Imagem da matéria: Glassnode projeta bitcoin e ethereum em baixa nos próximos meses; confira os dados on-chain
(Foto: Shutterstock)

Após a grande liquidação da indústria junto com o colapso do LUNA e da UST na última semana, os mercados entraram em um período de consolidação. Preços do bitcoin (BTC) estão sendo negociados em uma faixa relativamente estreita, entre uma alta de US$ 31,3 mil e uma baixa de US$ 28.713.

Agora, o mercado de bitcoins está sendo negociado em baixa há oito semanas consecutivas, com a sequência mais longa e contínua de “candles” semanais vermelhos da História.

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Esta semana, a Glassnode vai analisar o perfil de retorno no curto (mensalmente) e longo prazo (quatro anos) tanto para o bitcoin (BTC) como para o ether (ETH). A partir de então, será possível ver que a atual queda abalou bastante o desempenho de mercado da classe de ativos como um todo.

Além disso, uma avaliação dos mercados de derivativos sugere que ainda existe o medo de que haja ainda mais quedas — pelo menos durante os próximos três a seis meses.

Ao analisarmos os dados em blockchain, é possível ver que a demanda por espaços em blocos tanto no Ethereum como no Bitcoin atingiu baixas de vários anos e a taxa de “queima” de ethers após a EIP-1559, agora atingiu uma baixa recorde.

Junto com o péssimo desempenho de preço, a terrível precificação dos derivativos e a fraquíssima demanda por espaço em blocos no Bitcoin e no Ethereum, é possível deduzir que a demanda provavelmente vai continuar enfrentando obstáculos.

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Preço do bitcoin na vigésima primeira semana do ano (Imagem: Glassnode)

Rendimentos com BTC e ETH estão diminuindo?

Existe um consenso geral formado de que, com a crescente avaliação de mercado, é de se esperar que os perfis de retorno do Bitcoin possam diminuir. Isso reflete inúmeros fatores que incluem (mas não estão limitados a):

– Tamanhos maiores de mercado exigem que mais capital mova em ambas as direções;

– A apresentação de capital institucional, estratégias de negociação mais avançadas e derivativos para proteção e captação da volatilidade.

– Compressão das assimetrias de informação e uma melhor apreciação do risco, desempenho, correlações e comportamento em ciclos.

Historicamente, o bitcoin é negociado com um ciclo de alta/baixa de aproximadamente quatro anos, geralmente associados com os eventos de “halving” — em que a recompensa concedida a mineradores diminui pela metade. O gráfico abaixo mostra a taxa de crescimento anual composta (ou CAGR, na sigla em inglês) móvel e de quatro anos para o bitcoin.

Agora, podemos visualizar essa compressão de retornos a longo prazo, pois o CAGR caiu de 200% (em 2015) para menos de 50% (atualmente). Especificamente, é possível ver a queda marcada no CAGR de quatro anos após a liquidação em maio de 2021, que provavelmente foi o ponto gênese da atual tendência de mercado de baixa.

Taxa de crescimento anual composta (ou CAGR) de quatro anos do bitcoin (Imagem: Glassnode)

No curtíssimo prazo, também é possível perceber que o perfil de retorno mensal para o bitcoin é desanimador, com um desempenho negativo de -30%. Na realidade, o bitcoin perdeu 1% de seu valor de mercado todos os dias no último mês.

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Esse retorno negativo agora está marginalmente pior do que era durante o evento de desalavancagem em 4 de dezembro de 2021, mas não tão severo quanto entre maio e julho de 2021.

Retornos mensais do bitcoin (Imagem: Glassnode)

É possível notar um perfil bem parecido de retorno para o ether nos últimos meses, apesar de possuir um desempenho bem pior de -34,9%. Isso demonstra que a correlação de desempenho entre ambos os ativos continua forte, apesar de haver inúmeras diferenças em suas propriedades fundamentais.

Retornos mensais do ether (Imagem: Glassnode)

Além disso, podemos ver uma junção interessante entre o desempenho CAGR do bitcoin e do ether, principalmente durante tendências de baixa.

No período de incerteza após março de 2020, e novamente desde que o mercado de baixa começou em maio de 2021, os perfis CAGR de ambos os ativos convergiram. Ether também parece estar passando por um perfil de retorno decrescente ao longo do tempo.

Geralmente, o ether tem desempenhos superiores ao bitcoin durante tendências de alta. Porém, essas divergências parecem estar enfraquecendo ao longo do tempo. Em tendências mais baixas, é possível notar que o CAGR do ether geralmente tem um desempenho inferior ao do bitcoin.

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Nos últimos 12 meses, o CAGR de quatro anos para ambos os ativos caiu de 100%/ano para apenas 36%/ano para o bitcoin e 28%/ano para o ether, destacando a severidade do atual período de baixa.

Taxa de crescimento anual composta (ou CAGR) de quatro anos do bitcoin e do ether (Imagem: Glassnode)

Embora o bitcoin continue sendo o maior criptoativo em termos de avaliação de mercado, existe em um ecossistema em constante evolução de blockchains, moedas, protocolos e tokens. Ether, por ser o segundo maior líder de mercado há muitos anos, geralmente é considerado como um indicador do apetite de mercado para o restante da curva de risco de ativos digitais.

Uma ferramenta popular para rastrear esse desempenho relativo e essa rotação do setor é a “dominância do bitcoin”. A variante de dominância abaixo considera apenas o desempenho relativo das capitalizações do bitcoin e do ether.

Tenta condensar essa “rotação de setor” macro em uma métrica de desempenho muito específica e de enorme capitalização. A partir dessa variante, é possível observar que:

a decrescente divergência na dominância do bitcoin (setas na cor verde) é típica de mercados de alta em estágio inicial a intermediário à medida que investidores começam a se mover para fora da curva de risco;

a crescente divergência na dominância do bitcoin (setas na cor vermelha) é típica de mercados de baixa em estágio inicial, onde o apetite de risco diminui e o bitcoin tende a ter um desempenho melhor.

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No atual mercado e após a alta recorde registrada em novembro, é possível notar uma divergência a favor da dominância do bitcoin. Dada a atenção negativa atraída à curva de risco dos ativos digitais pelo colapso do LUNA e da UST, essa pode ser uma tendência interessante de acompanhar.

Também é importante mencionar que a dominância do ether continuou bem mais alta por mais tempo em relação ao mercado de baixa de 2018, sugerindo uma apreciação melhorada de mercado do ether com duração (das moedas na blockchain) e amadurecimento (do mercado).

Dominância da capitalização de mercado do bitcoin e do ether (Imagem: Glassnode)

Derivativos podem cair ainda mais

Agora em relação aos mercados derivativos, é possível notar que existe outra ligação entre o bitcoin e o ether mas, desta vez, nos rendimentos “cash and carry” (ou “pague e leve”) em futuros.

Ao longo do ciclo 2020-2022, um rendimento móvel aproximadamente igual de três meses pode ser obtido por ambos os ativos, sugerindo que traders estão obtendo vantagem de todo e qualquer rendimento disponível no mercado sempre que a liquidez e o volume negociado permitem.

No momento, o rendimento móvel de três meses está em aproximadamente 3,1% para ambos os ativos, uma porcentagem historicamente baixa. Porém, agora é maior do que o retorno de 2,78% oferecido por títulos do tesouro americano com vencimento em dez anos, que pode estar começando a dar motivo para que o capital comece a voltar para o setor cripto.

Rendimento anualizado de três meses entre o bitcoin e o ether (Imagem: Glassnode)

Dito isso, mercados de opções continuam precificados na incerteza a curto prazo e no risco de queda, principalmente entre os próximos três e seis meses. A volatilidade implícita passou por um aumento significativo na última semana durante a liquidação de mercado.

Opções “at the money” (ou “no dinheiro”, com o preço corrente do bitcoin) de curto prazo viram sua volatilidade implícita mais do que duplicar, passando de 50% a 110%, enquanto a volatilidade implícita de opção com vencimento daqui a seis meses disparou para 75%. Essa é uma quebra mais alta do que tem sido um período bem longo de níveis baixíssimos de volatilidade implícita.

Volatilidade implícita em opções “at the money” (ou “no dinheiro”) de bitcoin – Deribit (Imagem: Glassnode)

Com um mercado de baixa tão forte como esse e com um desempenho de preço tão fraco, não surpreende que o mercado possui uma grande preferência por opções “put” (de venda). A proporção “put/call” (venda/compra) para contratos em aberto aumentou de 50% para 70% nas duas últimas semanas à medida que o mercado busca se proteger cada vez mais do risco de quedas.

Proporção de “put/call” (venda/compra) de contratos em aberto para opções de bitcoin – Todas as corretoras (Imagem: Glassnode)

Pensando no fim do segundo trimestre, é possível notar uma alta preferência por opções “put”, com preços de exercício fundamentais de US$ 25 mil, US$ 20 mil e US$ 15 mil. O conjunto de opções “call” (de compra) em aberto é significativamente menor, pois grande parte dos contratos em aberto está concentrado no preço de exercício próximo de US$ 40 mil.

Isso sugere que, pelo menos até a metade do ano, o mercado tem uma forte preferência pela proteção ao risco e/ou especulação por mais quedas na ação de preço.

Contratos abertos em opções de bitcoin por preço de exercício (em dólares) – Deribit – 29 de julho de 2022 (Imagem: Glassnode)

Porém, no longuíssimo prazo, contratos em aberto de opções no fim do ano podem ser mais positivos. Existe uma notável preferência por opções “call”, com uma concentração próxima dos preços de exercício de US$ 70 mil e US$ 100 mil.

Além disso, os preços de exercício dominantes para opções “put” estão em US$ 25 mil e US$ 30 mil, que são níveis de preço mais altos do que os registrados na metade do ano.

Com base no na diferença de preço de contratos em aberto de opções, parece que o mercado está bastante incerto sobre o prazo imediato (entre dois e três meses) especificamente. Porém, especuladores parecem estar tomando vantagem da menor volatilidade implícita e tendo uma perspectiva mais positiva até o fim do ano.

Contratos abertos em opções de bitcoin por preço de exercício (em dólares) – Deribit – 30 de dezembro de 2022 (Imagem: Glassnode)

Cidades-fantasma em blockchain

Talvez por conta da forte confluência com o medo a curto prazo, expressado nos mercados derivativos, a atividade em blockchain tanto no Bitcoin como no Ethereum continua inexpressiva. A alta demanda por espaço em blocos e a utilização de uma rede se manifesta como congestionamento da rede e alta nas taxas de transação.

Embora o Bitcoin tenha registrado uma alta de 2x nas taxas totais pagas na semana passada durante a volatilidade, esteve enfraquecendo em torno de 10 a 12 BTC por dia desde maio de 2021.

Total de taxas de transação no Bitcoin (Imagem: Glassnode)

Apesar de ter um ecossistema blockchain bastante vibrante, o Ethereum também vê a demanda por espaço em blocos diminuir significativamente. Mesmo que a rede possua muitas aplicações, protocolos financeiros e ótimos tokens, o preço médio de gas no Ethereum caiu e, agora, está em apenas 26,2 gwei (1 gwei = 0,000000001 ETH).

Com a exceção de poucos auges durante grandes vendas de tokens não fungíveis (ou NFTs) e a liquidação da última semana, preços de gas no Ethereum estão em uma tendência de baixa estrutural desde dezembro. Um baixo preço médio de gas como esse coincide com as baixas registradas entre maio e julho de 2021 e o período de incerteza após março de 2020.

Preço médio de gas por transações no Ethereum (em gwei) (Imagem: Glassnode

Um efeito dominó da baixa demanda por espaço em blocos no Ethereum é a redução líquida no número de ethers queimados por meio da implementação da EIP-1559 ao protocolo. Após atingir uma alta recorde de 38.940 ETH queimados/dia durante a emissão dos NFTs “Otherside” do Bored Ape Yacht Club (ou BAYC), a taxa de queima agora atingiu uma baixa recorde.

Na última semana, 2.370 ETH foram queimados, que é uma redução de 50% em comparação ao início de maio e representa uma taxa de queima de 18,4% do fornecimento emitido (ou seja, 81,6% dos ethers emitidos está entrando em circulação).

Embora a queima de 18,4% seja uma porcentagem maior do que 0%, é possível que mais moedas que entrarem em circulação durante a fraca nova demanda possam ser um obstáculo para os preços.

Fornecimento queimado diariamente de ETH (Imagem: Glassnode)

Em relação à demanda relativa para o espaço entre blocos do Ethereum, podemos revisar a atividade em blockchain relacionada a populares tokens de Finanças Descentralizadas (ou DeFi): AAVE, COMP, UNI e YFI.

Os gráficos abaixo mostram o número de endereços ativos que interagem com esses tokens e o volume denominado em dólares transferidos em cada. São métricas e comparações relativamente simples, mas as relações com o desempenho de preço são bastante aparentes.

O que é possível notar é uma forte correlação entre a atividade em blockchain e o desempenho de preço dos tokens DeFi e, neste momento, ambos estão bastante desanimadores. Houve um breve aumento na atividade na última semana, mas ainda veremos se essa é uma reversão de tendência ou algo passageiro.

Atividade de tokens DeFi na blockchain do Ethereum (Imagem: Glassnode)

Conclusões

Mercados de baixa podem cobrar seu preço e o atual mercado, em específico, fez justamente isso. Até que o mercado se aproxime de uma forma de fundo sustentado, baixas geralmente pioram antes de melhorarem.

O que se pôde observar foi uma história relativamente coesa de baixo desempenho de preço, decrescentes retornos a longo prazo, o medo sendo precificado nos mercados de derivativos a curto prazo e baixa atividade em blockchain.

Esse efeito é relativamente universal pelo mercado de criptoativos, pois tanto o Bitcoin como o Ethereum estão registrando uma utilização e uma demanda drasticamente menores em relação ao mercado de alta. Para tokens DeFi, ainda mais.

Existem sinais de que a rotação de capital interno está pendendo para o bitcoin desta vez, talvez pontuados pelo colapso recente do LUNA e da UST. Tal rotação é uma característica histórica dos mercados de baixa à medida que investidores recorrem a ativos supostamente mais seguros.

Dito isso, o desempenho de preço da indústria em relação ao dólar americano nos últimos 12 meses continua lamentável e esse mercado de baixa abalou bastante os perfis de retorno a longo prazo.

No entanto, mercados de baixa têm seu fim — talvez, não agora. Porém, como diz o ditado, “mercados de baixa criam os ‘touros’ seguintes”.

Sobre o autor

Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.

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