Worldcoin (WLD): como funciona a criptomoeda promovida pelo criador do ChatGPT

Objetivo da Worldcoin é criar uma rede de identificação global de identidades usando a íris do olho humano; criptomoeda nativa foi lançada esta semana
Imagem da matéria: Worldcoin (WLD): como funciona a criptomoeda promovida pelo criador do ChatGPT

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O token Worldcoin (WLD) — a criptomoeda nativa do projeto homônimo, criado por Sam Altman, fundador do ChatGPT — foi lançada nesta semana e já desperta polêmica. Com uma proposta ousada que mistura máquinas de escaneamento de olhos, restrições de acesso à documentação e uma mistura de críticas e entusiasmo por parte da comunidade, o projeto já chegou até mesmo a São Paulo, com o pagamento de R$ 250 em criptomoedas por autorização pelo rastreamento da íris ocular.

O Portal do Bitcoin preparou uma série de perguntas e respostas com tudo o que você precisa saber sobre o projeto Worldcoin.

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Nesta reportagem você vai descobrir:

  1. Quem criou o projeto?
  2. O que é o Worldcoin (WLD) e o World ID?
  3. Onde encontrar o whitepaper do Worldcoin?
  4. Quais os tokenomics do WLD?
  5. Como será a distribuição do WLD?
  6. Quais as principais críticas sobre o Worldcoin e o World ID?
  7. Onde estão os Orbs?

Quem criou o Worldcoin?

Worldcoin é uma criação por Sam Altman, co-fundador e atual CEO da empresa OpenAI, responsável pelo desenvolvimento do popular programa de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês) ChatGPT. Além de Altman, também participaram da criação do Worldcoin Alex Blania e Max Novendstern – Max deixou o projeto em julho de 2021.

Alex Blania e Sam Altman dirigem o projeto através da empresa Tools For Humanity (TFH), da qual Alex é o CEO.

A TFH é a principal companhia responsável pelas pesquisas e desenvolvimento do Worldcoin. Ela levantou US$ 240 milhões em três rodadas de investimento privado, contando com aportes de fundos conhecidos como: a16z, Digital Currency Group (DCG), Coinbase Ventures, Three Arrows Capital (3AC) e Sam-Bankman Fried (FTX).

O que é a Worldcoin (WLD) e o World ID?

A missão do projeto Worldcoin é “construir a maior rede de identidade global e rede financeira do mundo”, segundo documentação do projeto. A equipe também cita a importância do desenvolvimento de uma infraestrutura que “será importante para um mundo onde a inteligência artificial desempenha um papel cada vez mais relevante.”

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Para acessar tal infraestrutura de identidade, usuários precisam baixar o aplicativo World App, criado pela mesma empresa. Este é o programa que permite a criação do World ID: uma identificação individual única, gerada a partir do escaneamento da íris ocular em equipamentos especiais chamados Orbs. É um modelo que tem levantado preocupações sobre o controle do sigilo dos dados pessoais e da privacidade dos usuários.

Após registrar sua identidade e receber seu World ID verificado por um Orb, o usuário pode participar da distribuição do token WLD com o recebimento de algumas unidades do token, conforme decidido nos tokenomics da criptomoeda Worldcoin (WLD), publicados em seu whitepaper.

Onde encontrar o whitepaper do Worldcoin?

A documentação (whitepaper) do Worldcoin pode ser acessada em: whitepaper.worldcoin.org. No entanto, são muitos os relatos de que o site tem seu acesso bloqueado em algumas regiões do mundo, de modo errático.

No Brasil, alguns usuários se deparam com o aviso de “este conteúdo não está disponível em sua região”, enquanto outros conseguem acessar normalmente.

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Apesar da limitação de acesso em nossa região, o projeto Worldcoin já possui parceiros no país coletando dados pessoais de brasileiros através do sistema de escaneamento de íris.

Relatos de usuários afirmam que o acesso à documentação com IP do Japão também está bloqueado, assim como alguns residentes dos Estados Unidos e Reino Unido estão igualmente impedidos de ver o whitepaper, segundo o Decrypt.

Quais os tokenomics do WLD?

Worldcoin (WLD) é um token do tipo ERC-20, criado em um contrato (0x163f…18753) na rede Ethereum. No entanto, a porta de acesso para os usuários se dará por meio do Optimism, protocolo de segunda camada do Ethereum, mediante o contrato 0xdc6f…26f1.

A quantidade máxima de tokens está temporariamente limitada em 10 bilhões de WLD, mas a comunidade poderá votar para um aumento deste máximo – com inflação anual de 1,5% – em um prazo de 15 anos depois do lançamento do projeto; portanto, em 2038.

No momento existem apenas cerca de 108 milhões de tokens Worldcoin em circulação no mercado, segundo o CoinMarketCap, ou seja, aproximadamente 1% do máximo.

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Com o preço atual de US$ 2,28 por WLD, Worldcoin possui US$ 248 milhões de capitalização de mercado (multiplicando preço do mercado à vista pela quantidade de tokens em circulação).

Mas este valor sobe para US$ 23,5 bilhões de capitalização totalmente diluída (considerando o suprimento máximo), o que já colocaria o Worldcoin (WLD) entre os principais criptoativos por valor de mercado.

Como será a distribuição do WLD?

Dos 10 bilhões de WLD que serão liberados nos próximos 15 anos, 60% será distribuído entre os usuários mediante:

  • Verificação de humanidade através do escaneamento de íris com os Orbs do World ID
  • Distribuição arbitrária pela equipe conforme julgarem necessário, visando “mais justiça” e “incentivos”.

Além disso, 10% dos tokens serão distribuídos para “operações da rede”, que envolvem os fabricantes dos Orbs, manutenção dos equipamentos e “outras operações”.

Outros 5% serão destinados ao “fundo do ecossistema”, o que que inclui pesquisa e desenvolvimento do protocolo, pesquisa e desenvolvimento dos Orbs e programas de incentivos.

Mais 9,8% será destinado à equipe inicial de desenvolvimento do Worldcoin; 1,7% será mantido nas reservas da Fundação; e 13,5% será entregue aos investidores privados da companhia Tools for Humanity (THF), por trás do projeto.

gráfico de alocação e distribuição dos fundos em Worldcoin (WLD)
(Whitepaper / Worldcoin)

No entanto, a maior parte dos fundos — os 75% que envolvem usuários, rede e ecossistema — vão demorar 12 anos a mais para serem liberados do que os 25% divididos entre equipe e investidores.

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Segundo o cronograma de distribuição e liberação dos tokens WLD, investidores privados e equipe já terão total acesso à sua parte ao fim do terceiro ano pós-lançamento (2026).

Apenas os “fundos de comunidade” (usuários, rede e ecossistema) terão sua distribuição pulverizada ao longo dos 15 anos totais de destravamento da criptomoeda.

Cronograma de liberação dos tokens Worldcoin (WLD).
(Whitepaper / Worldcoin)

O investidor anjo e educador de Ethereum, Sassal, afirma que, com o investimento realizado pela FTX e 3AC, no retorno atual considerando o preço do WLD, ambas as empresas já conseguiriam pagar todos seus credores e se recuperar da crise que as assolou em 2022.

https://twitter.com/sassal0x/status/1683405999481450497

Quais as principais críticas sobre o Worldcoin e o World ID?

A incompatibilidade entre o fornecimento total e circulante do WLD é preocupante com base no histórico de outros projetos, disse Tom Dunleavy, fundador da Alethia, um protocolo para conduzir padrões de transparência de token, ao Decrypt.

“A maioria dos tokens que têm uma pequena quantidade de distribuição ou uma grande capitalização totalmente diluída se mostraram alvos fáceis para liquidações rápidas”, disse ele. “A história dos airdrops, em geral, não tem sido favorável.”

Sadettin Kerim, gerente de produto de ativos digitais e pesquisador do Yapı Kredi, um banco comercial turco, disse ao Decrypt que “o acordo é uma vitória absoluta para os market makers (investidores)”, independentemente de pagarem os empréstimos em tokens ou optarem por comprá-los mais tarde.

“Se eles não enfrentarem uma grande demanda de mercado, eles facilmente baixarão o preço (vendendo o criptoativo) e depois comprarão de volta”, disse ele, acrescentando que é “dinheiro fácil para eles”.

Vitalik Buterin, criador do Ethereum (ETH), identificou quatro “grandes riscos” no design do Worldcoin: privacidade, acessibilidade, centralização e segurança.

Em uma longa nova postagem em seu blog, Vitalik argumenta que um sistema de proof-of-personhood (prova de personalidade) eficaz, como o Worldcoin, “parece muito valioso”, mas alerta que há grandes riscos na corrida para desenvolver um.

Vitalik Buterin não foi a única figura pública da indústria de criptomoedas a tecer críticas contra ao Worldcoin e seu sistema de verificação de identidade de pessoas.

Marc Zeller, fundador da Iniciativa Aavechan — relacionada ao protocolo Aave (AAVE) do qual ele também atua como fornecedor de serviços descentralizados — chamou a nova moeda de “praga”. Ele afirmou que irá ativamente excluir endereços que “a tocarem” de seus serviços.

https://twitter.com/lemiscate/status/1683399505880793088

Ki Young Ju, criador e analista da CryptoQuant, plataforma de análise on-chain, fez um comentário sarcástico sobre o sistema de escaneamento de íris do projeto.

“Worldcoin: Vou escanear a íris de todos no mundo, exceto para pessoas nos EUA, porque eles sabem que isso é ilegal!”, disse o empresário aos seus mais de 300 mil seguidores no Twitter.

Já nesta semana, reguladores europeus viram possíveis irregularidades no projeto. A raiz das preocupações está na parte do escaneamento da íris dos olhos dos investidores.

Reportagem da Reuters confirmou que o órgão regulador de privacidade da França, CNIL, já tem conhecimento sobre o projeto e que começou a investigar as operações do grupo e suas possíveis violações de privacidade.

“A legalidade desta coleta de informações parece questionável, assim como as condições para armazenar dados biométricos”, respondeu um representante da CNIL à Reuters. A entidade confirmou que também está apoiando o trabalho dos reguladores do estado da Baviera na Alemanha, que tem jurisdição sobre o tema.

Antes disso, os reguladores de dados da Grã-Bretanha já haviam adiantado que vão examinar de perto a Worldcoin. “Notamos o lançamento da WorldCoin no Reino Unido e faremos mais investigações”, disse na ocasião um porta-voz do Information Commissioner’s Office à Reuters.

Onde estão os Orbs?

A maioria dos Orbs são operados por uma rede de empresas locais independentes chamadas Orb Operators.

O Orb usa sensores multiespectrais para verificar a humanidade e a singularidade de cada indivíduo, “com todas as imagens excluídas imediatamente no dispositivo por padrão (ausente de consentimento explícito para a custódia de dados)”, segundo a equipe.

No Brasil, as empresas MaacHub, Akasa Itaim e o Club Co-working já possuem Orbs na capital de São Paulo, realizando ativações de novos usuários.

Orb da Worldcoin localizado em São Paulo, Brasil (Foto: MaacHub)
Orb da Worldcoin localizado em São Paulo, Brasil (Foto: MaacHub)

No site do projeto já são listados 18 países que possuem um Orb Operator pronto para auxiliar os usuários na criação de seu próprio World ID e entrada no ecossistema do Worldcoin (WLD).