Manhã Cripto: Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH) recuam enquanto projeto de lei das criptomoedas volta ao radar no Brasil

Preços das principais criptomoedas ainda não reflete o avanço dos mercados de ações. No Brasil, receio dos investidores é o esvaziamento da regulamentação
Moedas de Bitocin sobre bandeira do Brasil

Shutterstock

O mercado de criptomoedas inicia esta terça-feira (28) em baixa, na contramão dos índices acionários. Apesar da preocupação persistente com a inflação e a recessão global, investidores de renda variável ficaram mais animados com o anúncio de regras mais flexíveis de quarentena para quem chega em voos internacionais à China.

Mas esse movimento ainda não se reflete na negociação das principais criptomoedas. O Bitcoin (BTC) recua 1,8%, para US$ 21.071, mostram dados do CoinGecko. Já o Ethereum (ETH) perde 1%, cotado a US$ 1.222,28.

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No Brasil, o Bitcoin amanhece em queda de 1,8%, negociado a R$ 110.539,78, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB). 

As principais altcoins também operam no vermelho como Binance Coin (-0,9%), XRP (-3,8%), Cardano (-3,3%), Solana (-5,5%), Dogecoin (-7,2%), Polkadot (-5,1%), Shiba Inu (-6,6%) e Avalanche (-7,1%).

O BTC chegou a subir para US$ 21.868 no fim de semana, mas a ausência de fatores macroeconômicos que aumentem o apetite por risco faz diminuir o interesse pela maior criptomoeda. “O aumento do risco de recessão, lucros fracos e previsões de empresas podem afetar ainda mais os preços do mercado acionário. Dadas as correlações recentes, os preços das criptomoedas também podem ser atingidos”, disse Simon Peters, analista de cripto da plataforma eToro, em entrevista ao CoinDesk.

Ao longo do mês de junho, investidores de longo prazo venderam cerca de 181,8 mil BTC, o que levou o saldo total aos níveis vistos em setembro de 2021, de acordo com a Glassnode.

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E fundos de investimentos focados em Bitcoin registraram saídas de US$ 453 milhões na semana passada, o que zerou as entradas no acumulado do ano. Com isso, o total de BTC sob gestão agora soma US$ 24,5 bilhões, o menor patamar desde o começo de 2021, mostra relatório da CoinShares.

Regulação no Brasil

O projeto de lei que regula o mercado de criptoativos brasileiro corre o risco de ser esvaziado caso a versão apresentada pelo relator, deputado Expedito Netto (PSD-RO), seja aprovada pela Câmara dos Deputados nos próximos dias, segundo reportagem da Folha, que teve acesso à minuta do PL corrigido pela Subchefia de Análise Governamental, da Casa Civil, e ao relatório do deputado apresentado às lideranças.

Uma modificação se refere à flexibilização da exigência de segregação patrimonial entre os ativos da corretora e as aplicações dos clientes. O deputado também decidiu desobrigar as empresas a informarem todo tipo de transação acima de R$ 10 mil ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O projeto segue há mais de uma semana na pauta da Câmara, mas ainda não entrou em votação.

Robinhood no radar

Em meio às perdas, há mais sinais de consolidação no setor. O fundador e CEO da FTX, Sam Bankman-Fried, analisa a possibilidade de comprar a plataforma de negociação de ações Robinhood, disseram pessoas a par do assunto à Bloomberg. Em comunicado, o executivo negou que esteja em negociações com a plataforma.

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“Não há conversas ativas de M&A com a Robinhood”, disse Bankman-Fried em comunicado enviado por e-mail e divulgado pela Reuters. “Estamos empolgados com as perspectivas de negócios da Robinhood e as possíveis maneiras de fazer parceria com eles.” A Robinhood não comentou.

A FTX é atualmente a segunda maior corretora de criptomoedas do mundo por valor negociado em transações diárias. Em maio deste ano, Sam Bankman-Fried já havia adquirido uma participação de 7,6% na Robinhood, que tem aumentado a oferta de serviços de criptomoedas, mas cujo valor de mercado já encolheu 75% desde que abriu o capital em julho passado.

Outros destaques

A corretora de criptomoedas Voyager Digital emitiu um aviso de inadimplência contra o fundo de hedge cripto Three Arrows Capital (3AC). O empréstimo foi de 15.250 bitcoins (equivalente a US$ 322 milhões) e 350 milhões em USD Coin (USDC), stablecoin da Circle, e o prazo para pagamento expirava na segunda-feira (27).

A exchange de criptomoedas CoinFlex planeja levantar fundos com a emissão de um novo token que oferecerá retorno anual de 20%, uma forma de liberar saques travados depois de um cliente dar um calote de uma dívida de US$ 47 milhões, de acordo com a Bloomberg. A plataforma vai emitir US$ 47 milhões do token, chamado “Recovery Value USD”, a partir desta terça-feira (28). A liberação dos saques, prevista para 30 de junho, dependerá do nível de demanda pelos novos tokens.

A plataforma de empréstimos Celsius parece resistir à recomendação de advogados para entrar com um pedido de recuperação judicial nos EUA, disseram fontes ao The Block. Na visão da empresa, essa não seria a opção preferida pelos clientes e por isso usuários podem demonstrar seu apoio com um “HODL Mode” em suas contas. A Celsius não comentou.

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Em meio ao mercado baixista, investidores que ganham retornos com empréstimos de criptomoedas começam a rever estratégias. Antes da onda de saques travados, Craig Bowman, um investidor que trabalha com aplicação de leis, estima que estava ganhando o equivalente a 25.000% ao ano com o empréstimo de suas criptomoedas. Os retornos despencaram, mas ele pretende seguir emprestando a stablecoin USD Coin. “Se eu puder ganhar 9%, é melhor do que não ganhar nada”, disse Bowman à Bloomberg.

Fundos de hedge focados em criptomoedas apostam da vez mais na queda da stablecoin da Tether (USDT) para tentar aumentar os lucros, segundo artigo do Wall Street Journal. Vários investidores têm apostado contra a Tether há pelo menos 12 meses. Só que agora mais hedge funds buscam lucrar com a desvalorização do token após o colapso da TerraUSD, de acordo com a Genesis Global Trading.

E as demissões no setor continuam. A operadora de pagamentos com criptomoedas Banxa anunciou que irá reduzir 30% da força de trabalho para cortar custos operacionais, de acordo com informações do Australian Financial Review. O CEO da Banxa, Holger Arians, acredita que o “bear market” atual pode durar um ano. As ações da empresa mostram desvalorização de 74% nos últimos 12 meses.

Os papéis da Coinbase, maior corretora cripto dos EUA, também registram fortes perdas neste ano e caíram na segunda-feira (27) após o Goldman Sachs recomendar a venda das ações. Antes a exchange tinha recomendação de “compra”. O banco avalia que a desvalorização das criptomoedas e queda do volume de negociação continuarão afetando a receita da Coinbase, segundo o The Block.

A exchange Bybit, com sede em Singapura, vai oferecer contratos futuros liquidados na stablecoin USD Coin. Esta é a primeira vez que a Bybit oferecerá futuros liquidados em USDC em vez de Bitcoin. O objetivo é proporcionar preços estáveis a usuários na duração do contrato, de acordo com comunicado.

A Grayscale se prepara para uma decisão sobre a conversão de seu Grayscale Bitcoin Trust (GBTC) em um fundo de índice (ETF) na próxima semana. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) adiou várias vezes a decisão sobre a conversão do GBTC, o que marcaria o primeiro ETF de Bitcoin à vista disponível nos EUA. A decisão está prevista para 6 de julho, informou o The Block. Caso receba o sinal verde, a GrayScale pretende trabalhar com os formadores de mercado Jane Street e Virtu Financial.

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Os irmãos Dylan e Ian Macalinao, os desenvolvedores mais proeminentes da Solana, decidiram lançar o próprio fundo de capital de risco, conforme o CoinDesk. Os irmãos vão dividir o tempo entre desenvolver e investir em projetos cripto. O fundo Protagonist (antes Ship Capital) captou pelo menos US$ 33 milhões, de acordo com informações do site e documentos regulatórios.

O interesse de muitos empreendedores e empresas pela chamada Web3 se baseia no potencial dos negócios que combinam tokens não fungíveis, os NFTs, criptomoedas e outras tecnologias, mostra análise da Forbes. De acordo com a Gartner, esse ecossistema deve movimentar mais de R$ 14 trilhões até 2030.

Regulação, Cibersegurança e CBDCs

O hacker responsável por roubar US$ 100 milhões em Ethereum da ponte Horizon, ligada ao protocolo Harmony, começou a lavar o dinheiro, de acordo com dados da empresa de segurança de blockchain PeckShield. Foram enviadas três transações do endereço usado na invasão de 23 de junho, totalizando 30 mil ETH (cerca de US$ 36 milhões), para o Tornado Cash. De acordo com o Decrypt, US$ 64 milhões ainda estão na carteira Ethereum do hacker. A Harmony ofereceu US$ 1 milhão como recompensa pelo dinheiro roubado.

Relatório da Receita Federal entregue à Polícia Federal afirma que o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como o “Faraó dos Bitcoins”, teria usado uma advogada como laranja para converter criptomoedas em R$ 228 milhões mesmo após sua prisão, revela reportagem da Folha.

Hackers de Bitcoin e outras criptomoedas fizeram mais uma vítima na segunda-feira (27) ao invadir o canal FLA TV no YouTube, que pertence ao Flamengo. A ação, no entanto, não durou muito, e as transmissões já foram normalizadas. Os hackers veicularam uma falsa live com o empresário Michel Saylor, CEO da empresa de software de análise MicroStrategy, falando sobre Bitcoin.

Negociadores da União Europeia se reúnem esta semana para uma última tentativa de elaborar regras contra a lavagem de dinheiro e um novo regime de autorização para provedores de serviços de criptoativos. De acordo com o CoinDesk, os encontros nesta quarta (28) e quinta-feira podem determinar o futuro do marco regulatório para o setor nos próximos anos. Os temas mais polêmicos incluem regras para tokens não fungíveis, o impacto energético da mineração de Bitcoin e o uso de carteiras digitais privadas.

A eurodeputada Aurore Lalucq pediu ao regulador de mercados na França que reconsidere sua decisão “incompreensível” no mês passado de conceder uma licença para a exchange de criptomoedas Binance, segundo o Financial Times. A parlamentar quer que a Autorité des Marchés Financiers (AMF) revise a autorização.

Em entrevista à rede CNBC, o presidente da SEC, Gary Gensler, declarou que o Bitcoin é a única criptomoeda que ele considera viável de ser classificada como commodity nos EUA, em oposição ao projeto de lei bipartidário, que propõe que a maioria dos ativos digitais seja classificada como commodities reguladas pela agência CFTC.

A Tribal, uma plataforma de financiamento e pagamentos “B2B” focada em mercados emergentes, disse na segunda-feira (27) que agora faz parte da Blockchain Association, um grupo de lobby da indústria cripto. Em janeiro, a Tribal levantou US$ 40 milhões com a Stellar Development Foundation (SDF) e Partners for Growth (PFG).