O governo de Joe Biden congelou bilhões de dólares pertencentes ao Afeganistão, mantidos em instituições bancárias dos Estados Unidos, conforme contaram duas pessoas próximas ao assunto ao The Washington Post.
O objetivo é impedir que o Talibã tenha acesso as reservas do governo após tomarem o poder no último domingo (15). A decisão teria partido de Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos EUA, em conjunto com funcionários do escritório de controle de ativos estrangeiros do Tesouro.
De acordo com as fontes anônimas do jornal, “quaisquer ativos do Banco Central que o governo afegão tenha nos Estados Unidos não serão disponibilizados ao Talibã”.
Dados de abril do FMI mostravam que o Banco Central afegão possuía uma reserva de US$ 9,4 bilhões, um montante que não está detido apenas no Afeganistão, mas espalhado em outros países do mundo como os EUA.
Essa pode ter sido uma das primeiras medidas que o governo de Biden deve tomar daqui em diante para sufocar o Afeganistão. No seu primeiro pronunciamento sobre o caso na noite de segunda (16), o presidente dos EUA disse que não iria mandar tropas para tirar o Talibã do poder, mas que recorreria à diplomacia e a sua influência político-econômica no resto do mundo para enfrentar o grupo islâmico.
O ex-conselheiro de Segurança Nacional do governo Obama, Adam M. Smith, disse ao The Washington Post que para congelar as reservas do Afeganistão, o governo americano não precisaria de nenhuma autorização especial, uma vez que o Talibã já foi sancionado por uma ordem executiva após os ataques terroristas de 11 de Setembro.
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Antes mesmo do Talibã tomar o poder, alguns especialistas já previam que o abandono do Afeganistão pelo Estados Unidos poderia causar o colapso do país e provocar um caos semelhante ao da década de 90, quando o grupo islâmico controlava a região.
“80% do orçamento do Afeganistão é financiado pelos EUA e por outros doadores internacionais. Se, por algum motivo, eles continuarem retirando fundos, isso causaria a queda repentina do governo afegão como o conhecemos”, disse em março à Reuters John Sopko, inspetor geral da reconstrução do Afeganistão.
Em relação a apreensão do dinheiro do Banco Central, a opinião dos especialistas ouvidos pelo The Washington Post divergem. Para Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research, o bloqueio seria um “grande erro”. “Seria dizer ao Talibã que o governo dos EUA quer destruí-los e destruir a economia de seu país”, explica.
Já Daniel Glaser, que atuou como secretário no Departamento de Terrorismo e Inteligência Financeira dos EUA, disse ao jornal que cortar o acesso do Afeganistão a sua reserva financeira é o primeiro movimento óbvio: “é o mínimo que eles podem fazer. Eu não confiava no Taleban como guardião responsável das reservas do Afeganistão”.
Antes da intervenção do governo de Biden, a população afegã já estava com dificuldades de acessar o próprio dinheiro custodiado em bancos do país. Aqueles que no domingo foram tentar sacar seus fundos, voltaram para a casa de mãos vazias após as instituições fecharem as portas alegando não haver mais dinheiro em caixa.