Imagem da matéria: A tokenização depende de uma mudança cultural para decolar de fato | Opinião
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A tokenização deixou de ser uma promessa distante para se tornar parte do presente do mercado financeiro. 

Mas, mesmo com tecnologia amadurecida, regulações em curso e operações reais sendo emitidas, o modelo ainda está longe de alcançar sua plenitude. 

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A pergunta inevitável é: o que está travando o avanço? A resposta está menos nas máquinas e mais nas pessoas. Afinal de contas, o desafio que temos agora é cultural

É a forma como pensamos sobre ativos, confiança e risco que precisa mudar. A tecnologia já provou o que pode fazer. O que falta é o mercado se sentir pronto para usá-la.

A lógica ainda é analógica

A infraestrutura técnica existe. Tokens já carregam covenants de operações, regras de compliance, liquidação e governança programadas no próprio código. 

Contratos inteligentes tornaram possível automatizar etapas que antes exigiam múltiplas camadas de validação manual. Mas, mesmo assim, muitos ainda hesitam.

Empresas seguem optando por rotas tradicionais de captação, com mais burocracia e custo, mesmo quando poderiam acessar um modelo mais eficiente. Investidores continuam buscando PDFs assinados, quando poderiam consultar diretamente a blockchain. Em muitos casos, ainda se confia mais na caneta do que no código.

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Essa resistência não é por má vontade, mas por hábito. 

Por décadas, fomos ensinados que segurança vinha do papel, da chancela institucional, do carimbo. A tokenização, ao deslocar essa segurança para um ambiente digital, exige que a confiança mude de lugar. E isso não acontece da noite para o dia.

Educação ainda é a peça que falta

Antes de ensinar alguém a operar um token, é preciso garantir que entenda o ativo que ele representa

Muitos investidores ainda têm dificuldade em distinguir ações de títulos de dívida, quanto mais em compreender as nuances de uma operação estruturada tokenizada.

Não se trata de simplificar a linguagem, mas de ampliar o entendimento. Explicar como funcionam os direitos creditórios, como são aplicadas as restrições de negociação, por que um token é mais do que um pedaço de código. 

Se o investidor não entende o que está comprando, ele dificilmente vai confiar na inovação.

O mesmo vale para as empresas. Há um trabalho educacional a ser feito com CFOs, advogados e times de captação. Mostrar como o processo muda, o que se ganha com rastreabilidade, o que se exige de adaptação jurídica

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A inovação só se materializa quando deixa de parecer um risco e passa a ser uma oportunidade real.

A regulação já abriu as portas

O Brasil tem se mostrado disposto a construir esse novo mercado. A CVM discute a modernização da Resolução 88. 

O Banco Central avança com propostas sobre prestadores de serviço de ativos virtuais. A Receita Federal aprimora os modelos de reporte. O ambiente institucional está evoluindo.

Mas isso só é suficiente se o mercado evoluir junto. A tokenização exige mais do que segurança jurídica. Ela exige que os agentes vejam valor em operar de forma diferente. Que compreendam que automatizar um contrato não é perder controle, mas ganhar eficiência. Que percebam que o digital pode, sim, ser mais seguro que o físico.

A regulação oferece o terreno. Mas é a mentalidade do mercado que vai determinar se esse terreno vai florescer ou não.

Confiança precisa migrar para o código

No centro dessa transformação está a confiança.

Durante muito tempo, ela foi depositada em pessoas, instituições, processos. A tokenização propõe uma outra base: regras gravadas em código, visíveis a todos, executadas automaticamente.

Isso muda a lógica. Um token bem programado já incorpora vencimentos, limites e pagamentos. 

Não depende de interpretações futuras ou intermediários para funcionar. Mas, para que isso seja aceito, é preciso que as pessoas confiem nessa estrutura. E isso só acontece com tempo, experiência e clareza.

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O futuro da tokenização será determinado por quem estiver disposto a repensar o presente

Não basta que a tecnologia funcione. É preciso que os agentes do mercado acreditem nela, compreendam seu valor e estejam prontos para construir uma nova forma de operar.

Essa mudança não será instantânea. Mas já está em curso. E quem souber reconhecê-la agora, estará um passo à frente quando o mercado finalmente entender que o maior avanço da tokenização não é técnico, mas mental.

Me conta no LinkedIn @DanielCoquieri como você tem visto essa transição. Vamos seguir essa conversa por lá?

Sobre o autor

Daniel Coquieri é CEO da empresa de tokenização de ativos Liqi Digital Assets. Empreendedor do ramo da tecnologia, foi fundador da BitcoinTrade, uma das primeiras corretoras de criptomoedas do Brasil.

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