Imagem da matéria: “Dólar só valorizou”: O relato de uma estudante brasileira na Argentina
Foto: Divulgação

*Atualização: por questão de edição, o título e alguns trechos do texto foram alterados para refletir com mais precisão a posição da entrevistada.

Agatha de Oliveira Cavalcante, de 22 anos, faz parte de uma leva de jovens brasileiros que migraram para o exterior em busca de formação ainda na adolescência. Agatha Escodro, como se apresenta nas redes sociais, segue os passos do pai veterinário e da mãe biomédica, cursando faculdade de medicina na Universidade de Buenos Aires (UBA), na capital argentina. O sonho, no entanto, corre risco diante da crise econômica que assola o país vizinho.

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Ficar longe da família, aprender uma nova língua e conviver com uma economia e uma cultura até então desconhecidas não é nada fácil. A futura neurocirurgiã tem sido forte desde que trocou Indaiatuba (SP) pelas terras portenhas, há cerca de dois anos. Uma resistência que se faz ainda mais necessária agora, diante da inflação e da desvalorização do peso argentino.

Confira abaixo o depoimento de Agatha, feito ao Portal do Bitcoin.

Eu pensei em ir para a Argentina em meados de 2017. Na época eu estava fazendo Ciências Sociais, mas não estava feliz com o curso. Foi quando minha mãe sugeriu que eu fosse fazer medicina na Universidade de Buenos Aires (UBA).

Depois da dica, eu pesquisei tudo, sobre a faculdade, o método de ensino, os trâmites pra ir pra lá, o idioma, fiz toda a papelada e fui. Seis meses depois eu estava aqui na Argentina, sem saber nada de espanhol — nada de nada.

Hospitalidade argentina

Quando cheguei eu me senti muito bem. Sempre tem um ou outro argentino que critica os brasileiros. Eles alegam que a gente rouba as vagas. Uma brasileira foi agredida fisicamente e acabou desistindo dos estudos.

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Mas em geral eu sou muito bem tratada aqui; pelos cidadãos, autoridades e governo. Tenho muitos amigos argentinos e adoro a cidade; bares com tango não faltam.

Primeiro baque argentino

Um problema dos estrangeiros aqui é com os bancos. Para fechar uma conta eles fazem milhões de perguntas. O valor do aluguel aqui também acaba ficando caro por conta da inflação. A cada três meses o valor aumenta.

Os preços das coisas aqui são bem altos e o baque foi grande logo de cara. Estava bem perdida.

E eu fiquei um mês no apartamento de uma assessora de um amigo. Eu pagava cerca de R$ 800 para ficar em um dos quartos e não podia continuar pagando aquele valor. Saí de lá e aluguei um quarto duplo em um hostel, foi quando eu conheci as meninas que moram comigo hoje.

Surpresa argentina

Apesar de caro, pagar por aquele quarto ainda se encaixava no meu orçamento. Só que eu não sabia da inflação argentina, que era muito alta, e a cada três meses eles aumentavam o preço. Daquele jeito eu não ia conseguir me sustentar.

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Outra coisa: faltava água e energia elétrica o tempo todo nesse lugar. Tanto que às vezes a gente tinha que estudar no fast food porque não tinha luz. 

Saímos de lá quando o dono do imóvel comunicou um novo valor de aluguel; o triplo. A gente então correu para encontrar outro lugar. Encontramos uma residência cujo contrato era de seis meses e sem aumento de preço no período.

Mudanças na economia

Fique seis meses no hostel e seis meses naquela residência. Durante esse período de um ano eu vi as coisas mudarem bastante na Argentina. Quando eu cheguei, 1 real estava 5 pesos; logo foi para 8 e só foi aumentando; o dólar, idem.

Diante daquela situação, eu perguntei para os argentinos o que estava acontecendo e eles disseram que geralmente a cotação caia no inverno e que daquela vez o fenômeno teve efeito contrário.

Argentina imprime dinheiro 24 horas por dia e mesmo assim falta dinheiro nas ruas
Cédulas de peso argentino. Moeda sofre com forte desvalorização. (Foto: Shutterstock)

Pesos x Real

Em meados de 2019, eu retornei ao Brasil para trabalhar e juntar dinheiro para poder alugar um apartamento na capital argentina, onde eu moro hoje com mais três colegas do meu curso.

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De lá eu acompanhava economia daqui, a cotação e tudo mais, e foi a época que a cotação mais aumentou — foi de 14 para 18 e hoje no paralelo está cerca de 22 pesos por real.

Devido a isso, dependendo da cotação eu gasto mais ou menos. O que são caros são os materiais de estudos, como livros por exemplo, embora eu saiba que isso também custa caro no Brasil. Eu como pouco também. Meus gastos atualmente somam cerca de R$ 1.500 por mês.

Muitos estudantes desistem daqui, porque vieram achando que seria fácil, que o peso está desvalorizado e por isso não iriam gastar muito; não é a realidade.

Agatha (a segunda na foto, contando da direita para a esquerda) com colegas do curso de medicina na UBA.
(Foto: Arquivo pessoal)

Futuro incerto

O governo está complementando o salário dos trabalhadores. Proibiu demissões, está congelando alguns preços também. Hoje em dia isso pode ajudar, mas no futuro eu não sei. Este ano as coisas estão assim, nos próximos não sei. Tenho medo de não conseguir terminar o meu curso.

Outro problema é a falta de produtos. No começo da quarentena, apesar dos preços absurdos ainda se via normalidade. Mas depois de dois, três meses, começaram a faltar produtos como papel higiênico, por exemplo. Antes nunca havia faltado nada. Com o tempo, as coisas foram repostas.  

A situação da economia Argentina é grave, com inflação alta, congelamentos de preços etc. É difícil comparar, mas há uma convergência com o que está acontecendo Venezuela, embora a escala seja muito diferente.

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A área da saúde aqui é bem parecida com o SUS do Brasil. O atendimento é demorado mas é bem acessível e gratuito. Eu acho que é até um pouco melhor que o sistema brasileiro.

Decepção com criptomoedas

Quando estive na província de La Plata, que de trem fica há cerca de uma hora e meia daqui [de Buenos Aires], há uma grande aceitação por bitcoin; residências, comércios, várias coisas. 

Eu comprei bitcoin, mas o troquei por outra criptomoeda chamada Raiblocks, que hoje se chama Nano. Eu a mantinha numa corretora chamada Bitgrail, que faliu e eu acabei perdendo tudo. Então eu desisti de investir.

Dólar é ouro na Argentina

Aqui na capital é diferente, eles “dolarizam” muito. Os lojistas agora estão aceitando geral. Eles têm sacado em dólar para guardar e ter uma moeda que valha alguma coisa se a crise chegar no pico. 

Os argentinos estão acostumados com a ajuda do governo — isso eu discuti com um argentino. Ele acredita que isso acomoda o cidadão, pois quase tudo que eles pedem — como baixar preços, resolver casos de dívidas — o governo vai lá e resolve.

Enfim, apesar das dificuldades, a Argentina é maravilhosa. Eu não me arrependo em nenhum momento de ter pisado no país. Eu amo tudo aqui; minha faculdade, as ruas por onde eu ando, a praticidade das coisas. É o país da diversidade.

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