“Rodrigo Marques, cadê os nossos bitcoins?”. A frase pode ser o grito de milhares de vítimas da Atlas Quantum, empresa que deu calote em investidores do bitcoin. Mas para o carioca Gilliard Jorge, de 37 anos, o tom é outro — ele quer juntar provas, depoimentos, levar o caso a emissoras de TV e depois seguir à praça dos três poderes, em Brasília (DF).
O primeiro passo ele já deu. Na quarta-feira (17), seguiu pela Estrada dos Bandeirantes até chegar no Recnov, complexo da Record TV que fica em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Lá, ele gravou algumas imagens e postou nas redes sociais. “Ele quer que a gente esqueça tudo o que ele fez com a nossa família”, diz um trecho do vídeo sobre o criador da Atlas.
Gilliard, que é investidor do ramo imobiliário, também produziu vários cartazes com a foto de Rodrigues Marques. Com material em mãos, conseguiu falar com funcionários da Record TV. Segundo contou à reportagem, a equipe “está filtrando as informações”.
Ele explicou que o jogo agora é conseguir apoio popular para acelerar a criação da CPI das criptomoedas, proposta por Ribeiro em outubro de 2019, para investigar fraudes e pirâmides no Brasil.
“Eu quero estar lá do lado do (deputado federal) Áureo Ribeiro, e estar buscando isso com ele”, afirmou Gilliard ao Portal do Bitcoin na tarde da quinta-feira (18).
Clientes da Atlas
Gilliard disse que também vai procurar pessoas dispostas a falar publicamente que têm dinheiro preso na Atlas. “É nisso que Rodrigo, os golpistas trabalham; as pessoas ficam com vergonha de aparecer. É isso que eu vou levar para Brasília”, afirmou.
Ele acrescentou que tem recebido ajuda dos próprios clientes da Atlas, do Brasil e de Portugal. “Fazem Pix pra ajudar a custear o material de gráfica, gasolina e alimentação na rua”, disse, acrescentando que “o grupo está bem unido e focado em expor o Rodrigo Marques”.
Na semana passada, o Jornal da Band revelou que investidores da Atlas estão oferecendo 10 bitcoins — cerca de R$ 2,8 milhões nesta data — para quem conseguir uma reunião presencial com Marques.
Caiu em dois golpes
Com a disparada no preço do Bitcoin nos últimos meses, a sensação de que se poderia estar bem financeiramente parece não se desprender das vítimas.
“Conheço gente que investiu na época R$ 1,5 milhão, e uma semana depois saiu o negócio da CVM e quebrou ele”, disse Gilliard. Ele se referiu ao ‘stop order’ da autarquia, que ocorreu em 2019, mas que mesmo assim a Atlas prosseguiu com a atividade irregular no mercado.
Gilliard admite que só aprendeu a operar com criptomoedas após cair no golpe da D9 Club, que começou a ser aplicado em 2017. Seu possível mentor, Danilo Santana, hoje em Dubai, está foragido da Justiça brasileira. No negócio, Gilliard havia aplicado R$ 70 mil.
Em 2018 surge a Atlas, com campanha nacional, inclusive em horário nobre da TV. Seus amigos, disse, estavam com seus pagamentos em dia e por isso acabou apostando nela também. Foram pequenos aportes, mas que somaram R$ 30 mil.
“Nao tinha nada de bônus de indicação. E a Atlas passava confiança, com atores globais e passando em horário nobre na Globo. Isso me deixava tranquilo”, explicou Gilliard.
Atlas Quantum
A Atlas Quantum, fundada pelo empresário Rodrigo Marques, não libera saques para investidores desde agosto de 2019. De lá para cá, a empresa até tentou se reerguer mas nada deu certo. A última tentativa foi uma nova plataforma chamda Phoenix, que também não surgiu efeito e, ainda por cima, transformou os bitcoins dos clientes em pó.
Só na Justiça de São Paulo a empresa responde a mais de 100 processos judiciais.