Tango, um grupo validador da rede Celo, apresentou uma proposta de uma stablecoin lastreada em Real para, entre outros objetivos, contribuir para a inclusão financeira de brasileiros atualmente desbancarizados.
Segundo publicação do grupo na plataforma Medium, a nova moeda digital funcionaria sobre a blockchain da Celo, aliança considerada uma rival da Libra — stablecoin idealizada pelo Facebook. Entre os criadores da Tango há funcionários da Celo, que já possui uma moeda digital lastreada em dólar.
Segundo o grupo, que é sediado na Argentina, o Brasil tem a maior população (211 milhões) da América Latina e o maior número de pessoas desbancarizadas — são cerca de 45 milhões nessa situação, de acordo com estudo do Instituto Locomotiva.
Tais fatores, em vez de empecilhos, são vistos como motivação para a escolha do Brasil e da moeda fiat nacional para o projeto.
“E é aqui que a Celo pode fazer a maior diferença. Por isso que a Tango está propondo lançar o Real brasileiro sobre a Celo como a próxima stablecoin, podendo ser simplesmente chamado de “cBRL”, defende o grupo.
“Eles olharam para o mercado brasileiro e viram a oportunidade de lançar uma stablecoin. É legal acontecer, mas não basta só o Tango querer. Essa proposta ainda será votada”
A Celo conta com uma blockchain própria, que é um fork da rede do Ethereum.
Em fase inicial
A cBRL ainda tem um longo caminho para se tornar uma stablecoin de fato. A postagem no Medium, aliás, funciona como um primeiro chamado do projeto ao mercado cripto.
Até o momento as stablecoins baseadas em real sofrem com a desconfiança do mercado brasileiro. Segundo a Tango, isso não significa ausência de demanda por esse ativo — tanto de empresas quanto de usuários.
“Nós coletamos evidências de que corretoras (exchanges) locais estão ávidas por uma stablecoin local confiável. A transparência, neutralidade, auditabilidade e estabilidade do cBRL poderá possibilitar uma grande gama de casos de uso”.
Essa visão é compartilhada por Fernando Bresslau, que atua como Brazil Ecosystem Lead para a cLabs — startup por trás da Celo.
“Do ponto de vista de casos de uso é importante ter stablecoins locais, para que elas possam ter as vantagens de criptomoedas nos apps de empresas que vão utilizá-las, sem que o usuário tenha de fazer conversões o tempo todo”.
Busca por apoio
Bresslau já busca a adesão de corretoras de criptomoedas no Brasil ao token da Celo. Esse ponto é fundamental para dar suporte para as moedas digitais que os utilizam, incluindo a stablecoin proposta em real pelo grupo Tango.
Um dos diferenciais de uma futura cBRL, de acordo com o representante da cLabs, seria o fato de já contar com todo o processo de auditoria da Celo, além do fato da stablecoin se basear em smart contracts. Além de eliminar custos, esse dado confere mais segurança e confiabilidade à moeda do que projetos lastreados, por exemplo, em dinheiro guardado em bancos.
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Essa característica se torna ainda mais relevante quando considerada a relação nada pacífica entre exchanges e instituições bancárias no Brasil.
Bresslau também destaca o fato de a nova stablecoin não ter uma exchange específica como criadora, o que a tornaria potencialmente mais facilmente aceita pelo mercado como um todo.
“Talvez isso explique um pouco porque até agora nenhuma stablecoin em real teve grande aceitação junto às exchanges”, observa.
Caso obtenha apoio suficiente na rede Celo e junto a exchanges para ganhar vida de forma oficial, a cBRL pode chegar ao mercado dentro de alguns meses.
Desafios no mercado brasileiro
Para Fabricio Tota, porta-voz do Mercado Bitcoin, maior exchange brasileira em volume de negociações, a ideia de uma nova stablecoin é bem vinda. No entanto, ele ressalta que iniciativas dessa natureza tendem a encontrar uma série de desafios.
“Ainda não temos uma solução [stablecoin em real] que tenha despontado com grande volume emitido e transacionado, a adoção ainda é bastante restrita”, afirma Tota.
Recentemente a própria exchange colocou um pé no mercado de stablecoins com a listagem da USDC, projeto conjunto da Circle e da Coinbase e lastreado em dólar.
“Qualquer que seja a stablecoin, mesmo em dólar, tem um desafio grande de garantir que o lastro de fato existe. Os projetos de stablecoin em real ainda estão alguns passos atrás nesse sentido, ainda que tenham esforços interessantes para dar transparência ao processo”, completa Tota.
Mercado global de stablecoins
De acordo com pesquisa recente do portal The Block, o mercado de stablecoins cresceu 94% em quatro meses, passando de US$ 5,7 bilhões em fevereiro para US$ 11 bilhões em junho.
Das oito stablecoins examinadas, a Tether foi a que mais cresceu, representando 86,2% desse total, seguida pela USDC (6,8%).
Tal crescimento teria duas hipóteses. Uma delas seria o indicativo de uma demanda futura por criptomoedas; a outra seria o resultado de uma corrida global em direção à liquidez diante do coronavírus, em um processo chamado de “cripto-dolarização” — ou seja, a dolarização a partir de moedas digitais baseadas no dólar.
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