Fundos de hedge focados em criptomoedas estão cada vez mais apostando na ‘venda a descoberto’ da Tether (USDT) para tentar aumentar os lucros, segundo o Wall Street Journal reportou nesta segunda-feira (27).
Nesse tipo de operação, também conhecido como ‘short’, o trader tenta lucrar apostando na queda de um ativo, neste caso, de que o USDT vai caia de preço.
Para o jornal, alguns fundos estão vendendo o USDT como uma aposta contra a economia em geral, já que o Fed, o banco central dos EUA, aumenta as taxas de juros para conter a inflação. “Outros estão preocupados com a qualidade dos ativos que sustentam o Tether”, diz a publicação.
O aumento da venda a descoberto, contudo, ocorre em meio a uma ampla liquidação do mercado que colocou em dúvida a saúde financeira de algumas empresas de criptomoedas. “Esses negócios valem centenas de milhões de dólares em valor nocional”, disse ao WSJ, Leon Marshall, chefe de vendas institucionais da Genesis Global Trading.
Segundo ele, “houve um aumento real no interesse” dos fundos de hedge tradicionais em analisar Tether e shortar sua stablecoin. Marshall revelou que essas apostas de baixa valem pelo menos “centenas de milhões” de dólares.
USDT é a maior stablecoin atrelada ao dólar americano do mercado. Segundo dados no CoinMarketCap, seu valor de mercado atual é de US$ 66,8 bilhões, mesmo tendo perdido cerca de US$ 20 bilhões com a atual crise do setor cripto que levou investidores a resgatar milhões do token dia após dia.
Efeito UST?
A Genesis disse que as posições vendidas aumentaram após a implosão multibilionária do TerraUSD (UST), a stablecoin algorítmica do ecossistema Terra Luna. Isso porque o preço do falido UST caiu da casa de US$ 1 para apenas alguns centavos no final de maio, causando riscos de contágio que afetaram grandes credores de criptomoedas, como a Celsius, por exemplo.
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No entanto, a aposta de fundos hedge na queda do USDT não está só fundamentada no que seria uma crise parecida com a do UST, mas também pelas recorrentes controvérsias acerca do lastro por trás da stablecoin.
Um exemplo, segundo o CoinDesk, é o fundo Fir Tree Partners e Viceroy Research, que já apostaram contra a stablecoin da Tether por conta da incerteza sobre seu lastro.
Apesar de o assunto ainda tomar algumas páginas de jornais, a Tether Limited — empresa controlada pelos proprietários da Bitfinex, que faz parte da iFinex — alegou recentemente que o USDT é apoiado 86% em dinheiro em espécie e o restante em títulos corporativos, empréstimos com garantia e outros investimentos, como criptomoedas.
“Ataque coordenado” contra Tether
Em uma thread no Twitter, Paolo Ardoino, o diretor de tecnologia da Tether, disse que se atentou às tentativas de alguns fundos de hedge que “estavam tentando causar mais pânico no mercado após o colapso do TERRA/LUNA”. Para ele, parecia desde o início um ataque coordenado, com uma nova onda de medo no mercado.
“Eles acreditam que a Tether emite tokens do nada”, disse Ardoino, acrescentando que tal especulação causa desbalanceamento do setor de finanças descentralizadas (DeFi), além criar pressão suficiente, na casa dos bilhões, causando toneladas de saídas para prejudicar a liquidez da stablecoin. Ele concluiu:
“Enquanto o FUD estava se concentrando na Tether, durante os últimos dois meses de devastação no mercado cripto, descobriu-se que muitos credores e fundos de hedge considerados os heróis sagrados de nossa indústria estavam realmente assumindo riscos que a Tether nunca ofereceu. De qualquer forma, esses fundos precisarão comprar de volta. O que vai acontecer? Tether é a única stablecoin comprovadamente à prova de fogo”.