Imagem da matéria: A história do cotista que perdeu R$ 4 bilhões em alguns dias com a crise da bolsa no Brasil

Os últimos dias foram realmente ruins no mercado financeiro tradicional. Tivemos a maior queda diária nos mais de trinta anos de história do Dow Jones, índice que mede as ações dos EUA, além de dois pregões ativando o circuit breaker, ou limite de baixa, do Ibovespa. No Brasil, a queda foi de 27% desde 19 de fevereiro, atingindo o menor nível desde novembro de 2018.

Um fundo de investimento foi destaque absoluto na queda, perdendo 55% num único pregão, 9 de março. Trata-se do “Fundo de Investimento de Ações Ponta Sul Investimento no Exterior”, criado em novembro de 2012, gerido por Flavio Calp Gondim, de acordo com dados da CVM. O que chama a atenção, além da perda acentuada, é o fato de contar com um único cotista.

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Para que serve este tipo de fundo?

Por questões tributárias, é normal que family offices, as gestoras de grandes fortunas, abram fundos exclusivos, ou seja, que não estão abertos para captação de clientes externos. Não é possível afirmar que esse único cotista trata-se de uma única pessoa física, pois uma empresa com diversos sócios pode ser o investidor do fundo.

Movimentações do fundo

Os aportes inicial foi de R$ 255 milhões no final de 2012, mas depois tivemos novos aportes de R$ 1 bilhão no final de 2017 e novamente R$ 1 bilhão em 2019. Há alguns saques, totalizando menos de R$ 150 milhões, a maioria nos últimos 13 meses.

O patrimônio do fundo chegou a atingir um pico de R$ 5,6 bilhões no final de janeiro de 2020, totalizando um ganho de 150% frente ao capital líquido aportado. Com a queda dos mercados, o patrimônio do fundo atingiu R$ 1,03 bilhões, uma queda de 82% em relação ao montante menos de 2 meses atrás.

No que o fundo investia?

Algumas ações representavam uma porção significativa da carteira, com destaque para BIDI11 – Banco Inter Unit, além de PETR4 – Petrobras PN. O último balancete, referente a fevereiro de 2020, mostra um total de ativos de R$ 20,3 bilhões, resultando numa alavancagem de 5 vezes o patrimônio líquido. Outro dado importante é o “títulos dados em garantia de operações em bolsa”, totalizando R$ 1,61 bilhão.

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Qual a leitura?

Muito provavelmente o fundo foi obrigado a reduzir sua exposição durante a queda, uma vez que seu patrimônio líquido chegou a um valor bem inferior a esta garantia necessária. O gestor pode ter simplesmente enviado ordens para reduzir a posição, ou a corretora liquidou forçadamente as posições. Qualquer coisa além disto é mera especulação, mas definitivamente um caso interessante para se acompanhar.


Sobre o autor

Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas, além de ser cofundador do site de análise de criptos RadarBTC.


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