Os mercados financeiros globais amanheceram mais calmos nesta terça-feira (27), após uma onda vendedora nos últimos dias causada por preocupações com a inflação global e avanço do dólar. Já entre as criptomoedas o clima é de euforia, com os principais ativos registrando forte valorização nas últimas 24 horas.
O Bitcoin (BTC) dá um salto de 5,7%, para US$ 20.202,09, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) também sobe 5,8%, negociado a US$ 1.385,88.
Em reais, o Bitcoin tem alta de 6,4%, cotado a R$ 106.502,53, mostra o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
As altcoins mais negociadas acompanham o ritmo, com ganhos para Binance Coin (+4,4%), XRP (+2%), Cardano (+4%), Solana (+7,2%), Dogecoin (+3,3%), Polkadot (+8,3%), Shiba Inu (+3,7%), Polygon (+5,7%) e Alavanche (+5,3%).
Bitcoin hoje
Na segunda-feira (26), Wall Street teve a quinta sessão seguida de baixa em meio à fuga de ativos britânicos, desvalorização da libra e persistentes incertezas sobre o ambiente macro. Os índices Dow Jones e S&P 500 perderam mais de 1%, enquanto o Nasdaq Composite recuou 0,6%.
Curiosamente, as moedas digitais, que têm seguido os passos dos índices acionários americanos, conseguiram se descolar das bolsas, o que chegou a levar a capitalização total do mercado cripto de volta à marca de US$ 1 trilhão. No entanto, analistas estão divididos sobre a duração do rali.
“Nossos indicadores de curto prazo dão suporte a uma recuperação nesta semana”, escreveu Katie Stockton, fundadora da Fairlead Strategies, uma empresa de pesquisa focada em análise técnica. “No entanto, apenas nos sentimos confortáveis em mudar para uma postura neutra de curto prazo”, porque a retomada deve se reverter rapidamente, diz em relatório divulgado pela Bloomberg.
André Franco, chefe de pesquisa do MB, também faz a ressalva de que movimentos isolados não estabelecem um padrão. “(…) Tem que ver se isso vira uma tendência e o mercado cripto volta a ser descorrelacionado dos mercados de risco”, comenta em artigo no Valor.
Hodlers mais fortes
As posições dos chamados “hodlers” – investidores comprometidos no longo prazo – talvez expliquem esse distanciamento das criptos, na visão de alguns estrategistas.
“Muitos dos players que ainda detêm criptomoedas agora são as ‘mãos mais fortes’”, disse à Bloomberg Andrew Tu, chefe de crescimento da empresa de negociação algorítmica cripto Efficient Frontier.
O número de investidores de longo prazo com 0,1 BTC cresceu nos últimos meses, uma tendência contrária ao padrão visto em outros invernos cripto, de acordo com relatório da Bitfinex.
“Dados on-chain sugerem que muitos dos que foram atraídos pelo aumento dos preços em 2020 e 2021 permaneceram e continuam investindo uma parte significativa do capital em ativos digitais”, diz ele.
Mesmo diante do cenário complicado, outros já arriscam desvincular o desempenho dos criptoativos de dados econômicos.
Análise do CoinDesk cita a newsletter “Two Satoshis” de Jeff Dorman, diretor de investimentos da gestora de fundos cripto Arca, na qual ele discorda da “narrativa conveniente” que associa “o destino dos ativos digitais ao macro”. Para Dorman, essa correlação tem vida curta e se aplica apenas ao Bitcoin e a outras criptos de referência.
“O futuro sucesso ou fracasso dos investimentos em ativos digitais estará mais intimamente ligado ao crescimento de usuários e aplicativos do que a ‘dot plots’”, disse, em referência ao gráfico de pontos pelo Federal Reserve para suas projeções.
Dólar versus criptomoedas
De qualquer maneira, consumidores já sentem os efeitos da alta dos juros e da inflação no bolso. Um modelo de cálculo usado pela Ned Davis Research aponta chance de 98% de uma recessão global. E essa incerteza aumenta a demanda pela segurança de moedas fortes como o dólar.
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No Brasil, a alta da moeda americana ajudou a valorizar as criptomoedas cotadas em reais. O dólar chegou a subir mais de 3%, para R$ 5,41, mostram dados do Valor.
Com o mergulho da libra esterlina frente ao dólar, as perdas de britânicos que investem no BTC também foram reduzidas, aponta o The Block.
O CEO da corretora cripto FTX, Sam Bankman-Fired, destacou no Twitter na segunda-feira (26) que, se as criptomoedas fossem calculadas sob uma cesta de moedas e não apenas em dólar, as pessoas veriam os preços dos tokens sob outro ângulo.
Outros destaques das criptomoedas
A FTX venceu o leilão para a compra dos ativos da plataforma de crédito cripto Voyager Digital com uma oferta de cerca de US$ 1,4 bilhão – mais de R$ 7 bilhões -, de acordo com o The Block. A venda encerra uma disputa de duas semanas, na qual a Binance também estava interessada, segundo fontes do mercado.
O Nubank anunciou que mais de 1,8 milhão de clientes realizaram ao menos uma compra de criptomoedas por meio do aplicativo do banco. A informação foi divulgada por meio de comunicado na segunda-feira (26). Desde o fim de julho, todos os usuários da companhia têm a opção de transacionar cripto na plataforma.
A Binance vai apoiar a iniciativa da comunidade da criptomoeda Terra Classic (LUNC) e implementar um mecanismo de queima das taxas de negociação em sua plataforma. Na última terça-feira (20), todas as transações de LUNC (antiga LUNA) haviam começado a cobrar 1,2% sobre tokens, a chamada “burn tax”, para que os mesmos saiam de circulação.
Um dos objetivos de longo prazo com a Fusão do Ethereum é a redução das taxas das transações, consideradas altas. Em entrevista ao Valor, o brasileiro Marcelo Salhab Brogliato afirma ter solucionado alguns dos problemas do Ethereum com a blockchain de primeira camada Hathor, que utiliza malha de transações e blocos.
A Mastercard anunciou na segunda-feira (26) o primeiro cartão de débito do mundo customizável com tokens não fungíveis (NFTs). Detentores de NFTs poderão personalizar o cartão com a imagem de seu token, desde que possam comprovar a propriedade, conforme a Exame.
Regulação, CBDCs e Cibersegurança
Do Kwon, cofundador da Terraform Labs e criador da cripto LUNA, deu a entender que não está preocupado com o alerta emitido pela Interpol para sua captura. Kwon, cujo paradeiro é desconhecido, afirmou no Twitter que está “fazendo esforço zero para se esconder” e acrescentou que faz caminhadas e vai às compras.
Promotores da Coreia do Sul querem bloquear ativos ligados a Do Kwon, de acordo com informações da Bloomberg e do CoinDesk. As autoridades enviaram solicitações às exchanges KuCoin e OKX para congelar um total de 3.313 bitcoins, no valor de cerca de US$ 67 milhões a preços atuais.
As autoridades da província chinesa de Hunan prenderam 93 pessoas por supostamente lavarem 40 bilhões de yuan (cerca de US$ 5,6 bilhões) com criptomoedas. A informação foi divulgada no domingo (25) na conta oficial do departamento de polícia do condado de Hengyang, de acordo com o portal InfoMoney CoinDesk.
Califórnia, Nova York e seis outros reguladores estaduais nos EUA abriram um processo contra a plataforma de crédito Nexo na segunda-feira (26), sob o argumento de que suas contas que rendem juros equivalem a valores mobiliários não registrados, segundo o Wall Street Journal. Os outros seis estados são Washington, Maryland, Carolina do Sul, Oklahoma, Vermont e Kentucky.
Metaverso, Games e NFTs
Companhias de capital aberto poderão realizar assembleias no metaverso, segundo resposta da Comissão de Valores Mobiliários sobre uma consulta feita pela Abrasca, que reúne empresas listadas na B3. A CVM entendeu, no parecer técnico 146, que companhias podem usar a tecnologia desde que respeitem as exigências legais que se aplicam às assembleias tradicionais, de acordo com o E-Investidor.
A Disney quer contratar um advogado para liderar os processos legais que envolvem a criação e a comercialização de tokens não fungíveis (NFTs). A posição foi anunciada pelo LinkedIn da companhia e revela um foco cada vez maior da empresa em tecnologias de blockchain.
E o Walmart lançou na segunda-feira (26) duas novas experiências de metaverso – realidade que mescla os mundos real e virtual – na plataforma de games Roblox, conforme o InfoMoney CoinDesk.
Em meio ao lançamento do álbum de figurinhas para a Copa do Mundo 2022, especialistas em mundo digital ouvidos pelo Estadão acreditam que a demanda por cromos de papel vai diminuir. “Já é fato que estamos migrando para o mundo digital e abandonando cada vez mais as coisas físicas. Essa tendência também vai valer para as figurinhas e os álbuns físicos”, explica Sylmara Multini, CEO da IDG NFT (Internacional Digital Group).
A novela “Travessia”, que substitui “Pantanal” a partir de outubro na Globo, vai abordar o metaverso e o submundo da internet. A autora Gloria Perez contou ao jornal O Globo que, apesar da curiosidade pela deep web, o foco da novela é outro: “A tendência de viver mundos que não são físicos e reagir como se estivéssemos lidando com o real me interessa muito”.