“São cinco da tarde de 3 de julho onde estou”. Essa é uma das primeiras frases que a foragida da Justiça Mirelis Yoseline Diaz Zerpa disse em um vídeo publicado no YouTube neste domingo (3). Procurada pela Interpol, a protagonista cuida para que o fundo do vídeo seja uma parede bege, uma cortina branca e nada mais que possa providenciar pistas sobre sua localização.
Natural da Venezuela, Mirelis é esposa de Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como Faraó do Bitcoin e criador da GAS Consultoria. Glaidson está preso desde agosto de 2021 e é acusado de montar uma pirâmide financeira e de encomendar dois assassinatos (em um a vítima sobreviveu com graves sequelas e no outro o homicídio foi consumado).
O vídeo tem 27 minutos de duração, em clima de desabafo. Ela fala sobre sua vida e afirma que começou a escrever um livro relatando sua trajetória. Diz que precisa “desabafar, falar sobre muitas coisas” e que gravar vídeos é algo que pode servir como “terapia”. Só quase no final do vídeo, aos 24 minutos, é que ela finalmente cita Glaidson.
“A maioria das pessoas não sabe quem eu sou. Quem sabe é a minha família e meu esposo, Glaidson Acácio dos Santos. Eles são os únicos que sabem quem é Mirelis”, diz a fugitiva.
É única citação de Glaidson. Mirelis não fala sobre o caso GAS Consultoria, sobre as acusações e não entra em nenhum tema de forma específica. Ela se limita a dizer que está sofrendo “injustiças”.
Mireliz e Glaidson são acusados pelos Ministério Público Rio de Janeiro de terem “promovido, constituído, financiado e integrado organização criminosa preordenada à prática de crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro”.
Prisão de Glaidson
Glaidson foi preso na manhã do dia 25 de agosto de 2021 no âmbito da operação Kryptos da Polícia Federal, acusado de orquestrar uma fraude milionária. Na ocasião, outros suspeitos foram presos e outros se tornaram foragidos, como a esposa de Glaidson, Mirelis Yoseline Diaz Zerpa.
Como resultado, os agentes da PF e Receita Federal apreenderam 591 bitcoins, dezenas de carros de luxo e mais de R$ 13 milhões em espécie.
A GAS Consultoria se apresenta como empresa de investimentos com promessas de rendimentos que supostamente viriam de trading com criptomoedas.
No mês passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu um habeas corpus para Glaidson. Segundo informações do jornal O Globo, os ministros da 5ª Turma do revogaram sua prisão preventiva no caso referente à Operação Kryptos. No entanto, este é um dos quatro processos pelos quais Glaidson responde. Portanto, ele permanecerá preso.
Bens bloqueados
No momento, encontram-se bloqueados pela pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio cerca de R$ 400 milhões em criptomoedas e bens confiscados de Glaidson e sócios na Operação Kryptos.
A juíza Rosália Moneiro Figueira, titular da 3ª Vara Federal Criminal do Rio, considerou que esses bens podem ser transferidos para a União ao invés de serem usados para pagar os credores da GAS.
O que leva a magistrada a considerar a possibilidade da Justiça enviar os bens aos cofres do Governo é a não comprovação da origem dos ativos, pois, segundo investigadores federais, os bens podem pertencer a criminosos.
No início do mês, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que a GAS Consultoria tem até o dia 30 de junho para informar sua lista de clientes, o valor devido e os recursos disponíveis para ressarcimento dos credores.
No final de maio, o Escritório de Advocacia Zveiter começou a cadastrar em seu site os credores da GAS Consultoria. Na ocasião, pelo menos 10 mil credores já constavam na lista.