Bitcoin.
Larsen também não acredita no argumento de empresas como a Square, que sugerem que o Bitcoin pode lidar com seus problemas de energia contando com fontes renováveis. Ele teme que as energias renováveis nunca sejam tão baratas quanto os combustíveis fósseis e que os oportunistas se voltem para lugares como a Arábia Saudita para extrair BTC barato – ou que certos bilionários encontrem maneiras de subverter qualquer impulso para exigir criptoenergia limpa.
“O que impede Peter Thiel (cofundador do PayPal) de montar um super petroleiro no meio do oceano e operar um minerador de bitcoin com carvão superbarato?”, pergunta Larsen. A única maneira de resolver o problema, diz ele, é a comunidade Bitcoin seguir o exemplo da Ethereum e “fazer a coisa certa” abandonando a mineração.
É uma boa ideia. Mas eu não acho que vai funcionar.
Para começar, ao contrário do batalhão do Ethereum, que é capaz de ter harmonia em alguns momentos, a comunidade do Bitcoin sempre foi rebelde e muitas vezes incapaz de concordar até mesmo em pequenas mudanças para um bem maior. E qualquer impulso para se tornar verde seria ainda mais frustrado pelas empresas que agora investiram bilhões de dólares em hardware sofisticado (como chips ASIC) e operações de mineração.
Enquanto isso, os cínicos serão rápidos em apontar que Larsen, ele próprio um bilionário, está agindo em seu próprio interesse falando sobre XRP em vez de Bitcoin, ou até mesmo usando a questão ambiental, que está em alta, para se distrair dos problemas contínuos da Ripple contra a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC). Isso pode ou não ser justo – Larsen, deve-se notar, doou milhões para causas ambientais. Independentemente disso, um esforço sério para tirar o Bitcoin do PoW não vai acontecer.
Os problemas com a imagem ambiental do Bitcoin não irão simplesmente desaparecer. Empresas e indústrias, até mesmo as grandes petrolíferas, estão fazendo um sério esforço para se tornarem verdes, enquanto os consumidores em todos os lugares veem o meio ambiente como uma crise existencial. Se a indústria das criptomoedas não for cuidadosa, uma ampla faixa de investidores começará a considerá-la um negócio antiético semelhante ao do tabaco ou de combustíveis fósseis.
Infelizmente, a resposta da comunidade Bitcoin a tudo isso foi decepcionante. Em vez de reconhecer o problema, muitos bitcoiners influentes – que de outra forma gostam de jorrar ideais grandiosas – estão respondendo às críticas verdes com agressão e interesse próprio tribal. Eles apontam corretamente que os progressistas estão exagerando o impacto (a pegada do Bitcoin ainda é insignificante em comparação com outras indústrias), mas têm demorado a oferecer qualquer solução.
Uma saída do atoleiro pode ser o Bitcoin adotar o ethos de outras indústrias, incluindo as companhias aéreas, e oferecer créditos de carbono compensatórios. No caso de grandes empresas, elas podem simplesmente prometer emparelhar suas compras de Bitcoin com doações modestas que irão compensar o impacto ambiental. Enquanto isso, gigantes do mercado como Coinbase, Kraken e Robinhood podem oferecer aos consumidores a opção de pagar uma pequena “taxa verde” quando compram Bitcoin ou expandir suas páginas de educação para explicar o impacto ambiental de diferentes criptomoedas. Em um exemplo semelhante, muitos dos artistas de NFTs têm adquirido certificados de compensação de carbono para evitar o impacto ambiental da cunhagem de NFT no blockchain do Ethereum.
Em qualquer caso, eles logo podem não ter escolha. As questões ambientais que pairam sobre o Bitcoin não irão desaparecer, e as empresas terão que encontrar respostas mais cedo ou mais tarde.
Feliz Dia da Terra atrasado.
*Traduzido e editado com autorização do Decrypt.co.