O mercado de moedas digitais amanhece no vermelho nesta segunda-feira (21) diante do temor de contágio e insolvência de empresas após a quebra da exchange cripto FTX.
O Bitcoin (BTC) recua 3,4% nas últimas 24 horas, cotado a US$ 16.080,26, segundo dados do CoinGecko.
Em reais, o Bitcoin perde 3,5%, negociado a R$ 86.699,09, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
O Ethereum (ETH) mergulha 7,6%, cotado a US$ 1.118,76. Após dias seguidos trocando tokens drenados da FTX por Ethereum, o hacker que levou mais de US$ 600 milhões da exchange começou a trocar ETH por Ren Bitcoin (renBTC), pressionando o preço da segunda maior criptomoeda, de acordo com dados do rastreador de blockchain PeckShieldAler.
Ren Bitcoin é um token que busca fazer uma representação do BTC em outras blockchains. Reportagem do CoinDesk destaca que, em 2021, a Alameda Research, braço de investimentos da FTX, anunciou que o time de desenvolvedores do renBTC estava se unindo à empresa em um projeto para expandir o uso em diversas blockchains.
A FTX disse que transferências não autorizadas de fundos da FTX Global estão sendo enviadas para outras exchanges por meio de carteiras de criptomoedas, informou a corretora no domingo (20) via Twitter. A empresa não informou o nome das exchanges tampouco os valores.
As principais altcoins também são negociadas em terreno negativo nesta segunda, entre elas Binance Coin (-5,3%), XRP (-9%), Dogecoin (-10%), Cardano (-6,8%), Polygon (-7,7%), Polkadot (-6,8%), Shiba Inu (-5,7%), Solana (-9,1%) e Avalanche (-7,6%).
Utilizando dados de postagens do Twitter, a plataforma CoinKickoff realizou uma pesquisa para identificar os ativos que mais têm preocupado investidores entre os 50 maiores em capitalização de mercado. São eles: FTT, Bitcoin, Cardano, XRP e a stablecoin Tether, cuja emissora migrou cerca de US$ 1 bilhão em USDT para a rede Ethereum que estavam na blockchain Solana, que foi atingida em cheio pela crise da FTX.
Nem os fan tokens escapam do pessimismo nesta segunda. Depois do salto na sexta-feira em meio à expectativa para o início da Copa do Catar, os tokens das seleções de Portugal (POR) e Argentina (ARG) operam em queda de dois dígitos nas últimas 24 horas, mostram dados do FanMarketCap.
Criptomoedas no Brasil
O Projeto de Lei 4.401/2021, que cria um marco legal para o setor de criptomoedas no Brasil, foi incluído na pauta desta terça-feira (22) do Plenário da Câmara dos Deputados. O texto tramita em regime de urgência e é o quarto item na lista de matérias que serão apreciadas no dia. Estar na pauta, no entanto, não significa que o projeto será votado, já que os deputados podem dar prioridade a outras propostas.
Mas pessoas próximas ao processo legislativo em Brasília afirmam que o fato de o Senado estar focado na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, apresentada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, pode abrir espaço para a votação do PL das Criptomoedas na Câmara.
A segregação de ativos de clientes e corretoras cripto, que está no centro do debate do colapso da FTX, é um dos pontos polêmicos do PL no Brasil. O diretor de relações institucionais da Binance, Daniel Mangabeira, disse à Exame que há dúvidas no texto do PL das criptomoedas, porque “obriga segregação de recursos financeiros e ativos digitais, mas são coisas distintas que requerem coisas distintas. É importante entender o que a segregação de ativos digitais significa, porque recursos financeiros não são nem da competência das exchanges”.
Crise da FTX – Últimas notícias
A FTX deve mais de US$ 3 bilhões aos seus 50 maiores credores. Um documento do processo de recuperação judicial submetido no sábado (19) revelou o valor devido aos credores não identificados, todos listados como clientes. A empresa deve mais de US$ 225 milhões a um único credor. De acordo com o documento, outros US$ 1,45 bilhão são devidos a 10 credores. Dados do processo revelaram anteriormente que a FTX pode ter mais de um milhão de credores.
Brokers de Wall Street estão de olho nas ruínas da FTX, oferecendo pagar centavos de dólar aos clientes da exchange pelos direitos dos ativos bloqueados na corretora associados ao processo de recuperação judicial. O objetivo é tentar vender posteriormente esses direitos para fundos de hedge especializados, segundo o New York Times.
A FTX vai tentar vender ou reorganizar os negócios, disse o novo CEO no sábado (19), enquanto a empresa se preparava para comparecer perante um tribunal de falências dos EUA, conforme o Financial Times. “Baseados em nossa análise da semana passada, ficamos satisfeitos em saber que muitas subsidiárias regulamentadas ou licenciadas da FTX, dentro e fora dos Estados Unidos, têm balanços solventes, gestão responsável e franquias valiosas”, disse John Ray III.
A FTX demitiu três executivos do círculo de confiança de Sam Bankman-Fried, fundador do grupo. Caroline Ellison, que comandava a Alameda Research, bem como o cofundador e diretor de tecnologia da FTX, Gary Wang, e o diretor de engenharia Nishad Singh, foram destituídos de seus cargos, disse o Wall Street Journal, que citou uma porta-voz da FTX na sexta-feira.
Bankman-Fried embolsou US$ 300 milhões de uma rodada de financiamento de US$ 420 milhões para a empresa em outubro de 2021, de acordo com o Wall Street Journal, que teve acesso a demonstrações financeiras da FTX e conversou com pessoas a par do assunto.
A Sino Global Capital, uma proeminente empresa de investimentos em criptomoedas com sede na Ásia, detém muitos dos tokens mais atingidos pela quebra da FTX, que também foi parceira-chave em um grande fundo que a Sino levantou com capital de investidores externos, de acordo com o CoinDesk.
A Genesis Block, provedor líder de serviços de varejo de criptomoedas em Hong Kong, suspendeu as negociações. A Genesis Block, que já operou uma das maiores redes de caixas eletrônicos de bitcoin da Ásia, vai encerrar seu portal de negociação de balcão em 10 de dezembro, de acordo com e-mail a clientes visto pela Reuters. A Genesis Block não tem relação com a Genesis Global Capital, braço de crédito cripto do Digital Currency Group (DCG) que suspendeu saques.
A empresa de investimento cripto Grayscale Investments, também controlada pelo DCG, disse que não vai divulgar prova de reservas pois “razões de segurança”. A empresa administra o fundo Grayscale Bitcoin Trust (GBTC), que está sob pressão em meio à turbulência do mercado.
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O CEO do Silvergate, Alan Lane, tentou tranquilizar investidores de que a volatilidade do mercado causada pelo colapso da FTX não afeta os negócios do banqueiro cripto. “Basta dizer que, se os depósitos estão em alta ou em baixa, temos a liquidez e os índices de capital para aguentar a volatilidade”, disse Lane durante o evento Oppenheimer Blockchain & Digital Assets Summit. Ainda assim, as ações do Silvergare caíram 10% na sexta-feira e mostram queda de 85% desde o “bull market” cripto de 2021, conforme o CoinDesk.
Os tokens nativos foram os pilares que levaram à ruína da FTX – e ainda estão em uso nas principais corretoras de criptomoedas do mundo. A Forbes identificou mais de 16 exchanges globais cripto e DeFi (finanças descentralizadas) que atualmente usam esse tipo de token, com um valor de mercado combinado de US$ 62 bilhões.
O senador republicano Ted Cruz disse ao The Block que a velocidade com que a Binance se ofereceu para comprar a FTX e depois desistiu do negócio “sugere no mínimo má intenção”. Segundo ele, “isso é preocupante. Acho que certamente merece um exame adicional considerável”.
Para o cofundador da Ethereum, Vitalik Buterin, o colapso da FTX contém lições para toda a indústria cripto. Em entrevista à Bloomberg, Buterin enfatizou a estabilidade da tecnologia subjacente dos criptoativos, o blockchain, mas reconheceu o forte impacto do colapso do império de Sam Bankman-Fried.
“O que aconteceu na FTX foi, obviamente, uma grande tragédia”, disse Buterin. “Dito isso, muitos na comunidade Ethereum também veem a situação como uma validação das coisas em que sempre acreditaram: qualquer coisa centralizada é suspeita por padrão”, afirmou. Essas crenças também incluem colocar a confiança em “código aberto e transparente acimade humanos”, acrescentou.
O CEO da Coinbase vai na mesma linha. Brian Armstrong disse ao Financial Times que continua “bullish”, ou seja, apostando na expansão da indústria cripto, e que as práticas de Bankman-Fried são um caso isolado no setor. O que aconteceu na FTX, um grupo offshore de ativos digitais, segundo ele, “nunca aconteceria” na Coinbase, uma corretora listada nos EUA. Ainda assim, Armstrong pediu mais clareza regulatória.
Impacto da FTX nas exchanges
Exchanges como Binance e Crypto.com fizeram divulgações totais ou parciais sobre seus ativos desde o colapso da FTX.com. No entanto, a debandada dos clientes persiste, com forte queda das reservas de Bitcoin, Ethereum e stablecoins, de acordo com dados da CryptoQuant citados pela Bloomberg.
Relatório do Bank of America publicado pelo InfoMoney diz que as chamadas “provas de reservas, pelo menos na forma em que foram sugeridas, têm muitas deficiências para inspirar confiança”. Muitas corretoras, por exemplo, têm usado o método “Merkle Trees”, estruturas de dados com informações que podem ser verificadas com segurança.
No entanto, um problema com esse tipo de prova de reserva é “que os ativos são mostrados em um ponto fixo no tempo, o que oferece oportunidades de manipulação, como o empréstimo de ativos logo antes da captura instantânea”, segundo o BofA.
Autocustódia de criptomoedas
Os volumes de negociação nas exchanges descentralizadas aumentaram quase 11% este mês, para US$ 62 bilhões, mostram dados do CryptoCompare provenientes da DefiLlama. Pascal Gauthier, executivo-chefe da empresa de carteiras de hardware Ledger, afirmou à Bloomberg que “a mensagem é clara: as pessoas estão percebendo que devemos retornar à descentralização e à autocustódia”.
Em artigo, Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum, expõe caminhos pelos quais exchanges poderiam comprovar solvência e ativos, apontando problemas nos métodos atuais e tecnologias que poderiam corrigir essas deficiências, como as provas ZK-SNARKs. Em suas conclusões: Buterin vê duas “classes” de exchanges no curto prazo: com custódia e sem custódia. No futuro, “minha esperança é que nos aproximemos cada vez mais de que todas as exchanges não sejam custodiais, pelo menos no lado cripto”.
Outros destaques das criptomoedas
Bill Ackman, CEO da Pershing Square Capital Management, revelou nesta segunda-feira (21) que apoia os criptoativos, mesmo que sua escolha de projeto possa ser questionável, aponta o CoinDesk. Em tuíte, Bill Ackman disse que gosta da Helium, uma blockchain de Wi-Fi descentralizada acusada de usar endossos fraudulentos de gigantes da tecnologia como Salesforce e do aplicativo de transporte Lime para dar legitimidade à rede.
A Ripple, plataforma de pagamentos cripto, busca aprovação regulatória na República da Irlanda para acessar o mercado europeu, segundo a CNBC. Ainda em batalha com a SEC, a CVM dos EUA, por suposta oferta irregular do token XRP, a Ripple já possui dois funcionários na Irlanda.
Artigo da The Economist destaca que a sobrevivência da indústria cripto não depende de um excesso de regulação, o que poderia sufocar a inovação, mas de encontrar utilidade para os criptoativos e criar um ambiente no qual investidores se sintam seguros. Regular stablecoins, minimizar roubos e fraudes, isolar o sistema financeiro tradicional de contágio e exigir que exchanges garantam depósitos de clientes com ativos líquidos são passos necessários, aponta a revista.
O professor da Unicamp Jorge Stolfi, 72 anos, é um dos principais pesquisadores em ciência da computação do Brasil e se firmou como o mais reconhecido crítico do mercado de criptomoedas e Bitcoin no país. “Meu conselho é que você arrume outro emprego o quanto antes. Você não quer carregar uma fatia da responsabilidade de ter induzido milhares de pessoas a queimar as economias numa loteria maluca”, disse em tuíte ao repórter Fernando Martines, do Portal do Bitcoin. Confira a íntegra da entrevista aqui.
Nos EUA, a Autoridade Reguladora do Setor Financeiro (FINRA), um órgão autorregulador para serviços de corretagem, vai analisar as práticas de marketing da indústria cripto após o colapso da FTX, de acordo com o CoinDesk. A avaliação exigirá que as empresas forneçam todos os comunicados sobre criptoativos distribuídos a investidores de varejo entre 1º de julho e 30 de setembro deste ano.
Kristin Johnson, comissária da CFTC (Comissão de Negociação de Futuros de Commodities) nos EUA, fez um apelo a profissionais da indústria de criptomoedas para que contribuam com informações em meio à turbulência causada pela FTX, informou a Bloomberg. Segundo a comissária, informantes já receberam milhões de dólares anteriormente ao oferecer pistas para a agência.
O ex-presidente dos EUA Donald Trump está de volta ao Twitter. O CEO da rede social, Elon Musk, anunciou a mudança no sábado (19) à noite, após uma pesquisa do Twitter na sexta-feira que atraiu mais de 15 milhões de votos. Segundo o The Block, o número de seguidores de Trump já ultrapassa 80 milhões, mas o processo de reativação tem sido lento.
Tess Rinearso, que comandava a área de cripto do Twitter, deixou a rede social tuitando uma saudação e um emoji de coração azul na noite de quinta-feira (17) para simbolizar seu pedido de demissão. A saída de Rinearson vem em meio a uma debandada geral no Twitter: 1.200 funcionários decidiram deixar a empresa após ultimato de Musk pedindo trabalho duro, segundo reportagem do New York Times.
O humorista e apresentador de TV Danilo Gentili lucrou cerca de R$ 100 mil com o lançamento de sua coleção de tokens não fungíveis (NFTs) Brazuera. Quando as vendas foram abertas no dia 7 de novembro, os 500 NFTs que compõem a coleção foram vendidos em sete horas.